O infarto agudo do miocárdio (IAM) é uma das principais causas de morte cardiovascular no Brasil. Mas existe uma forma muitas vezes negligenciada: o infarto silencioso. Ele acontece quando há necrose no músculo cardíaco sem os sintomas clássicos, como dor intensa no peito. O problema é que a ausência desse sinal típico retarda o diagnóstico e reduz a chance de sucesso de intervenções médicas.
Segundo o cirurgião cardiovascular Élcio Pires Junior, coordenador de cirurgia cardiovascular da Rede D’Or, “do ponto de vista clínico, o grande problema é que o paciente não procura atendimento imediato, o que compromete a janela terapêutica para intervenções como angioplastia ou trombólise, aumentando consideravelmente a mortalidade”.
Sintomas que passam despercebidos
Em vez da dor torácica característica, o infarto silencioso pode se manifestar com sinais genéricos, como fadiga intensa, palpitações, sudorese fria, náuseas e tontura. Por serem sintomas comuns a outras condições, muitas vezes não são associados ao coração.
A fisiopatologia é a mesma do IAM clássico: obstrução de uma artéria coronária, geralmente por ruptura de uma placa de gordura e formação de trombo. O que muda é a forma como o corpo sinaliza o problema.
Quem corre mais risco
A ausência de dor costuma estar relacionada à neuropatia autonômica, condição que reduz a sensibilidade nervosa. “Indivíduos diabéticos representam uma população de altíssimo risco, pois a neuropatia reduz a sensibilidade e dificulta a interpretação dos sinais cardiovasculares”, ressalta Élcio.
Além dos diabéticos, idosos, hipertensos e pessoas com doença renal crônica também estão mais vulneráveis. Estudos internacionais indicam que até 45% dos infartos podem ser silenciosos, diagnosticados apenas em exames de rotina, como eletrocardiograma ou ressonância magnética cardíaca.
Diagnóstico precoce salva vidas
Exames preventivos são fundamentais para identificar alterações isquêmicas mesmo em quem não apresenta sintomas. “Exames como eletrocardiograma, teste ergométrico ou cintilografia miocárdica podem identificar alterações isquêmicas mesmo em indivíduos assintomáticos. O rastreamento ativo desses pacientes é estratégico para reduzir eventos adversos e óbitos evitáveis”, afirma o especialista.
Prevenção é o melhor caminho
Manter pressão arterial, glicemia e colesterol sob controle, além de adotar hábitos saudáveis, reduz significativamente o risco. O especialista reforça ainda a importância de acompanhamento clínico regular para quem já tem histórico de doenças cardiovasculares.
“O infarto silencioso evidencia uma lacuna na percepção dos sinais cardíacos, tanto pela população quanto em alguns fluxos de atendimento. Incorporar protocolos de rastreamento em grupos de risco é um passo fundamental para reduzir a mortalidade cardiovascular no país”, conclui Élcio.
Resumo:
O infarto silencioso ocorre sem dor no peito e pode passar despercebido, mas representa quase metade dos casos de infarto. Segundo o cirurgião cardiovascular Élcio Pires Junior, prevenção, exames regulares e controle de fatores de risco são as principais armas para reduzir mortes por essa condição.
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