Atualmente, a internet oferece um vasto oceano de informações, com uma quantidade quase ilimitada de conteúdos ao nosso alcance. No entanto, grande parte desse material é superficial e frequentemente sem valor real.
O consumo excessivo de conteúdos triviais, como memes, vídeos virais e notícias sensacionalistas, está se tornando cada vez mais comum e tem contribuído para um fenômeno conhecido como “brainrot”. Por isso, AnaMaria conversou com a psicanalista Gisele Hedler, que nos explica melhor sobre esse distúrbio.
O que é o brainrot?
Brainrot é um termo popular para descrever um estado de fadiga mental intensa e contínua, geralmente causado pelo consumo excessivo de informações digitais. Embora não seja um termo técnico, ele ajuda a ilustrar a sensação de sobrecarga mental que resulta do fluxo constante de conteúdos em redes sociais, notícias e entretenimento online.
“No curto prazo, a sua capacidade de concentração é afetada, você pode sentir estresse e ansiedade e até desenvolver problemas de sono, especialmente se usa dispositivos eletrônicos antes de dormir. No longo prazo, você pode atingir um Burnout e desenvolver um declínio cognitivo”, afirma Gisele.
Os efeitos do brainrot podem ser observados em vários aspectos da vida diária. Em termos cognitivos, pode levar a uma dificuldade de concentração e a problemas para processar informações de forma eficaz. A exposição constante a conteúdos fragmentados e sensacionalistas pode prejudicar a habilidade de pensar de forma crítica e profunda, substituindo o envolvimento com ideias complexas por um consumo rápido e superficial.
A sobrecarga constante de informações pode causar sentimentos de ansiedade e estresse, uma vez que as pessoas se sentem constantemente pressionadas por atualizações e notificações. Esse estado de alerta contínuo pode afetar negativamente o bem-estar geral e a qualidade de vida.
“A sobrecarga de informação pode ocorrer fora da internet, como passar dias inteiros lendo livros e estudando algo específico. Já brainrot é causado exclusivamente na internet e é causado pelo consumo excessivo de conteúdos curtos e que super estimulam o cérebro por meio de cores fortes, efeitos especiais e sons”, aponta a especialista.
Sintomas de brainrot
- A pessoa tem problemas em concentrar-se em uma única tarefa. Sinal disso é precisar assistir a algo no telefone enquanto come;
- Preferência por estímulos de baixa qualidade, como navegar por redes sociais, assistir a vídeos curtos ou checar notificações frequentemente;
- Necessidade de ter o celular ou outro dispositivo eletrônico sempre por perto, mesmo em situações que não exigem esse nível de engajamento;
- Possível aumento dos níveis de estresse e ansiedade devido à constante busca por gratificação instantânea;
- Sensação de sobrecarga mental devido à constante exposição a informações superficiais e fragmentadas.
Identificar esses sintomas é crucial para entender como a constante exposição a estímulos rápidos e superficiais pode influenciar a saúde mental e a qualidade de vida.
Consequências associadas ao brainrot
O consumo contínuo de conteúdos fragmentados e superficiais pode prejudicar a capacidade de refletir e analisar profundamente. Isso dificulta a resolução de problemas complexos, pois a habilidade de pensar criticamente é comprometida pela sobrecarga de informações triviais.
A exaustão mental é outra consequência comum. A constante exposição a uma abundância de informações triviais pode causar uma sensação de saturação, resultando em falta de clareza mental. Esse estado pode levar a dificuldades na tomada de decisões e a um sentimento geral de cansaço e confusão mental.
As relações interpessoais também podem ser prejudicadas. A atenção constante voltada para dispositivos eletrônicos pode diminuir a qualidade das interações pessoais e reduzir o tempo dedicado a relacionamentos significativos. Isso pode enfraquecer conexões importantes e afetar negativamente a qualidade das relações.
Além disso, o brainrot pode impactar a saúde física. O uso excessivo de dispositivos, especialmente antes de dormir, pode prejudicar a qualidade do sono e afetar a recuperação física. Esse comportamento também pode promover um estilo de vida mais sedentário, reduzindo a quantidade de atividade física e impactando a saúde geral.
Tratamento
A especialista dá dicas para quem está lidando com a síndrome do brainrot:
- Limitar o tempo de tela: estabeleça limites diários para o uso de dispositivos eletrônicos.
- Fazer pausas regulares: inclua pausas frequentes durante o uso de dispositivos para descansar a mente.
- Praticar atividades offline: engaje-se em atividades que não envolvem tecnologia, como leitura de livros físicos, exercícios físicos e hobbies manuais.
- Criar rotinas de desconexão: defina horários específicos para desconectar completamente dos dispositivos digitais, especialmente antes de dormir.
- Mindfulness e meditação: pratique técnicas de mindfulness e meditação para reduzir o estresse e melhorar a concentração.
“Atualmente não existem tratamentos conhecidos que especificamente ajudem a lidar com brainrot, porém as práticas recomendadas já ajudam bastante. O cérebro é algo flexível moldável que pode fisicamente se alterar e mudar a forma que funciona” ela conta.
O crucial é controlar o momento em que se consome esse tipo de conteúdo. Se conseguir limitar o acesso a esses estímulos pela manhã, logo ao acordar, e também uma hora antes de dormir, isso pode ter um impacto significativo na saúde mental e no bem-estar geral.
O motivo para evitar esses conteúdos nos primeiros e últimos momentos do dia está relacionado à forma como o nosso cérebro reage aos estímulos externos.
Na primeira hora após acordar, nosso cérebro está se ajustando ao novo dia e se preparando para enfrentar as atividades que virão.
Expor-se a informações fragmentadas e superficiais nesse momento pode interferir na clareza mental e na capacidade de focar em tarefas importantes.
Da mesma forma, a última hora consciente do dia é crucial para o relaxamento e a preparação para o sono. O consumo de conteúdos digitais estimulantes e de baixa qualidade antes de dormir pode sobrecarregar o cérebro e dificultar a transição para um estado de relaxamento necessário para uma boa noite de sono.
Esse comportamento pode prejudicar a qualidade do sono e a recuperação mental e física durante a noite.
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