Assim como ser bem-sucedida na carreira, ter filhos é o sonho de muitas mulheres. Contudo, nem sempre é possível conciliar ambos ao mesmo tempo, o que as levam, cada vez mais, a adiarem a maternidade.
Vale ressaltar que, aqui, cabem duas questões: os óvulos nascem (e envelhecem) conosco, o que acaba pressionando a mulher a engravidar no período mais fértil – que inicia na primeira menstruação e tem seu declínio a partir dos 35 anos.
E o outro ponto é complementar: fomos programadas para ter diversas gestações e o corpo acaba nos cobrando um preço pela mudança comportamental. É por isso que, atualmente, vemos cada vez mais diagnósticos de endometriose, uma doença que pode atingir até 15% das mulheres.
Mas o que significa sofrer desse mal? Paula Fettback, doutora em ginecologia e obstetrícia e especialista em infertilidade de alta complexidade, esclarece as questões a respeito e a melhor maneira de tratar a doença.
ENDOMÉTRIO
É a camada que reveste a área interna do útero, onde fica o embrião em uma gravidez. É submetido a mudanças hormonais a cada ciclo menstrual e, quando não há gestações, descama-se na menstruação, iniciando novo ciclo.
Ocorre que, em mulheres predispostas ou com muitas menstruações ao longo da vida (que nunca engravidaram ou não usam métodos hormonais de bloqueio), há maior possibilidade do tecido mudar ou se proliferar para a parte externa do útero ou mesmo para outros órgãos, como intestino, por exemplo. Essa mudança e a inflamação gerada por ela é o que chamamos de endometriose.
CAUSA E DIAGNÓSTICO
A exata causa da endometriose não é completamente conhecida e as teorias de mudança e proliferação tecidual são apenas hipóteses.
Quanto ao diagnóstico, nem sempre é simples. Um dos sintomas mais comuns é a cólica menstrual. A diferença que pode fazer com que haja a suspeita do problema costuma ser a intensidade da dor. Na endometriose tende a se tornar incapacitante, piorando progressivamente ao longo dos anos.
Além disso, outros sintomas envolvem alterações intestinais durante a menstruação, dor pélvica crônica ou dor ao urinar associada ao ciclo menstrual, para ter relações sexuais e infertilidade.
FATORES DE RISCO
De acordo com Geraldo Caldeira, ginecologista e obstetra membro da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), os fatores de risco são:
- Sistema imunológico deficiente.
- Começar a menstruar muito cedo.
- Nunca ter tido filhos.
- Ciclos menstruais frequentes.
- Menstruações que duram muito (sete dias ou além disso).
- Anormalidades no útero.
TRATAMENTO
Em primeiro lugar, procure o ginecologista. Só o especialista poderá avaliar o quadro e definir o melhor tratamento.
Em geral, os casos mais leves têm como opção terapêutica o uso de anticoncepcionais e outros métodos hormonais de bloqueio. Os mais graves podem exigir cirurgia com equipes multidisciplinares, mas a boa notícia é que são menos frequentes.
O uso de anticoncepcional pode ser, aliás, protetivo para a doença, desde que bem indicado e acompanhado pelo médico. Se não tratada, a endometriose é uma das principais causas de infertilidade feminina e incapacidade laboral. Por isso, deve ser encarada com seriedade.
O diagnóstico precoce é essencial para trazer de volta a qualidade de vida da mulher, além de preservar a fertilidade. Para isso, o ginecologista deve realizar exames clínicos, ultrassom intravaginal e ressonância magnética pélvica. É importante saber: não há prevenção.
MANTENHA O SONHO VIVO
Por fim, é válido ressaltar que o sonho da maternidade não precisa excluir uma carreira de sucesso. Hoje em dia, as gestações podem ser adiadas com maior segurança a partir de técnicas de congelamento de óvulos e, consequentemente, de fertilização in vitro.