É possível uma mulher passar os nove meses da gestação sem ter consciência de que está esperando um filho? Muitas pessoas não acreditam nesse tipo de história, mas AnaMaria descobriu que situações assim acontecem com bastante frequência.
Débora Paixão, de 24 anos, é um exemplo. Ela teve um aborto espontâneo e, nove meses depois, percebeu que ainda estava gerando o gêmeo do filho que perdeu. E o mais desesperador foi saber da notícia já quase na hora do parto.
“Fiz um teste em fevereiro de 2017 e deu positivo. Algumas semanas depois, sofri um aborto espontâneo e fui viver minha vida. Mas em outubro do mesmo ano, descobri que estava grávida de quase nove meses por conta de um ultrassom transvaginal que precisei fazer. A minha filha nasceu em novembro”, conta Débora.
COMO ASSIM?
A professora, que vive em São Paulo (SP), explica que, por conta de alguns cistos nos ovários e de um mioma no útero, sua menstruação sempre foi desregulada. Por isso, não se atentou a falta dela nos meses seguintes ao aborto espontâneo. Inclusive, lembra de até sentir cólicas junto com alterações de humor, mas não viu a barriga crescer.
Apenas dois dias antes do tal exame, alega ter sentido algo duro na parte inferior do abdômen. “Minha médica explicou que, muito provavelmente, eu estive grávida de gêmeos de placentas diferentes, sendo que um deles sofreu o aborto oito meses antes”, conta.
SUSTO
Outra que passou pelo susto de uma gravidez silenciosa foi contadora Thais Vitoriano, de 25 anos, que descobriu a gestação, veja só, na hora que entrou em trabalho de parto.
Ela tinha 17 anos na época, já estava separada do pai de sua filha havia seis meses e até namorava uma outra pessoa. No dia em que finalmente descobriu a gestação, Thaís começou a sentir dores muito fortes e foi levada até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
“Após fazer massagem na minha barriga, a médica percebeu que meu útero estava inchado, possivelmente com algo lá dentro. Depois de colher exames, ela colocou um sonar em cima de onde doía e ouvimos os batimentos”, conta.
Logo após, a especialista percebeu que ela já estava em trabalho de parto e foi aquela correria. “Dei entrada na Santa Casa de Ribeirão, às 03h40 da manhã, e logo constataram em mim anemia, pressão baixa e falta de ar”, conta Thaís, que precisou passar um mês internada para se recuperar da experiência.
A contadora revela que não sentiu os sintomas clássicos de uma gravidez, como enjoo e formação de barriga. Em sua visão, o ciclo menstrual também estava normal durante a gestação.
“Todos os meses ela descia e eu mal sentia cólicas. O médico me disse que não tive barriga pela posição em que minha filha estava: em vez de virada para baixo e de frente, ela estava de costas”, acrescenta.
A boa notícia das duas histórias é que os bebês de ambas nasceram saudáveis e continuam assim enquanto crescem.
POR QUE ALGUMAS MULHERES NÃO NOTAM A GRAVIDEZ?
Os sintomas de uma gestação até estão lá: muitas engordam, o bebê mexe e a menstruação some, mas como realmente não acreditam que estejam grávidas, essas mulheres não ligam uma coisa a outra.
Albertina Duarte Takiuti, chefe do Ambulatório de Ginecologia da Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica que os indícios mais frequentes são aumento das mamas, escurecimento dos mamilos, perda da cintura, aumento da frequência urinárias, mudanças de humor, tristeza sem explicação e muito sono, além da mulher sentir-se, de alguma forma, “diferente” em relação ao próprio corpo.
A ginecologista conta que, nos seus mais de 40 anos de profissão, viu muitos casos de pessoas que não perceberam que estavam grávidas até os quatro ou cinco meses de gestação. “Mas isso era mais comum há uns 20 anos, quando elas não eram tão atentas aos seus corpos e não possuíam tanto acesso à exames”, ressalta.
De acordo com a especialista, o que mais costuma confundir essas gestantes são os ciclos irregulares causados por problemas como ovários policísticos. Isso normalmente faz com que a menstruação demore de três a até seis meses para aparecer. “O atraso se torna normal e elas acabam não ligando os sintomas a uma gravidez”, explica.
No caso das mulheres mais velhas, muitas acreditam estarem entrando na menopausa. “Antes dela, ocorre o climatério, em que os ciclos atrasam de cinco a seis meses, outro ponto que as impede de acreditar que estão realmente grávidas”, diz Albertina.
NASCEU SEM PRÉ-NATAL. E AGORA?
Ao ter uma gravidez silenciosa, a mulher fatalmente acaba não seguindo alguns cuidados comuns ao início da gestação, fundamentais para detectar doenças e malformações no feto.
“Especialmente nos primeiros meses, o uso de antibióticos, drogas, antidepressivos e remédios para emagrecer devem ser evitados por conta dos riscos que podem trazer para a criança”, explica a ginecologista.
Como não conseguiu fazer nenhum tipo de acompanhamento, a mulher que passou por uma gravidez silenciosa precisa do apoio do obstetra e pediatra, além de familiares e parceiro. Justamente para evitar se sentir culpada ou ser julgada pela situação.
“Da mesma forma que a gravidez foi inesperada, as reações também serão, mas nada é mágico! Os vínculos com a criança são construídos lentamente e as pessoas em torno dessa mulher devem ajudá-la. Não se “vira” um botão e agora sou mãe”, acrescenta.