Após a reabertura gradativa do comércio em diversas cidades do Brasil, a discussão da volta às aulas em meio a pandemia do novo coronavírus acabou ganhando força. Segundo uma pesquisa Datafolha, publicada em 17 de agosto na ‘Folha de S.Paulo’, 79% dos brasileiros disseram acreditar que a reabertura de escolas no país agravará a pandemia.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, o regresso dos estudantes às salas de aula estava previsto para o dia 8 de setembro. O prefeito Bruno Covas, porém, já anunciou que isso não será possível, mesmo com o aval do governo do Estado.
A decisão foi tomada após um inquérito sorológico apontar que 64% dos estudantes entre 4 e 14 anos da rede municipal que tiveram a doença são assintomáticos. Este resultado, de acordo com Covas, indica que os alunos poderiam se tornar vetores de disseminação da doença e, desta forma, aumentar o número de casos na cidade.
Seguindo essa linha de preocupação, as escolas têm planejado a melhor forma de voltar a receber as crianças e adolescentes. É o caso do Colégio Rio Branco, localizado em Higienópolis, bairro de São Paulo (SP), que estabeleceu medidas de segurança cercada de muitos cuidados.
“Entendemos que a nossa competência técnica é pedagógica e educacional, sentimos que precisávamos ter apoio de uma equipe técnica de especialistas na área da saúde para nos apoiar. Nesse sentido, optamos pela parceria com um renomado hospital de São Paulo”, afirmou a pedagoga Valquiria Rodrigues, diretora assistente do colégio.
ESCOLAS PREPARADAS!
A escola Blue Sky, de São Paulo, adotou diversas medidas de segurança FOTO: Bruna Ventura
Ambientes bem higienizados, turmas reduzidas, carteiras mais afastadas, janelas abertas e nada de aglomerações. Esse é o cenário esperado nas escolas neste momento de incertezas.
Após o susto da suspensão repentina das aulas, esses estabelecimentos agora se preparam para a gradual volta dos alunos, dentro da ‘nova normalidade’. Mas será que é possível retornar com segurança?
Para Bruna Ventura, diretora Pedagógica da Escola de Educação Infantil Blue Sky, localizada no bairro do Morumbi, sim. Ela destaca que o local, que atende crianças de até 5 anos, já está preparado para recebê-los neste período.
“Nós adotamos novos protocolos de higienização para reabertura e para a retomada consciente e segura. Nossa escola é pequena e atendemos um número de crianças reduzido por sala de aula. Estamos investindo em consultoria com treinamentos, palestras e obras na escola para atender os nossos alunos com total segurança”, garante a profissional.
A especialista ainda explica que o colégio contratou consultoria com uma empresa pioneira na capacitação em primeiros socorros e prevenção de acidentes para profissionais que atuam na educação infantil. “Além disso foi desenvolvido um curso com conteúdo dialogado, baseado em estudos de caso de escolas de fora do país que já reabriram após a pandemia”, completa.
MUITOS DESAFIOS PELA FRENTE
Na escola, as crianças brincam juntas, se abraçam, podem mexer na máscara… Será que isso pode ser um problema? Valquíria diz que, de fato, este é um dos desafios na volta às aulas presenciais, já que, neste momento, evitar o contato muito próximo é o mais indicado.
“Quanto menor é a criança, maior a necessidade de contato físico entre elas e com os objetos que as rodeiam. Sabendo disso, o colégio tem se debruçado para atender as especificidades da faixa etária, bem como todos os protocolos de segurança para que nossos alunos possam finalmente voltar à rotina escolar”, explica a pedagoga.
O assunto é ainda mais complexo quando se trata dos pequenos, que têm mais dificuldade para entender o distanciamento. Acostumada a lidar com crianças, Ventura diz que essa nova adaptação será feita da maneira mais leve possível.
“Um acolhimento em um outro formato, respeitando os novos protocolos e sem assustar as nossas crianças, tudo de uma forma lúdica e segura. Faremos de forma teatral, musical, alegre e interativa, para que todos aprendam. Além, é claro, do engajamento de toda a equipe envolvida para que esse nosso novo formato seja eficaz “, completa a diretora pedagógica.
MAS SERÁ QUE ESTE É O MOMENTO IDEAL?
Na visão da infectologista Mireille Spera, do Instituto de Neurologia de Curitiba (PR), o melhor seria esperar mais um pouco, já que o retorno das aulas presenciais precisa ser baseado em dados epidemiológicos. “Estamos em estabilização dos casos, ainda é precoce colocarmos alunos em sala de aula”, afirma.
A médica acredita que o ideal é aguardar uma queda no número de casos nas próximas semanas. “Temos que lembrar que os estados da região Sul foram os últimos a serem afetados na pandemia, então não podemos ter pressa para não colocar em risco a população de crianças e jovens”, alerta.
No entanto, caso seja mesmo decretado o retorno, a especialista lista algumas medidas que devem ser adotadas:
“A redução do número de alunos por sala de aula, ambientes ventilados, limpeza e desinfecção das superfícies das salas, manter distanciamento entre os alunos, praticar higiene das mãos, fazer do uso de máscaras obrigatório e identificação precoce de sintomas”.
Segundo Spera, estes protocolos foram implementados em outros países, como na Dinamarca, Taiwan, Singapura e Noruega, com sucesso.
Medir a temperatura dos alunos também está entre as medidas de segurança adotadas pelas escolas FOTO: Bruna Ventura
PAIS PREOCUPADOS
A manicure Amanda de Melo Santos, que é mãe de duas crianças, compartilha da mesma opinião da médica: é preciso esperar mais um pouco para reabrir as unidades de ensino. Além disso, ela contou que ainda não se sente segura para mandar os filhos para a escola.
“De maneira nenhuma! Estamos vivendo um momento bem delicado e, na verdade, as crianças não saberiam lidar com isso. Com certeza não teriam a higiene necessária e nem ficariam de máscara o tempo todo”, avalia.
Para a médica, a preocupação de Amanda faz sentido. “Apesar das crianças apresentarem sintomas leves, alguns casos podem evoluir para forma grave, chamada de ‘síndrome inflamatória multissistêmica’, necessitando internação em Unidade de Terapia Intensiva”, explica a especialista.
REDE DE APOIO
Apesar da preocupação, que é bastante comum frente aos atuais acontecimentos, a direção das escolas estão cientes da insegurança dos pais. Por isso, desde o início da pandemia eles criaram um canal aberto de comunicação.
“Ao longo desse período, mantivemos contato com todas as famílias do colégio por meio de nossa equipe de orientação educacional. Além disso, compartilhamos as ações por meio de comunicados periódicos, incluindo pesquisa sobre férias e intenção de retorno às aulas presenciais”, explica Valquíria.
Na escola dirigida por Bruna não é diferente. Além de manter uma equipe acolhedora e aberta ao diálogo, ela faz questão de prestar o atendimento e apoio necessários às famílias dos alunos. “Fizemos atendimentos individuais e coletivos durante essa pandemia, ouvimos e nos adaptamos a realidade de cada um, estamos empenhadas em, juntos, passar por essa prova grandiosa, e todos de mãos dadas”, conclui a profissional.