Afinal, criatividade é algo que nasce com a pessoa ou pode ser desenvolvida? Muitos acreditam que essa habilidade é um dom exclusivo de gênios e artistas, mas especialistas apontam que o contrário: ela pode ser estimulada por qualquer pessoa, em qualquer fase da vida.
Entretanto, dados recentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram um cenário preocupante no Brasil: mais da metade dos estudantes de 15 anos apresenta baixo nível de criatividade ao resolver problemas sociais e científicos em uma avaliação de nível internacional.
O psicólogo Emerson Marques, do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas ‘Dr. João Amorim’, destaca que fatores como estresse, ansiedade e falta de estímulo dificultam o florescimento dessa capacidade. “Entre os principais obstáculos estão o medo de falhar e o perfeccionismo”, acrescenta.
“Para superá-los, é essencial adotar uma postura curiosa e flexível, reconhecendo que os erros fazem parte do processo. Além disso, um ambiente acolhedor e livre de julgamentos é fundamental para permitir que a criatividade flua naturalmente”, destaca o especialista.
O que é criatividade e como ela se manifesta?
Embora muitas vezes associada a campos artísticos, a criatividade vai muito além da produção de obras de arte ou inovações científicas. Ela envolve flexibilidade cognitiva e emocional, a capacidade de conectar ideias, adaptar-se a situações novas e encontrar soluções originais para problemas diversos.
“Ser criativo é, sobretudo, uma habilidade humana de adaptação. Vai desde encontrar uma maneira diferente de organizar a casa até resolver problemas complexos no trabalho. Não existe um único formato para ser criativo”, explica Marques.
A criatividade pode aparecer em várias formas: na arte, na cozinha, na comunicação, ou até na forma como uma pessoa enfrenta adversidades. Segundo o especialista, o mais importante é reconhecer e valorizar as diversas manifestações dessa habilidade, sem se prender a padrões.
Quais os principais obstáculos para ser criativo?
Apesar de ser uma capacidade inata a todos, muitos fatores podem bloquear o potencial criativo, como:
- Medo de falhar: o receio de errar faz com que muitas pessoas evitem experimentar coisas novas.
- Perfeccionismo: a busca constante por um padrão ideal pode travar a expressão criativa.
- Rotinas monótonas: a ausência de estímulos diferentes inibe a flexibilidade mental.
Ainda assim, ele afirma que a criatividade não só pode, como deve, ser estimulada para promover o bem-estar e a resolução de desafios do dia a dia. Para superar essas barreiras, é essencial adotar uma postura curiosa e aberta ao aprendizado.
“Quando a criatividade está bloqueada, podem surgir sentimentos de frustração e desânimo, além de uma tendência a evitar novas experiências e a se conformar com rotinas monótonas. Dessa forma, trabalhar essa habilidade não é só teoria, é realmente importante para o ser humano”, explica Emerson.
Como estimular a criatividade em diferentes idades?
Trabalhar a criatividade não precisa ser um processo complexo. Em qualquer fase da vida, pequenas ações podem fazer a diferença:
- Na infância
- Brincadeiras inventivas: jogos que incentivem a criação de histórias ou a construção de objetos ajudam no desenvolvimento cognitivo e emocional.
- Arte e desenho: atividades manuais despertam o senso criativo e melhoram habilidades motoras.
- Incentivo à curiosidade: permitir que a criança explore novos lugares, objetos e situações estimula a imaginação.
- Na adolescência
- Projetos criativos: incentivar os jovens a produzir vídeos, fotografias ou escrever pode ajudar na expressão de ideias.
- Exploração de hobbies: atividades como tocar um instrumento, dançar ou participar de grupos de debate ampliam a capacidade criativa.
- Contato com novas culturas: viagens e leituras diversificadas expandem horizontes.
- Na vida adulta
- Escrita livre e culinária experimental: essas práticas ajudam a sair da rotina e desafiam o cérebro.
- Cursos e hobbies: aprender algo novo, como cerâmica ou jardinagem, renova a motivação e a capacidade de inovar.
- Momentos na natureza: desconectar-se do cotidiano digital e interagir com o ambiente natural promove relaxamento e insights criativos.
- Na terceira idade
- Artes e artesanato: pintura, crochê ou organização de álbuns de fotos estimulam o cérebro e criam conexões emocionais.
- Socialização: interações em grupos, como aulas de dança ou encontros literários, mantêm a mente ativa e aberta a novas ideias.
- Cuidado com o corpo e a mente: práticas como yoga e meditação contribuem para a clareza mental e a inspiração.
“Incorporar atividades criativas na rotina ajuda a aliviar o estresse e fortalecer a autoestima. A criatividade pode ser terapêutica, criando um espaço de autoexpressão que é benéfico em todas as etapas da vida”, finaliza o especialista.