O caso do fentanil contaminado abalou a Argentina e se tornou um dos maiores escândalos de saúde pública do país. Até agora, a Justiça contabiliza 87 mortes confirmadas, mas a imprensa local já fala em mais casos em investigação.
As primeiras suspeitas surgiram após pacientes hospitalizados receberem doses da substância para aliviar dores e, logo depois, desenvolverem infecções bacterianas graves. Apesar das mortes terem começado no fim do ano passado, apenas em maio deste ano médicos denunciaram irregularidades no medicamento.
Peritos identificaram que mais de 300 mil ampolas de fentanil clínico estavam contaminadas por bactérias resistentes, distribuídas a diferentes hospitais argentinos. Os lotes problemáticos teriam sido fabricados pelos laboratórios HLB Pharma Group e Ramallo, atualmente investigados pelas autoridades.
A trajetória de Leonel Ayala
Entre as vítimas está Leonel Ayala, de 38 anos, formado em Educação Musical. Criativo desde pequeno, ele ficou conhecido pela família por transformar até uma bola destruída em brinquedo, apenas com agulha e linha.
No entanto, sua história teve um fim trágico. Em março, após ser internado por dores abdominais, Leonel passou por complicações médicas que resultaram em pancreatite. Durante a recuperação no Hospital Italiano, em La Plata, recebeu doses de fentanil contaminado para aliviar a dor.
“Até 8 de abril ele estava bem, conversando e fazendo planos. Depois, a febre começou e os órgãos pararam de funcionar”, contou seu irmão, David Ayala. A infecção bacteriana avançou de forma tão rápida que, em poucas horas, Leonel não resistiu.
Familiares exigem justiça e mais segurança
O caso de Leonel não foi isolado. Ao menos oito pessoas morreram no mesmo hospital em um curto período, levantando suspeitas e dando início às investigações. Em um grupo virtual chamado Unidos pela justiça das vítimas do fentanil mortal, familiares compartilham relatos parecidos e pedem respostas.
“Meu filho entrou para tratar um problema de diálise e saiu morto após receber fentanil contaminado”, declarou Sandra Altamirano, outra mãe enlutada. Segundo ela, a ausência de rastreabilidade nos lotes de medicamentos aumenta ainda mais a angústia das famílias.
Além de cobrar punição aos responsáveis, os parentes pedem protocolos mais rígidos para evitar que tragédias semelhantes se repitam. Reuniões com líderes políticos já ocorreram no Congresso argentino, mas a sensação é de que a Justiça avança em ritmo lento.
Como o fentanil é usado em ambiente hospitalar
Embora seja lembrado muitas vezes por sua relação com o consumo ilegal em alguns países, o fentanil clínico é um analgésico potente, usado em cirurgias e tratamentos de dores intensas. Seu uso é restrito a hospitais e clínicas, justamente pelo risco de dependência e pela necessidade de controle rigoroso.
Na Argentina, a contaminação em larga escala levantou questionamentos sobre a fiscalização da produção e da distribuição desse tipo de medicamento. Afinal, sem registros adequados, ficou impossível identificar com precisão quais pacientes receberam as ampolas defeituosas.
Investigação segue em andamento
O juiz federal Ernesto Kreplak, responsável pelo caso, confirmou que bactérias como Klebsiella pneumoniae e Ralstonia pickettii foram encontradas nos frascos contaminados e nas vítimas. Ele já determinou a apreensão dos lotes suspeitos e colocou ao menos 24 pessoas sob investigação.
Apesar disso, familiares seguem mobilizados para pressionar por agilidade. “Queremos justiça, não só contra os laboratórios, mas em toda a cadeia de produção”, destacou Sandra Altamirano.
Resumo: O escândalo do fentanil contaminado na Argentina já deixou dezenas de vítimas fatais e expôs falhas graves na fiscalização de medicamentos. Entre as histórias, a de Leonel Ayala simboliza a dor de centenas de famílias que buscam não apenas justiça, mas mudanças efetivas para garantir a segurança de pacientes em hospitais.
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