Será que tomar banho depois do almoço faz mesmo mal? E chiclete fica sete anos no corpo? A gastroenterologista e hepatologista Claudia P. Oliveira, da clínica Atma Soma, ajuda a separar o que é mito e o que faz sentido quando o assunto é digestão.
Intestino saudável precisa funcionar todo dia?
Mito. Evacuar todos os dias não é um padrão universal. “O funcionamento intestinal normal pode variar bastante entre as pessoas, de três vezes ao dia até duas vezes por semana. O importante é estar atento a mudanças repentinas no padrão ou sintomas como dor e inchaço”, explica Claudia.
Banho após comer é perigoso?
Mito. O alerta pode ter vindo da época em que a digestão era um mistério. Segundo a especialista, não há problema algum em tomar banho depois das refeições. O que deve ser evitado são atividades físicas intensas, que desviam o fluxo de sangue para os músculos e atrapalham a digestão. Mas o banho, não! Ele está liberado!
Engolir chiclete entope o intestino?
Mito. Aquele medo antigo de que o chiclete “fica anos preso no corpo” é exagerado. “Ele não é digerido como os alimentos, mas passa pelo sistema digestivo e é eliminado naturalmente. Só em casos muito raros, o acúmulo de chicletes engolidos pode causar obstruções, especialmente se houver constipação associada”, esclarece a médica.
Pimenta causa úlcera?
Mito. A comida apimentada pode, sim, irritar quem já tem sensibilidade gástrica, mas não é a responsável por formar uma úlcera. De acordo com Claudia, as principais causas são o uso prolongado de anti-inflamatórios, o tabagismo e a infecção por Helicobacter pylori. Se não tratada, a úlcera pode se agravar.
Estômago roncando sempre indica fome?
Parcialmente verdade. O barulho que muita gente associa à fome tem até nome técnico: borborigmo. Ele pode, sim, indicar que o estômago está vazio, mas também pode acontecer em outras situações. “O som vem da movimentação de gases e líquidos nos intestinos — com ou sem comida presente. É um processo natural do trato gastrointestinal”, afirma a especialista.
Dormir mal faz mal ao intestino?
Verdade. Quem passa noites em claro não só fica mais cansado no dia seguinte, como também pode sofrer com desequilíbrios intestinais. “A privação de sono altera a produção de hormônios relacionados à fome e à saciedade, o que pode levar a escolhas alimentares inadequadas e impactar negativamente a microbiota intestinal”, alerta Claudia.
Iogurte ajuda o intestino a funcionar melhor?
Verdade. Além de ser um alimento leve e gostoso, o iogurte também pode ser um aliado para quem busca melhorar o funcionamento intestinal. “Por ser fermentado e rico em probióticos, ele contribui para o equilíbrio da microbiota e auxilia no trânsito intestinal. Vale optar por versões com menos açúcar e mais naturais”, recomenda.
Colonoscopia dói?
Mito. O exame assusta muita gente, mas a verdade é que ele pode ser bem tranquilo. “A colonoscopia é segura e pode ser feita com sedação, o que torna o procedimento mais confortável. O desconforto costuma estar mais relacionado à preparação do que ao exame em si”, explica a médica. A recomendação é realizar o exame a partir dos 45 anos como forma de prevenção do câncer colorretal.
Saúde digestiva é qualidade de vida
Segundo a Organização Mundial de Gastroenterologia, 20% da população global sofre com algum tipo de problema intestinal. E, mesmo assim, 90% não procura ajuda médica. “Cerca de 80% das células imunológicas vivem no trato gastrointestinal. Isso significa que manter o intestino saudável é também uma maneira direta de fortalecer o sistema imunológico”, reforça Claudia.
Entender o funcionamento do seu corpo, respeitar seus sinais e buscar orientação adequada pode evitar problemas sérios. E, sim, muitas vezes é melhor abandonar os velhos mitos de vez.
Resumo:
No Dia Mundial da Saúde Digestiva, especialista esclarece os principais mitos e verdades sobre o funcionamento do intestino, o impacto do sono, o papel da microbiota e os exames preventivos. Cuidar do sistema digestivo é também fortalecer a imunidade e a qualidade de vida.

Lígia Menezes
Lígia Menezes (@ligiagmenezes) é jornalista, pós-graduada em marketing digital e SEO, casada e mãe de um menininho de 3 anos. Autora de livros infantis, adora viajar e comer. Em AnaMaria atua como editora e gestora. Escreve sobre maternidade, família, comportamento e tudo o que for relacionado!