A busca por uma alimentação mais saudável e equilibrada está aumentando a cada dia. Afinal, é daí que vem os principais combustíveis para o organismo. Muitos, inclusive, passaram a dar atenção ao rótulo dos alimentos no momento das compras no supermercado. Tal atitude é algo fundamental para uma pessoa com doença autoimune, condição em que o sistema imunológico do corpo ataca células saudáveis.
Para a nutricionista Caroline Maretto, da Clínica Aguilera (São Paulo), boas escolhas alimentares junto de um contexto saudável de estilo de vida têm a capacidade de reduzir inflamações e ajudar a conquistar o controle deste tipo de doença.
Entretanto, é preciso ligar o sinal de alerta ao se deparar com alguns pratos – bem saborosos, em sua maioria. Afinal, quem resiste ao leite acompanhado de um pãozinho no café da manhã? E aquele doce na sobremesa do almoço? Difícil evitar, não é mesmo? Mas em alguns casos, é necessário dizer ‘não’, pois estes são exemplos de alimentos bastante inflamatórios e que podem fazer muito mal para quem tem doença autoimune.
“Toda escolha alimentar conta. Se a alimentação é sempre baseada em farináceos, açúcar, gordura trans e hidrogenada, excesso de sódio e baixa em fibras e antioxidantes, é o combo perfeito para ocasionar e aumentar inflamações”, alerta a nutricionista.
ALIMENTOS QUE INFLAMAM
É possível controlar os sintomas típicos da doença autoimune e melhorar a qualidade de vida com algumas adaptações na dieta. Caroline explica que é na alimentação que o tratamento começa – ou, pelo menos, deveria começar.
Inicialmente, é importante retirar os alimentos que têm a capacidade de aumentar as proteínas da inflamação e oferecer bons nutrientes para o corpo conseguir voltar ao seu estado saudável. “Além de ‘excluir’ alguns alimentos, é importante ‘incluir’ nutrientes”, destaca.
Segundo a nutricionista, alguns alimentos, por serem de difícil digestão, podem aumentar proteínas inflamatórias. São eles:
•Glúten: proteína encontrada principalmente no trigo, centeio, cevada, malte e aveia.
•Caseína: proteína encontrada no leite de vaca e em produtos elaborados com leite de vaca.
•Embutidos: presunto, mortadela, peito de peru, salsicha, linguiça, nuggets.
•Gordura vegetal hidrogenada: encontrada em biscoitos, sorvetes, salgadinhos, frituras e empanados.
•Açúcar: eles são uma delícia, mas podem sensibilizar o intestino, causar desconfortos (gases, dores, coceira, alergias, enxaqueca, cólicas, diarreia, constipação, vômito), além de alteração na digestão e, como consequência, diminuir a absorção de vitaminas e minerais.
Maretto lembra que a alimentação no tratamento deve ser baseada em comida de verdade, sem industrializados e que favoreça a boa digestão.
‘VILÕES’ NA DIETA?
De certa forma, sim. Uma pessoa que possui doença autoimune tem uma maior inflamação e uma digestão que precisa de muitos cuidados. Neste caso, alimentos que não facilitam este processo podem, sim, ajudar a piorar o quadro dessa pessoa e precisam ser evitados na rotina alimentar.
Caroline destaca, porém, que estabelecer alimentos como ‘vilões’ ou ‘mocinhos’ gera muita confusão e medo na cabeça dessas pessoas, já acostumadas a se sentirem muito perdidas no tratamento: “O que elas precisam é de um caminho mais leve e alimentação simplificada”, recomenta.
O QUE COLOCAR NO PRATO?
Ao contrário dos alimentos citados anteriormente, alguns podem trazer uma série de benefícios para pessoas com doença autoimune, inclusive, ajudando a ‘desinflamar’. Dentre os mais potentes, a nutricionista destaca:
– Azeite, abacate, coco, óleo de coco, nozes, castanhas, amêndoas, semente de girassol e de abóbora: ricos em magnésio, selênio, cálcio e complexo B.
– Frutas como kiwi, frutas vermelhas, abacate, açaí, mamão são ricos em antioxidantes, vitamina A, vitamina C e vitamina E, super importantes para diminuir os radicais livres.
– Vegetais verde escuros (agrião, brócolis, rúcula, almeirão, chicória) são muito benéficos e ricos em vitamina A e vitamina C, magnésio e ajudam muito a nutrir boas bactérias intestinais.
– Especiarias como a cúrcuma, gengibre e canela são antiinflamatórias e digestivas (podem ser consumidas em forma de chás ou na própria comida).
CUIDE BEM DO INTESTINO
Pode parecer novidade para alguns, mas o intestino tem forte influência nas doenças autoimunes. O órgão é de suma importância para a imunidade, digestão e funcionamento de todo o organismo.
Caroline explica que ele é responsável por filtrar e identificar o que é tóxico ou não para o corpo, recrutar anticorpos para lutar contra agentes infecciosos, funcionando ainda como alojamento para boas bactérias intestinais que fabricam substâncias anti-inflamatórias.
“O bom funcionamento intestinal garante uma tireóide saudável, bom metabolismo, fertilidade, saúde cardiovascular e sistema imunológico equilibrado”, garante a nutricionista.
TEM TIREOIDITE DE HASHIMOTO? ATENÇÃO!
A Tireoidite de Hashimoto faz parte do grupo de doenças autoimunes que acontece devido ao desequilíbrio do sistema imunológico, que acaba atacando a tireoide e, muitas vezes, diminuindo sua função.
Para quem sofre com os sintomas da doença, Caroline sugere ter cuidado com alguns alimentos como glúten, estimulantes, cafeína em excesso, soja, amendoim, bebida alcoólica, industrializados, adoçante artificial e açúcar. Todos eles podem interferir no funcionamento do intestino e da tireoide.
“Prefira sempre uma alimentação colorida, natural e variada. E não se preocupe com o brócolis ou suco verde, e o mito de que prejudicam a tireoide. Para isso acontecer, você teria que comer quilos e quilos de vegetais. Ou seja, coma de forma equilibrada e está tudo bem”, garante.
Ela ainda orienta a deixar de molho por pelo menos 48h e cozinhar bem grãos como feijão, grão de bico e lentilha, a fim de diminuir os fatores antinutricionais e melhorar a digestão.
SINAIS DE INFLAMAÇÃO… COMO PERCEBER?
A inflamação acontece quando o corpo tenta lutar contra algo estranho e que pode prejudicar o bom funcionamento dele. Os sinais de um corpo inflamado são diversos e devem ser observados, como aponta a nutricionista:
“Dores articulares, dores abdominais/intestinais, diarreia, rinite, sinusite, dermatite, alergias, mau funcionamento intestinal, queda de cabelo, candidíase de repetição, fadiga, insônia, gases, unhas enfraquecidas, enxaqueca e depressão são alguns dos sinais de que há inflamação”.
Ou seja: o corpo vai enviando sinais para que você perceba que algo não vai bem. Além disso, sintomas recorrentes precisam ser tratados. “Sempre se auto observe e procure auxílio para o tratamento correto.”, sugere Caroline.
SHOTS DA IMUNIDADE FUNCIONAM?
Vez ou outra, nas redes sociais, é possível encontrar alguém que não abre mão do ‘shot da imunidade’, que nada mais é que é a junção de especiarias para concentrar antioxidantes, compostos antiinflamatórios, reguladores de saciedade e energia ao longo do dia.
Os shots de imunidade fornecem uma combinação de ingredientes naturais e concentrados com o objetivo de auxiliar o bom funcionamento do sistema imunológico. Eles são fonte de nutrientes, vitaminas, minerais e antioxidantes.
A bebida, além de reforçar o sistema imunológico, ajuda a proteger de doenças, infecções e inflamações. E sim, eles realmente funcionam, pelo menos é o que garante a nutricionista.
“Um exemplo muito eficiente para dores e inflamação é usar: 1 pitada de cúrcuma em pó, uma pitada de canela em pó e 1 colher de chá de gengibre ralado. Juntar com caldo de 1 limão e beber pela manhã em jejum para potencializar o efeito. O sabor é forte, mas o benefício é valioso”, afirma.
Traduzindo para o português, a palavra ‘shot’ significa ‘dose’. Deste modo, shot é uma pequena dose de bebida concentrada que deve ser consumida em apenas um gole. Então, que tal separar os ingredientes e já dar aquele ‘up’ na imunidade?
PEQUENAS MUDANÇAS, GRANDES RESULTADOS
Mudar os hábitos, principalmente em relação à alimentação, não é uma tarefa fácil. Mas a partir do momento em que essas pequenas alterações são feitas, o corpo já vai conseguindo trabalhar melhor.
A especialista diz que cada pessoa tem um tempo para desinflamar, o importante é persistir e manter os bons hábitos para que o organismo ache o ponto de equilíbrio, saúde e a possibilidade de controlar a doença autoimune.
“Além das mudanças alimentares, as doenças autoimunes são muito dependentes de bons hábitos de vida. Boas noites de sono, gerenciamento do estresse, ansiedade, emoções, se hidratar muito bem, manter prática de atividade física e usar medicamentos/suplementos necessários vão ajudar muito nessa caminhada pela busca do controle da doença (remissão). Não deixe de procurar ajuda”, conclui Caroline.