Nos anos 1990, o HIV, sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana e causador da Aids, era pouco conhecido. Cercado de tabus e preconceitos, a doença fez inúmeras vítimas. Madonna não se esquivou da luta contra os estigmas, que cercavam, principalmente, a população LGBTQIAP+. A cantora, até os dias de hoje, fala sobre o assunto em seus shows, prestando homenagem às vítimas da doença.
Durante as apresentações da “Celebration Tour”, atual turnê que apresentará no Brasil neste sábado (4), espera-se que ela exiba fotos de amigos e personalidades que morreram de Aids. Entre eles, estão Renato Russo, Cazuza e Betinho. Relembre a história deles e de outras personalidades vítimas do vírus HIV.
HOMENAGEADOS POR MADONNA
Em seu show na praia de Copacabana no Rio de Janeiro, tudo indica que Madonna fará sua homenagem à Renato Russo, Betinho e Cazuza. Isso porque durante os testes da apresentação, surgiram imagens de personalidades brasileiras que morreram em decorrência da Aids.
Como é comum em seus shows a homenagem às vítimas da doença, especula-se desde então que eles serão lembrados pela Rainha do Pop. Relembre como foi a luta deles contra a Aids.
Vai ser lindo! Foto de Cazuza, Betinho e Renato Russo são projetadas nos telões durante os testes da Celebration Tour no Rio. A exibição será durante a performance de Live To Tell, onde Madonna presta homenagem às vítimas da AIDS. pic.twitter.com/UJwCW3FR0J
— Madonna Literal (@MadonnaLiteral1) May 2, 2024
Cazuza
O cantor e compositor Cazuza, considerado um dos maiores cantores do rock brasileiro, morreu jovem, aos 32 anos, vítima do HIV. Ele foi diagnosticado com a Aids em 1987, após uma crise de pneumonia, e assumiu a doença publicamente em fevereiro de 1989.
O artista, no ano que foi diagnosticado, chegou a fazer tratamento nos Estados Unidos. Mas, depois de mais uma viagem ao exterior em 1990, o cantor faleceu em julho daquele ano.
Após sua morte, a história de Cazuza segue viva na memória dos brasileiros e sua mãe, Lucinha Araújo, eternizou a luta do filho no livro “Só As Mães São Felizes”. Os pais do artista também fundaram a Sociedade Viva Cazuza, que luta por melhores condições de vida para crianças portadoras da doença.
Renato Russo
Cantor e compositor, Renato Russo ficou conhecido por ter sido o vocalista e fundador da banda de rock Legião Urbana. Ele morreu devido às complicações causadas pelo HIV em outubro de 1996, na época com 36 anos.
Segundo os amigos do cantor, ele contraiu a doença após se envolver com um rapaz que conheceu em Nova Iorque, portador da doença, em 1989.
Betinho
No ano seguinte, em 1997, a Aids fez mais uma grande personalidade brasileira vítima: o sociólogo Herbert de Souza, conhecido como Betinho.
Ele sofria de hemofilia, doença que impede a coagulação do sangue, e, por isso, precisava se submeter a transfusões de sangue regulares, e em uma dessas transfusões, acabou contraindo o vírus do HIV, em 1986.
Infelizmente, Betinho não foi o único na família a pegar a doença. O cartunista Henfil, seu irmão, também era hemofílico, e sofreu com a Aids.
No mesmo ano em que descobriu que estava com a doença, o sociólogo fundou e presidiu a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, com o objetivo de incentivar políticas públicas para o enfrentamento e prevenção da doença.
Símbolo de resistência, Betinho lutou bravamente contra a doença e costumava dizer que a condição de soropositivo o forçava a “comemorar a vida todas as manhãs”. Ele faleceu aos 61 anos, em 1997, já bastante debilitado pela Aids.
OUTRAS VÍTIMAS DA AIDS
Além de Cazuza, Renato Russo e Betinho, outras personalidades brasileiras também tiveram suas vidas interrompidas pela Aids, relembre a seguir.
Markito
Markito foi um dos estilistas mais conhecidos do Brasil. Entre o fim dos anos 1970 e o início dos anos 1980, ele vestiu diversas estrelas como Sônia Braga, Xuxa, Mila Moreira, Marília Gabriela, Diana Ross, Liza Minnelli e Farrah Fawcett.
O estilista foi a primeira figura pública do Brasil vítima da Aids. Sua carreira foi curta demais, pois ele morreu jovem, aos 31 anos de idade, em 4 de junho de 1983. Na época, a doença enfrentava um grande tabu, sendo chamada pelos jornais de “câncer gay”.
Sandra Bréa
A atriz Sandra Bréa, considerada um dos símbolos sexuais do Brasil nos anos 1970 e 1980, também foi uma das vítimas do HIV. Ela se consagrou como atriz na TV Globo por sua participação em novelas como ‘O Bem-Amado’, ‘Elas Por Elas’, ‘Ti-Ti-Ti’ e ‘Felicidade’.
A artista foi diagnosticada com a doença em agosto de 1993, mesmo ano em que assumiu publicamente que era portadora do vírus, o que a tornou um marco na luta contra a distriminação.
Como uma das consequências causadas pelo HIV, Sandra foi acometida com um câncer no pulmão. Ela faleceu em maio de 2000, pela metástase do câncer.
Cláudia Magno
A atriz Cláudia Magno marcou os anos 80, mas infelizmente foi outra vítima das Aids. Debilitada pela doença, ela não conseguiu completar sua última novela, ‘Sonho Meu’, que estreou em setembro de 1993 e ficou no ar até maio de 1994.
Isso porque, em dezembro de 1993, a atriz foi internada com sintomas de pneumonia dupla, que evoluiu para um quadro de infecção respiratória e posterior infecção generalizada. Cláudia morreu no dia 5 de janeiro de 1994, aos 35 anos.
Wagner Bello
O ator e maquiador Wagner Bello, conhecido por sua participação em ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, da TV Cultura, morreu precocemente, em 1994, aos 29 anos, devido a complicações causadas pela Aids. Em 2024, a morte do ator completa 30 anos.
Mesmo adoecido, Wagner seguiu interpretando o extraterrestre Etevaldo até o penúltimo episódio da série infantil. Após sua morte, no último episódio, colegas de elenco leram uma carta em cena justificando sua ausência: “Eu não posso ir ao castelo porque estou aqui, entre as estrelas, brincando”, dizia.
Lauro Corona
O ator Lauro Corona marcou a dramaturgia brasileira e morreu precocemente em 1989 aos 32 anos devido a complicações decorrentes do vírus da Aids.
Ele começou seu trabalho na TV Globo em 1977, no especial ‘Ciranda, Cirandinha’. Em novelas, sua estreia foi em ‘Dancin’ Days’, em 1978. No cinema fez sua estreia em 1982, no filme ‘O Sonho Não Acabou’, de Sérgio Rezende.
AIDS
Com tantas vítimas, pode-se dizer que há mais de 40 anos que os brasileiros temem o HIV e lutam contra a epidemia. Para conscientizar sobre a doença, o dia 1º de dezembro foi eleito como Dia Mundial de Luta contra a Aids.
Nos últimos dez anos, o Brasil registrou queda de 25,5% no coeficiente de mortalidade por Aids, que passou de 5,5 para 4,1 óbitos por 100 mil habitantes. Algo que se deve aos mecanismos de identificação, controle e prevenção do vírus HIV, processos feitos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Vale ainda destacar a importância do coquetel antiaids, uma combinação de medicamentos capaz de tornar o vírus indetectável no organismo, proteger o sistema imunológico e impedir que a pessoa infecte outras, lançado em 1996. Assim, graças ao trabalho da ciência, o HIV deixou de ser uma sentença de morte e passou a ser considerado uma doença crônica.
Porém, mesmo com os avanços, a contaminação ainda enfrenta uma série de preconceitos. Sendo conhecida por muito tempo como “doença gay”, termo utilizado em manifestações homofóbicas e anti-LGBT, somente 2020 em pessoas LGBTQIA+ puderam começar a doar sangue.
Isso porque, por muito tempo, pessoas da comunidade eram impedidas de fazer a doação, devido aos estigmas em relação às doenças sexualmente transmissíveis. A regra foi alterada no Brasil pelo Superior Tribunal Federal (STF) em decisão inédita.
Por isso, desde 1990, Madonna não se esquivou da luta contra esse preconceito. Para apoiar a comunidade e levar informação para a população, a cantora contratou dançarinos abertamente gays e criou uma campanha sobre o assunto. Além disso, continua até os dias de hoje falando sobre a questão e homenageando em seus shows as vítimas da Aids.