Você sabia que o coração do bebê, quando ainda está no útero, é diferente de quando ele nasce? Isso porque o órgão sofre algumas modificações durante a gestação, explica a cardiologista pediátrica Renata Isa Santoro.
Dentro do ventre materno, o coração tem uma estrutura chamada ducto arterioso, responsável por conduzir até 85% do sangue de um lado para o outro. “Caso a gestante consuma algo indevido, o mesmo pode sofrer consequências bem graves, podendo até levar à morte do bebê”, ressalta a especialista.
Por este motivo, é de extrema importância que as mamães fiquem atentas ao que consomem durante o período gestacional. E isso não vale só para alimentos, não! Os medicamentos também estão inclusos nessa lista.
Para se ter ideia do problema, o manual MSD aponta que mais de 50% das gestantes ingerem medicamentos, sejam eles com ou sem receita. Apesar do hábito corriqueiro, a cardiologista explica que esta atitude, quando feita sem o acompanhamento de um médico, é extremamente perigosa e pode acabar prejudicando o feto.
NADA INOFENSIVOS
Segundo Renata, consumir alguns medicamentos inadequados durante o período gestacional pode levar o ducto mencionado anteriormente à falência, aumentando o risco de morte do bebê.
Os aparentemente inofensivos anti-inflamatórios estão nesta lista, como é o caso da indometacina, diclofenaco e ibuprofeno, por exemplo. “Eles interferem nas paredes do ducto, restringindo o espaço e prejudicando seu funcionamento”, explica.
Quando isso acontece, e o bebê tem uma constrição do ducto importante, sendo orientada a retirada imediata da medicação que a gestante está fazendo uso. “Por exemplo: às vezes ela tomou um diclofenaco para dor nas costas, e imediatamente quando você interrompe o uso da medicação, entre 24 e 48 horas depois, o bebê volta a ter o ducto normal”, destaca a médica.
A cardiologista ressalta, porém, que quando o ducto não volta à sua normalidade, é preciso tomar providências: “Se a mãe fez o uso da medicação durante três dias e o ducto está quase fechado, o bebê já está com o coração em insuficiência cardíaca, a gente opta pelo parto, caso esteja perto dos nove meses de gestação.”
ALÉM DE REMÉDIOS, O QUE EVITAR?
Renata ressalta que, durante o terceiro trimestre da gravidez, é importante que as gestantes moderem o consumo de certos tipos de alimentos ricos em polifenóis, como chá verde, chá preto, de boldo, chimarrão e mate.
Essas substâncias, de fato, possuem muitos efeitos benéficos no organismo, mas o excesso de alimentos com alta concentração de polifenóis neste período pode exercer uma ação negativa no canal arterial do feto. Além dos já citados, café, suco de uva, chocolate amargo ou cacau em pó também devem ser evitados.
E a lista não para por aí! Alguns alimentos, como beterraba crua, alface, ameixas pretas e vermelhas, amora, maçã vermelha com casca, mamão, morango e suco de laranja integral, devem ser ingeridos com parcimônia.
Apesar disso, a cardiologista recomenda que a grávida tenha uma alimentação equilibrada e sem nenhum tipo de exagero. “A melhor dieta para a gestante é a que equilibrada proteínas carboidratos e gorduras saudáveis”, ressalta.
COMO SABER SE ESTÁ TUDO BEM?
De acordo com a cardiologista, existe um exame chamado ecocardiograma fetal, espécie de ultrassom rápido e indolor, para avaliar a situação do ducto arterioso e informar sobre possíveis problemas na estrutura.
Por fim, Santoro destaca que o contato frequente com o especialista é essencial. “É importante que a gestante converse e tire dúvidas com seu obstetra e não tome remédios sem o consentimento médico. Um cardiologista pediátrico pode atuar de forma conjunta com o obstetra nessa orientação, além de analisar o coração do feto com mais detalhes”, explica.
O PROBLEMA CONTINUA APÓS O PARTO?
A boa notícia é que, quando os bebês nascem, eles não precisam mais desse ducto. “Apesar de ser extremamente valioso dentro do útero, se torna totalmente desnecessário fora dele. Desta forma,quando o bebê nasce, acabou o problema”, afirma a médica.
Em uma situação assim, ela explica que a criança ficará em observação por um tempinho, pois o problema do ducto dentro do útero pode causar algumas lesões pulmonares.
“Mas quase todos ficam super bem e vão para casa sem a necessidade de uma cirurgia. Quando ela é necessária, são outros casos, como a cardiopatia congênita ou malformação do coração, o que não é o caso”, concluiu Renata.