A perda da cantora Preta Gil, aos 50 anos, trouxe visibilidade aos riscos do câncer colorretal, doença contra a qual Preta lutava desde janeiro de 2023.
O caso evidencia uma realidade preocupante: a mortalidade por câncer colorretal no Brasil deve crescer 36,3% até 2040, segundo boletim da Fundação do Câncer. O dado reforça a necessidade de ampliar a prevenção, o rastreamento precoce e o acesso ao diagnóstico, inclusive, entre pessoas mais jovens, que vêm sendo diagnosticadas com a doença com mais frequência nos últimos anos.
O que explica o aumento de casos entre pessoas mais jovens?
Até alguns anos atrás, o câncer colorretal era associado principalmente a pessoas com mais de 50 anos. Hoje, no entanto, especialistas observam um crescimento preocupante entre adultos jovens e até adolescentes.
Em entrevista à AnaMaria, o cirurgião do aparelho digestivo Rodrigo Barbosa explica que fatores como alimentação rica em ultraprocessados, sedentarismo, tabagismo, obesidade e alterações no microbioma intestinal podem estar por trás do aumento.
Segundo Patrícia Almeida, gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein, ainda não se conhece uma única causa para esse crescimento. “Pesquisas apontam uma combinação de dieta desequilibrada, inatividade física e exposições ambientais. O que sabemos é que os casos entre jovens têm aumentado, e isso exige uma mudança no olhar clínico”, ressalta a médica.
Sintomas que não devem ser ignorados
Muitas vezes, os sintomas do câncer colorretal são atribuídos a questões comuns do dia a dia, como estresse, alimentação ou hemorróidas. No entanto, sinais persistentes merecem atenção e avaliação médica.
FIQUE DE OLHO: sintomas que podem indicar câncer colorretal
- Sangue nas fezes;
- Mudança no hábito intestinal (diarreia ou prisão de ventre persistente);
- Perda de peso sem motivo;
- Dor abdominal frequente;
- Anemia sem causa aparente.
Os especialistas acrescentam que até sintomas mais genéricos, como fadiga e sensação de evacuação incompleta, precisam ser investigados quando duram mais de duas semanas. “O diagnóstico precoce pode salvar vidas”, pontua Patrícia.
Exames para detecção precoce
Atualmente, as diretrizes recomendam que o rastreamento do câncer colorretal comece aos 45 anos para pessoas com risco médio. “Mesmo sem sintomas, a colonoscopia a partir dessa idade é essencial”, reforça Rodrigo.
Quem tem histórico familiar da doença, síndromes genéticas ou doenças inflamatórias intestinais deve iniciar o acompanhamento antes – e com frequência maior. “Se o pai teve câncer colorretal aos 45 anos, o filho deve começar a investigar aos 35”, exemplifica Patrícia.
Para casos específicos, como na Síndrome de Lynch, a colonoscopia começa entre os 20 e 25 anos. Já para quem tem Polipose Adenomatosa Familiar (PAF), o acompanhamento pode começar ainda mais cedo, aos 10 ou 12 anos.
Além da colonoscopia, exames menos invasivos ajudam no rastreamento. Rodrigo aponta o teste de sangue oculto nas fezes como uma alternativa viável para triagem anual. “É simples, acessível e, se der positivo, a colonoscopia é indicada”, explica.
Patrícia também destaca o teste de DNA fecal, que tem sensibilidade alta, mas ainda é pouco acessível no sistema público. “São exames que não substituem a colonoscopia, mas ajudam a identificar quem precisa de uma investigação mais profunda”, afirma.
Prevenção começa com hábitos diários
É possível prevenir o câncer colorretal em muitos casos. Veja o que pode ajudar:
- Comer mais fibras: frutas, verduras e cereais integrais ajudam a manter o intestino saudável
- Reduzir carnes processadas: o consumo frequente aumenta o risco em até 30%
- Praticar atividade física: pelo menos 150 minutos por semana diminuem o risco em até 24%
- Controlar o peso: a obesidade eleva o risco entre 30% e 50%
- Evitar álcool e cigarro: o tabagismo, inclusive, favorece o surgimento de pólipos adenomatosos
Aumento nas chances de cura
Com o avanço da tecnologia, os diagnósticos têm se tornado mais precisos e os tratamentos mais eficazes. “Hoje temos colonoscopias com Inteligência Artificial, terapias-alvo, imunoterapia e cirurgias minimamente invasivas”, destaca Rodrigo. Ele acrescenta que, quando detectado no início, o câncer colorretal tem taxas de cura superiores a 90%.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1482, de 15 de agosto de 2025). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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