O Ministério da Saúde decidiu incluir, a partir de abril, as gestantes e puérperas no grupo de risco para o novo coronavírus. De acordo com a pasta, elas são mais vulneráveis aos efeitos da doença no período de 45 dias após o parto.
Apesar de ainda não existirem estudos que comprovem a vulnerabilidade deste grupo, o órgão optou por redobrar a atenção com essas mulheres como uma forma de prevenção, visto que já houve um caso de morte no país.
A fisioterapeuta Viviane Albuquerque, de 33 anos, foi uma das vítimas do covid-19. Grávida de 31 semanas, ela morreu em 5 de abril em decorrência da doença, em Recife (PE). Por conta disso, precisou passar por uma cesárea de emergência e deu à luz um menino prematuro.
Antes do ocorrido, a pernambucana apresentou febre e tosse, e acabou sendo internada com Síndrome Respiratória Aguda Grave. O fato ocorrido com Viviane acendeu o alerta para este grupo, que precisa redobrar os cuidados para evitar a contaminação pelo vírus.
OUTROS TIPOS
A inclusão dessas mulheres no grupo de risco levou em consideração a ação de outros vírus já bastante conhecidos, como o H1N1, por exemplo. Em nota, o Ministério da Saúde afirmou:
“Estudos científicos apontam que a fisiopatologia do vírus H1N1 pode apresentar letalidade nesses grupos associados à história clínica de comorbidades dessas mulheres. Sendo assim, para a infecção pelo coronavírus, o risco é semelhante pelos mesmos motivos fisiológicos, embora ainda não tenha estudo específico conclusivo”.
O ginecologista e obstetra Geraldo Caldeira, que é membro da FEBRASGO – Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, concorda.
“No H1N1 tivemos várias grávidas que apresentaram casos graves, e foram para a UTI serem entubadas. Com o novo coronavírus não é muito diferente”, afirma.
Ainda de acordo com o médico, nove casos de gestantes infectadas pelo coronavírus na China foram inicialmente publicados. Depois, esse número subiu para 17 casos.
“No total, era um percentual muito pequeno. Hoje, contudo, já foram vários casos complicados nos Estados Unidos, na Inglaterra e, aqui no Brasil, já tivemos grávidas com quadro respiratório grave, de ter que ir para a UTI. Então, este é um grupo de risco”, afirma o médico.
PRINCIPAL PREOCUPAÇÃO
Segundo o especialista, o maior risco nas grávidas são para as que têm comorbidades, ou seja, que já apresentam alguma doença prévia.
“Diabetes gestacional, pressão alta, doença autoimune, aquelas que são asmáticas, que têm problemas pulmonares, que fizeram quimioterapia prévia, radioterapia… São pacientes do grupo de risco e precisam tomar cuidado”, alerta.
O ginecologista ressalta ainda alguns cuidados básicos que precisam ser tomados: ficar em casa e, se possível, usar máscara. “O uso individual é muito importante, diminui muito a transmissão do vírus. Se ela tiver que ir ao laboratório, ou fazer um exame, vá de máscara”, reforça.
SURGIRAM SINTOMAS, O QUE FAZER?
Caso a gestante ou puérpera apresente um quadro gripal leve, o especialista orienta a ficar em casa e, se puder, conversar com o médico de confiança para pedir orientação.
Contudo, alerta: “Se começar a apresentar febre persistente, falta de ar e tosse, aí ela tem que ir ao pronto-socorro atrás de atendimento e de um possível exame do coronavírus. Dependendo da falta de ar, essa mulher talvez precise até ficar internada”.
A COVID-19 PODE INFLUENCIAR NO PARTO?
Sim. O médico explica que, se a grávida apresentar um quadro grave, com necessidade de internação em UTI e, em alguns casos, ventilação mecânica, pode ser necessário realizar um parto prematuro. “Como começa a chegar menos oxigênio para o bebê, se faz necessário a antecipação do nascimento”, explica.
Caldeira, porém, diz que tudo vai depender do estado da paciente. Se estiver bem clinicamente, nada impede que seja realizado o parto no tempo esperado. “Caso esteja sem sintomas de cansaço ou muita falta de ar, ela pode até eventualmente ter um parto natural. Agora, se estiver com a saturação baixa de oxigênio, muito provavelmente esse parto vai acabar sendo via cesárea”, avalia.
A GRÁVIDA PODE PASSAR O VÍRUS PARA O BEBÊ?
Não existe, até o momento, nada comprovando que uma gestante infectada possa transmitir o vírus para o filho. São vários estudos em andamento, mas ainda nada confirmado.
“Quando é zica ou sífilis, por exemplo, temos a certeza de que vai acabar afetando o bebê no útero. Já em relação ao coronavírus, até agora não temos nada comprovado”, alerta o ginecologista.
E AMAMENTAR?
A recomendação do especialista é que as mães contaminadas pelo covid-19 mantenham certa distância de seus bebês e que o contato seja restrito somente a amamentação, mas sempre dando atenção especial às medidas de higiene.
“Se a mulher estiver positiva e sem sintomas, e o bebê negativo, ela vai usar máscara, higienizar as mãos e pode amamentar, evitando um contato prolongado, mas pode amamentar”, diz o médico.
Ele alerta, porém, que se a mulher estiver com sintomas mais graves, o recomendado é não amamentar o bebê diretamente, sendo melhor retirar o leite manualmente ou através de bombas de extração láctea bem higienizadas.
Deste modo, o recém-nascido poderá receber o alimento por outros meios, como os copinhos, por exemplo. “Lembrando que não tem vírus no leite. O perigo é contaminar a criança ao tossir e espirrar”, conclui o ginecologista.