Imagine realizar uma avaliação neuropsicológica dentro de um ambiente virtual que simula situações reais, como uma sala de aula, um supermercado ou até um escritório. Essa tecnologia, já utilizada em diversos países da Europa e América Latina, acaba de desembarcar no Rio de Janeiro e promete transformar a forma como profissionais da saúde analisam funções como atenção, memória e impulsividade.
A partir de setembro, a realidade virtual começa a ser usada na clínica Potência – Desenvolvimento Infantil, localizada na zona sul carioca. A responsável pela implantação da novidade é a neuropsicopedagoga Silvia Kelly Bosi, que destaca os avanços que essa ferramenta representa: “Com os testes virtuais, conseguimos observar o comportamento de maneira muito mais próxima da realidade. Isso melhora a qualidade dos diagnósticos e favorece intervenções mais personalizadas”, explica.
Como a realidade virtual muda a forma de avaliar o comportamento
A grande inovação da realidade virtual está na capacidade de criar ambientes interativos que simulam o cotidiano das pessoas avaliadas. Por meio de óculos 4K com sensores de movimento, o paciente interage com situações visuais e auditivas, enquanto o sistema registra e analisa suas respostas cognitivas e motoras em tempo real.
De acordo com Silvia, “o diferencial está em compreender o paciente como ele é, em um contexto próximo ao da sua vida, não apenas em um teste padronizado e fora da sua realidade”.
Tecnologia de ponta com base científica
A solução foi desenvolvida pela Nesplora, empresa espanhola que atua há mais de uma década na criação de ferramentas tecnológicas para a saúde mental. Seus protocolos já foram aplicados em mais de 95 mil pessoas em 30 países e contam com respaldo de mais de 600 artigos científicos.
Todos os testes são reconhecidos como dispositivos médicos, seguem normas de segurança e proteção de dados e apresentam alta validade ecológica, ou seja, são capazes de simular o mundo real com fidelidade. Isso faz com que os resultados obtidos nas avaliações sejam mais claros, confiáveis e úteis para as famílias, escolas e profissionais de saúde.
Opções de avaliação para diferentes idades e necessidades
A ferramenta oferece diferentes protocolos de avaliação para públicos diversos. Alguns dos mais usados são:
- AULA e AULA SCHOOL: para investigar atenção e sintomas de TDAH em crianças e adolescentes;
- SORVETE: focado nas funções executivas e aprendizagem;
- SUÍTE: voltado para o rastreamento de possíveis quadros de demência;
- AQUÁRIO: indicado para adultos com sintomas de estresse, ansiedade ou queixas cognitivas.
Como cada protocolo é aplicado em um ambiente virtual específico e cuidadosamente desenhado, os dados obtidos têm grande utilidade na construção de estratégias de apoio individualizado.
Novas possibilidades para a avaliação neuropsicológica no Brasil
Embora já esteja presente em algumas regiões, o uso da realidade virtual em avaliações neuropsicológicas ainda é pouco difundido no Brasil. A chegada desse recurso representa uma oportunidade de tornar os diagnósticos mais acessíveis e modernos, além de oferecer suporte mais eficaz para crianças com dificuldades de aprendizagem, adultos com queixas cognitivas e idosos em processo de envelhecimento.
Mais acessibilidade e precisão para quem precisa de diagnóstico
Além de tornar o processo mais envolvente e menos cansativo para o paciente, a realidade virtual pode contribuir para tornar o diagnóstico mais acessível em regiões com menos estrutura ou profissionais especializados. Como o sistema é digital e padronizado, clínicas e centros de saúde podem adotá-lo com maior agilidade.
Isso ajuda a ampliar o acesso a laudos mais completos, especialmente para famílias que enfrentam dificuldades financeiras, logísticas ou emocionais para buscar apoio. “O importante é garantir que essas ferramentas modernas sirvam para cuidar melhor de quem mais precisa. A tecnologia deve estar a serviço da inclusão”, reforça Silvia.
Resumo: A tecnologia de realidade virtual começa a ser usada em avaliações neuropsicológicas no Rio de Janeiro, com potencial para oferecer diagnósticos mais precisos, humanizados e acessíveis. Já validada em outros países, a novidade amplia as possibilidades de cuidado e apoio individualizado para diferentes fases da vida.
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