Vídeos de crianças fazendo uma brincadeira chamada ‘desafio da rasteira’ – ou ‘quebra crânio’ – começaram a circular pelas redes sociais recentemente. As gravações mostram um garoto pulando enquanto outros dois passam a perna por baixo, fazendo com que ele automaticamente caia, batendo a coluna e a cabeça no chão.
Aparentemente, a maioria das vítimas não sabe que será derrubada e os colegas fazem na intenção de rir com o choque da queda.
Os registros retratam uma atitude comum entre jovens ao redor do mundo, que se arriscam com o objetivo de ficarem populares na internet. No entanto, poucos deles têm noção das ameaças que este tipo de brincadeira traz para a saúde, além da chance de se tornar uma fatalidade.
Foi o que aconteceu em novembro de 2019, com uma jovem de 16 anos em Mossoró (RN). Na ocasião, Emanuela Medeiros sofreu um traumatismo craniano e não resistiu aos ferimentos causados pelo movimento.
De acordo com o neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, colunista do programa ‘Aqui na Band’, esse tipo de queda está longe de ser uma brincadeira, e pode provocar lesões irreversíveis ao crânio e encéfalo, além de danos à coluna vertebral. “A criança que sofre com essa brincadeira pode ter seu desempenho cognitivo afetado, ter a mobilidade abalada ao fraturar vértebras e até morrer”, alerta o médico.
AnaMaria Digital conversou com especialistas para os pais entenderem melhor os riscos e saberem como orientar seus filhos a não praticarem brincadeiras que coloquem suas vidas em perigo.
PRINCIPAIS LESÕES
Além das já mencionadas, outros tipos de lesões graves podem acontecer. Segundo Adriano Scaff, neurocirurgião do Hospital Esselense, em Ribeirão Preto (SP), existe a possibilidade da pessoa ter um traumatismo no tórax, na região posterior, tanto lesionando a coluna quanto tendo problemas pulmonares após o impacto.
“Pode ainda resultar em uma perfuração, acumulando gás ou sangue dentro da cavidade torácica e prejudicando o sistema respiratório”, esclarece. O profissional ainda reforça que se o trauma for na região alta da medula cervical, a pessoa pode também morrer por insuficiência respiratória.
DIÁLOGO SEMPRE
Ao conversar sobre o assunto com os filhos, não há necessidade de mostrar os vídeos para as crianças. Isso é o que explica Gabriela Malzyner, professora de psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos, em São Paulo (SP).
“Uma conversa vale mais que imagens. É importante produzir reflexão porque dessa vez é desta brincadeira que estamos falando, daqui um tempo será outra. Mais importante do que enfatizar apenas este vídeo, é que todos identifiquem as cenas de riscos e deixe claro que isso é inadmissível”.
Para os pais que desejam limitar a influência dos amigos, a especialista ressalta que é importante fazer a criança ganhar consciência crítica, no sentido dela própria saber que aquilo não é correto e não fazer, além da consciência em conjunto ser fundamental.
PAPEL DA ESCOLA
Além da conversa em casa, é primordial que a instituição de ensino oriente os alunos sobre a gravidade do fato.
“O limite da nossa diversão está quando isso implica dor, sofrimento ou risco para outra pessoa. Desse modo, tudo que rompa esses princípios deixa de ser uma brincadeira”, aponta Malzyner.
O QUE FAZER CASO ACONTEÇA?
Scaff afirma que algumas lesões têm consequências imediatas no corpo e que a criança deve ser socorrida.
Caso a pessoa que tenha sofrido o impacto apresente algum dos seguintes sintomas, ela deve ser levada ao pronto-socorro ou atendimento médico urgente.
- Dor de cabeça;
- Náusea;
- Vômitos;
- Mal-estar;
- Falta de ar;
- Alteração na movimentação ou formigamento do corpo.