Hoje é o Dia do Orgulho Autista, data que valoriza a diversidade neurológica e chama atenção para os direitos, talentos e experiências únicas das pessoas dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Segundo o CDC, órgão de controle de doenças dos Estados Unidos, 1 em cada 36 crianças é autista, o que mostra como o espectro é muito mais amplo e comum do que se imaginava.
Com mais informação disponível, é cada vez mais frequente que adultos recebam o diagnóstico apenas depois de anos convivendo com traços do TEA sem saber nomeá-los. É o chamado diagnóstico tardio, que costuma acontecer após o nascimento de um filho, um processo terapêutico ou mesmo pela exposição a conteúdos informativos sobre o tema.
Famosos que descobriram o autismo na vida adulta
Alguns nomes conhecidos do público já revelaram estar dentro do espectro. A atriz Leticia Sabatella, por exemplo, contou em 2023 que foi diagnosticada aos 52 anos.
Bella Ramsey, que deu vida à protagonista de “The Last of Us”, também recebeu o diagnóstico recentemente e disse ter sentido alívio por entender melhor quem é.
A ativista sueca Greta Thunberg, um dos maiores nomes mundiais na luta ambiental, também está no espectro – e fala com orgulho sobre isso.
Anthony Hopkins, premiado ator de “O Silêncio dos Inocentes”, foi diagnosticado por volta dos 70 anos.
O rapper Kanye West também afirmou, em entrevista, que recebeu diagnóstico de autismo tardio após buscar uma nova avaliação médica.
Já a atriz Tallulah Willis, filha de Bruce Willis e Demi Moore, compartilhou em suas redes sociais como o diagnóstico ajudou a ressignificar suas experiências.
Por que tanta gente só descobre na vida adulta?
De acordo com o psicólogo Damião Silva, especialista em transtornos do neurodesenvolvimento, muitas pessoas adultas começam a desconfiar que estão no espectro após observar traços parecidos nos filhos. “O diagnóstico tardio pode trazer desafios emocionais, mas também é uma oportunidade de autoconhecimento e acolhimento”, explica.
Entre os sinais mais comuns estão a dificuldade de interação social, hiperfoco em temas específicos, sensibilidade a ruídos e estímulos, e cansaço com interações sociais.
“São pessoas que, por muito tempo, aprenderam a ‘mascarar’ suas dificuldades, o que retarda a identificação do transtorno”, complementa o psicólogo.
O que dizem os especialistas
A psicóloga Nathalie Gudayol, que atua há mais de 12 anos com neurociência, explica que adultos autistas muitas vezes desenvolvem estratégias para se adaptar a ambientes sociais.
“O problema é que esse esforço constante para se encaixar pode gerar um desgaste emocional significativo”, alerta. Para ela, reconhecer esses sinais é fundamental para que a pessoa possa receber o suporte adequado e desenvolver uma relação mais respeitosa consigo mesma.
Já o psiquiatra Iago Fernandes, pós-graduado em TEA, destaca que o problema não está na capacidade das pessoas autistas, mas sim na falta de preparo das organizações.
Ele, que também é autista e tem diagnóstico de TDAH, afirma: “Muita gente acha que contratar um autista é inclusão. Mas, se essa pessoa precisa mascarar quem ela é ou vive em silêncio por medo de parecer ‘estranha’, isso é só um novo tipo de exclusão – agora com crachá”.
A crítica dele também passa pelos ambientes corporativos: barulho excessivo, reuniões inesperadas, interrupções constantes e a falta de instruções claras podem se tornar verdadeiras armadilhas para quem precisa de previsibilidade. “Isso não é limitação, é apenas uma forma distinta de perceber o mundo”, resume.
Um novo olhar sobre o autismo
O Dia do Orgulho Autista é um convite para repensar preconceitos, ampliar a escuta e valorizar a neurodiversidade. Mais do que reconhecer limitações, é hora de celebrar maneiras diferentes de viver, perceber, se comunicar e aprender.
Seja com um diagnóstico na infância ou na vida adulta, o autoconhecimento pode ser um divisor de águas – e o início de uma vida mais leve, autêntica e respeitosa.
Resumo:
O Dia do Orgulho Autista, celebrado em 18 de junho, reforça a importância do acolhimento e do autoconhecimento. Famosos como Leticia Sabatella, Anthony Hopkins e Bella Ramsey descobriram o diagnóstico na vida adulta, ajudando a desmistificar o tema. Especialistas explicam como o TEA pode passar despercebido e por que reconhecer os sinais é essencial.