“Sempre que vou ao médico, minha filha entra junto. Ela se preocupa com a minha saúde, eu sei, mas interfere demais e quase não me deixa falar. Como convencê-la de que estou velha, mas ainda não sou uma inútil?”
M. M., por telefone
Essa é uma questão comum e nos chama a atenção para duas coisas importantes: autonomia e independência. A autonomia é a
capacidade de tomar as decisões, e a independência é a habilidade de colocar tais decisões em prática. Se você tiver as duas condições preservadas e se sentir segura, diga à sua filha que espere do lado de fora. O médico pode ajudá-la com isso. Eventualmente, há coisas que o paciente gostaria de abordar de maneira reservada com o médico e não o fará na presença do familiar, mesmo que confie nele. É claro que isso só vale quando o paciente é capaz de fornecer as informações adequadamente. Mas, em condições normais, é importante também ouvir o outro lado. Às vezes, o acompanhante pode trazer informações pertinentes que o próprio paciente não percebe. Cabe ao médico perceber isso e tentar fazer a mediação. Agora, se o familiar prejudica mesmo o fluxo de ideias, é melhor que não participe da consulta. Ainda que não haja uma regra, o que deve ser priorizado, não só numa consulta geriátrica, mas em qualquer consulta médica, é o paciente. Esse deve ser o senso comum e isso deve ser mediado pelo médico. O foco deve estar no bem-estar do paciente!
Cada vez mais solitários…
Para muitos idosos, ter alguém para acompanhá-los ao médico e ajudá-los a levar adiante um tratamento faz toda a diferença.
Mas, infelizmente, nem todos têm essa possibilidade. Entre 1992 e 2012, última medição do IBGE, triplicou o número de idosos que vivem sozinhos. Antes, 1,1 milhão de pessoas acima dos 60 anos estavam nessas condições. Agora, são 3,7 milhões.
Dr. Paulo Camiz é geriatra e professor da Faculdade de Medicina da USP. É também idealizador do projeto “Mente Turbinada”, que desenvolve exercícios para o cérebro. Para ler outros artigos escritos por ele, acesse ogeriatra.com.br