Conhecido entre aqueles que desejam emagrecer, o efeito sanfona é o processo contínuo de engordar logo após perder peso. Aparentemente inofensivo e ligado apenas à mudança estética, esse fenômeno não é nada saudável e, inclusive, gera riscos para a saúde.
Uma pesquisa publicada no periódico americano New England Journal of Medicine comprovou que engordar e emagrecer o tempo todo aumenta o risco de problemas cardiovasculares e de morte prematura – especialmente entre pessoas que já apresentam fatores de risco para doenças do coração, como níveis altos de colesterol.
Segundo Georgia Zattar, médica especialista em medicina integrativa, performance e longevidade, o efeito ocorre por causade uma resposta do organismo a uma perda brusca de massa muscular. “Quando se perde peso, rapidamente perde-se também músculo e gordura, mas quando se recupera o peso, a pessoa ganha apenas gordura”, explica. “Essa condição faz com que o ganho de peso seja mais fácil do que a perda.”
Além disso, o efeito sanfona causa diversas transformações hormonais. “Quando perdemos peso e diminuímos nossa massa adiposa, temos a redução de um hormônio chamado leptina, que promove a saciedade e é diretamente proporcional ao tecido adiposo. A leptina também influi diretamente no funcionamento da tireóide e das gônadas. Por isso, o metabolismo fica mais lento e a fome aumenta na medida que vamos emagrecendo“, afirma.
Mesmo sendo um processo complexo, existem meios de evitar o efeito sanfona e garantir estabilização no peso corporal. O exercício físico e alimentação saudável são os melhores remédios para o sucesso a longo prazo. “É essencial definir um estilo de vida saudável e manter o foco e a persistência. Com aumento da atividade física e adequação alimentar, buscando sempre limitar as calorias e os horários das refeições, já é possível contribuir de 70 a 80% na perda de peso”, declara a médica.
Dietas milagrosas podem causar malefícios
A dieta restritiva é um fator importante no desenvolvimento dos transtornos alimentares. A busca por “dietas milagrosas”, quando há uma insatisfação corporal, leva o indivíduo a se submeter a grandes restrições de grupos alimentares e pode dar início a uma grave compulsão.
“Além das dietas restritivas, o uso de medicamentos ditos milagrosos também pode contribuir para efeitos indesejados, como a retomada de um alto ganho de peso após a interrupção do tratamento”, aponta Georgia. Ela ressalta que uma boa parcela desses problemas não aconteceria se o paciente tivesse um acompanhamento médico frequente.
“O apoio de um profissional da saúde é fundamental e o tratamento deve ser individualizado. A medicina integrativa, nesse caso, pode ajudar, por oferecer uma abordagem mais integral e abrangente”, indica. Na visão da especialista, um tratamento deste tipo levará em consideração os aspectos físicos, biológicos, sociais, ambientais, históricos, psicológicos, culturais e espirituais (no sentido de crenças) da paciente, visando um diagnóstico o mais acurado possível”.
Um alerta para os transtornos alimentares
De acordo com uma pesquisa realizada por cientistas da Unicamp, UFMG e Fiocruz, mais da metade da população adulta do Estado de São Paulo sente ansiedade ou nervosismo frequentemente desde que a pandemia do novo coronavírus começou. A pesquisa revelou que 39% dos entrevistados se sentem deprimidos ou tristes com frequência, enquanto 30% começaram a ter problemas de sono.
Atualmente, os distúrbios psicológicos acabam tendo impacto na manutenção do peso. Os transtornos alimentares, em geral, costumam ter como origens frequentes a ansiedade e a depressão. Assim, no contexto de pandemia, a obesidade se mostra super presente.
“Muitos pacientes obesos apresentam, inicialmente, um quadro depressivo ou ansioso, e evolui para um aumento de peso significativo, podendo chegar à obesidade mórbida. O Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico é um dos exemplos de como o consumo de alimentos em um curto espaço de tempo, geralmente com excesso de carboidratos, aumentam o peso corporal de forma significativa”, explica a especialista.
Obesidade e Covid-19
Segundo o relatório da Federação Mundial de Obesidade, o risco de morte pelo novo coronavírus é 10 vezes maior em países onde a maioria da população está acima do peso ou com obesidade. Vale lembrar que o Brasil está na 5ª posição no ranking mundial de sedentarismo e lidera o status na América do Sul, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). “Com o isolamento social, tivemos aumentos significativos nas taxas de sedentarismo, ansiedade e depressão. Isso também influencia no aumento de sobrepeso”, ressalta a médica.
“Para cada quilo perdido, geralmente é necessário um mês de estabilização. Ou seja, uma pessoa que emagreceu dez quilos deve manter-se com seu novo peso por, pelo menos, dez meses. A obesidade não é diferente das outras doenças crônicas, nas quais os tratamentos em curto prazo não alteram a biologia que as mantêm”, acrescenta.