Todo mundo já sentiu uma dor de cabeça na vida. Seja após um dia estressante ou muito cansativo. Mas podemos garantir que, provavelmente, você nunca sentiu algo como a Cefaleia em Salvas. “É disparada a pior dor que eu já senti”, diz Leonardo Pedrosa, de 30 anos. É desta forma que o contador caracteriza sua doença.
Trata-se de um tipo de dor de cabeça pouco conhecida, que acontece em apenas um lado da cabeça e ocorre de tempos em tempos, motivo de ter ganhado este nome. “É a mais intensa que o humano pode sentir. Existem casos até de suicídio”, conta a neurologista Maria Eduarda Nobre, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro Academia Brasileira de Neurologia.
Para compreender sua complexidade, a AnaMaria Digital conversou com Leonardo, que convive com a doença há 14 anos. Ele relata que se trata de uma dor latejante, com duração entre 45 minutos a uma hora e meia cada crise. “É meio alucinante, fico agoniado, irritado, andando de um lado pro outro. Quem presencia se choca com o jeito que eu fico”, afirma.
VIDA PRÓPRIA
A neurologista explica que a Cefaleia em Salvas não tem cura. Por ser uma doença que ainda está sendo estudada, seu diagnóstico pode levar até seis anos. “É muito difícil de entender, é como se ela tivesse vida própria, indo e vindo quando quer”, ressalta. De acordo com Maria Eduarda, a incidência é de aproximadamente 0,1% da população. Isso significa que, no Brasil, são cerca de 200 mil casos a cada ano.
Sobre a dor ser apenas de um lado da cabeça, a médica afirma que não se sabe a causa: “É uma característica dela nunca ser do outro lado. A região do cérebro alterada é a do hipotálamo e, por isso, tem um ritmo, por causa do relógio biológico. Assim, a gente sabe onde é, mas não sabemos o motivo.”
Ilustração via CANVA
SINTOMAS
Sobre as dores, Leonardo avalia que elas se parecem com uma onda. “Vem devagarinho, dá um pico, parece com uma facada, e depois vai diminuindo até passar. Geralmente, no período da dor, não consigo falar com ninguém, não consigo escutar nada”, conta. Os sintomas não param por aí. Coriza no nariz, pálpebra caída, olho vermelho, o rosto inchado, suor e enjoo também fazem parte desta lista.
Infelizmente, a neurologista ressalta que, até o momento, nenhum medicamento ou analgésico consegue acabar com a Cefaleia em Salvas durante uma crise. “Só o oxigênio em determinada quantidade é usado e faz a dor passar em cinco minutos, mas ela não responde a nada, o paciente não responde a nada, não consegue ficar quieto e nada ameniza”, diz. Ela orienta, porém, que existe um tratamento preventivo, logo cedo, com medicação oral na tentativa de fazer a dor nem aparecer.
Buscando saber qual o seu problema desde os 16 anos, Leonardo só recebeu a resposta aos 23, depois de procurar diversos médicos para entender suas crises. Nesse tempo, ele chegou a usar remédios que não faziam efeito.
Hoje, ele tem a medicação certa para lidar com a doença, o que considera uma vitória. “Tô há 25 dias sem tomar remédio. Na época da crise, eu uso três medicamentos e um especial, indicado pela minha médica.”
CAMPANHA CEFALEIA EM SALVAS
Para alertar as pessoas sobre a doença, a atriz Simone Zucato reuniu alguns famosos -entre os quais Reynaldo Gianecchini, Ailton Graça, Rodrigo Fagundes, Wendel Bendelack, Fernanda de Freitas, Inês Peixoto e Paulo Manduca– para apoiar a campanha educativa iniciada pela neurologista Maria Eduarda Nobre.
Trata-se de um alerta sobre a importância do tratamento da Cefaleia em Salvas, que costuma levar tempo para ser diagnosticada e tratada corretamente. “Por isso é tão importante divulgarmos essa causa, pois quem sofre dela precisa ter o diagnóstico e o tratamento correto o quanto antes”, diz Simone, que relembra que é preciso mais investimento nas pesquisas para melhorar a qualidade de vida dos portadores dessa condição.
RECONHECEU OS SINTOMAS?
Você pode contatar a Sociedade Brasileira de Cefaleia ou a Abraces (Associação Brasileira dos Portadores de Cefaleia em Salvas), para localizar um especialista em sua cidade, ou até mesmo se informar sobre atendimentos em serviço público.
Mesmo com as crises, a demora no diagnóstico e histórias marcantes sobre a Cefaleia em Salvas na sua vida, Leonardo considera a doença como “uma lição de vida”. “A gente não pode reclamar porque sempre tem casos piores que o nosso”, diz.