Você sabe o que é a endometriose? Segundo a Associação Brasileira de Endometriose, o problema afeta de 10% a 15% da população feminina brasileira em idade fértil (12 a 45 anos). Ou seja, em média, uma a cada dez brasileiras sofrem com a condição, inclusive figuras públicas. Anitta, Larissa Manoela, Tatá Werneck, Giovanna Ewbank e Wanessa Camargo são alguns exemplos de famosas diagnosticadas com a doença, inclusive, algumas delas já até passaram por tratamento cirúrgico.
Neste Março Amarelo, além de abordarmos os principais sintomas e as dificuldades enfrentadas por quem convive com a endometriose, exploramos suas consequências e as opções de tratamentos disponíveis. Para ajudar a compreender melhor esse tema, AnaMaria conversou com o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, médico associado à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
O QUE É ENDOMETRIOSE?
A endometriose é uma condição complexa em que o tecido endometrial, que normalmente reveste o interior do útero, é encontrado fora do útero, dentro da cavidade abdominal ou em outros órgãos. Esse tecido, mesmo estando fora do útero, ainda responde aos hormônios do ciclo menstrual, o que significa que ele cresce e descama como se estivesse dentro do útero.
Isso pode causar uma série de problemas, especialmente quando esse tecido descama e sangra, levando a sintomas dolorosos e desconfortáveis. De acordo com Alexandre, o local mais comum em que a doença é encontrada é na cavidade pélvica, ou sobre o ovário, no ligamento que conecta o útero ao osso sacro (ligamento útero-sacro), ou no peritônio, que é a membrana presente na cavidade abdominal e que envolve os órgãos internos, em pequenos aglomerados.
Quando esse tecido sangra para dentro do abdômen, pode causar sintomas característicos da endometriose, como dor intensa durante o período menstrual, dor durante a relação sexual (especialmente quando a endometriose está presente no ligamento útero-sacro), infertilidade, alterações no hábito intestinal ou urinário durante o período menstrual e distensão abdominal dolorosa.
“Com o tempo, a dor associada à doença pode se tornar crônica e persistente, piorando durante o período menstrual. Quanto aos fatores de risco, mulheres que vivem em ambientes urbanos mais poluídos, têm altos níveis de estresse, ansiedade, padrões de sono inadequados, dieta rica em alimentos ultraprocessados e fazem pouca atividade física têm maior probabilidade de desenvolver a condição. Essas características constituem o perfil típico das pacientes com a condição”, destaca o médico.
QUAIS OS SINTOMAS DA ENDOMETRIOSE?
De acordo com Alexandre, entre os sintomas mais comuns da endometriose, está a dor intensa durante o período menstrual, que geralmente começa um a dois dias antes do início do sangramento e persiste ao longo de todo o período menstrual. Essa dor é frequentemente descrita como uma cólica e afeta principalmente a região inferior do abdômen.
“Além disso, muitas mulheres com a doença experimentam dor durante a relação sexual, que é descrita como uma dor de profundidade, causando desconforto durante a penetração e muitas vezes exigindo mudanças de posição para aliviar a dor”, informa.
Outros sintomas incluem dor pélvica crônica, que tende a piorar durante o período menstrual, e alterações urinárias e intestinais que podem ocorrer durante o período menstrual ou quando a mulher está próxima da menstruação. Isso pode incluir dificuldade para urinar, dor ao urinar, constipação, diarreia e desconforto abdominal. Além disso, algumas mulheres podem experimentar inchaço abdominal durante o período menstrual.
É importante ressaltar que esses sintomas podem ser confundidos com desconfortos menstruais normais, mas a persistência e a intensidade dos sintomas são frequentemente maiores na endometriose. Se uma mulher estiver experimentando sintomas como estes de forma persistente e incapacitante, é importante procurar orientação médica para avaliação e diagnóstico adequados.
Veja em tópicos os principais sintomas da endometriose:
- Dor intensa antes e durante o período menstrual;
- Dor durante a relação sexual;
- Dor pélvica crônica;
- Alterações urinárias e intestinais;
- Inchaço abdominal.
QUAL É A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE DA ENDOMETRIOSE?
O diagnóstico precoce da endometriose é de suma importância para garantir um tratamento mais eficaz e menos invasivo. A doença é um processo inflamatório no qual o tecido endometrial, que normalmente reveste o interior do útero, cresce fora do órgão. Esse tecido pode sangrar e descamar dentro da cavidade abdominal, desencadeando uma resposta inflamatória que causa danos aos órgãos internos e aderências entre eles.
Ou seja, quanto mais avançada a endometriose, mais difícil se torna o tratamento cirúrgico, pois há maior formação de aderências. “A maneira de diagnosticar a condição é por meio da laparoscopia ou cirurgia, na qual os focos da doença são identificados e removidos para análise patológica”, explica Alexandre.
No entanto, é essencial que a paciente esteja ciente dos sintomas e os relate ao médico, que pode suspeitar da doença e solicitar exames complementares, como ultrassom transvaginal ou ressonância nuclear magnética. Esses exames ajudam a visualizar os órgãos internos e detectar possíveis sinais de endometriose.
É importante ressaltar que nem sempre a endometriose causa sintomas evidentes, e algumas pacientes podem ter a doença em estágios avançados sem apresentar desconforto. Portanto, o exame físico também é fundamental para detectar a doença, especialmente em mulheres que ainda não tentaram engravidar e podem descobrir a infertilidade como único sintoma.
“Assim, o diagnóstico precoce permite a intervenção adequada e o início do tratamento para melhorar a qualidade de vida da paciente”, acrescenta o médico.
QUAIS SÃO AS FORMAS DE TRATAMENTO DE ENDOMETRIOSE?
As opções de tratamento para mulheres diagnosticadas com endometriose variam de acordo com a gravidade dos sintomas e o objetivo reprodutivo da paciente. Alexandre informa que, quando a doença afeta os ovários, é importante ter cautela durante o tratamento cirúrgico, pois intervenções agressivas podem comprometer a reserva ovariana e dificultar a gravidez.
“Em alguns casos, é necessário planejar o tratamento de forma a preservar a capacidade reprodutiva da paciente, como realizar a coleta de óvulos antes da cirurgia”, explica o especialista.
O tratamento da endometriose pode ser clínico ou cirúrgico. Na abordagem clínica, são utilizadas medicações para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida da paciente. No entanto, é importante ressaltar que não há medicações disponíveis no mercado que possam curar a doença. Os medicamentos, como anti-inflamatórios e hormônios, visam apenas reduzir os sinais e sintomas da condição.
Por outro lado, o tratamento cirúrgico é realizado com o objetivo de eliminar todos os focos da endometriose presentes na cavidade abdominal e pélvica da paciente. “Essa abordagem visa tratar efetivamente a doença, removendo os tecidos afetados e proporcionando alívio dos sintomas a longo prazo. O tipo de tratamento escolhido dependerá da avaliação médica individualizada de cada paciente e de seus objetivos de saúde e reprodutivos”, explica Alexandre.
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QUALIDADE DE VIDA X ENDOMETRIOSE
A endometriose pode afetar significativamente a qualidade de vida das mulheres, tanto fisicamente quanto emocionalmente. A doença causa dor crônica e desconforto, impactando diversas áreas da vida das pacientes.
“Por exemplo, algumas mulheres sofrem com dor durante a relação sexual, o que pode prejudicar sua vida sexual e relacionamentos íntimos. Outras enfrentam dores intensas durante o período menstrual, levando a um alto nível de estresse e ansiedade antes mesmo da menstruação começar”, aponta o médico.
Além disso, a endometriose pode levar à perda de contato social e isolamento, afetando a vida profissional e pessoal das pacientes. Muitas vezes, as mulheres precisam faltar ao trabalho devido à dor intensa, o que pode prejudicar sua carreira e desencadear sentimentos de frustração e desesperança.
Para oferecer suporte às pacientes afetadas pela doença, Alexandre ressalta que é importante adotar uma abordagem multifacetada. Isso inclui promover uma alimentação saudável, melhorar a qualidade do sono, reduzir os níveis de estresse e dar apoio psico-emocional. Além disso, o aumento da atividade física pode ajudar a liberar endorfinas, promovendo relaxamento e bem-estar emocional.
Em casos mais graves, o ginecologista explica que um tratamento clínico para bloquear a menstruação pode ser uma opção para aliviar os sintomas imediatos. No entanto, em alguns casos, a cirurgia pode ser necessária para resolver definitivamente o problema da paciente, removendo os focos de da doença e proporcionando alívio duradouro dos sintomas.
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