A Anvisa aprovou, na última terça-feria (22), um novo tratamento para os estágios iniciais do Alzheimer. Chamado comercialmente de Kisunla, o medicamento tem como princípio ativo o donanemabe, um anticorpo monoclonal que já havia sido liberado nos Estados Unidos em 2023.
Segundo a farmacêutica Eli Lilly, responsável pelo desenvolvimento, o tratamento pode retardar em até 35% o avanço da doença em pacientes nos estágios iniciais. Contudo, para que o remédio seja eficaz, é necessário comprovar a presença de placas da proteína beta-amiloide no cérebro — uma das principais responsáveis pelo comprometimento cognitivo típico da doença.
Como age o novo remédio contra Alzheimer?
O donanemabe atua diretamente sobre a chamada “cascata amiloide”, um dos principais mecanismos envolvidos na degeneração cerebral provocada pelo Alzheimer. Nos estudos clínicos, voluntários receberam infusões do medicamento a cada quatro semanas, durante 18 meses. Os resultados mostraram uma redução significativa no ritmo de progressão da doença, especialmente entre pacientes com sintomas leves.
Além disso, após um ano e meio de tratamento, 76% dos participantes tiveram redução das placas amiloides a níveis considerados negativos. A neurologista Claudia Ramos, da USP, lembra que esse tipo de resposta era impensável até pouco tempo. “É um avanço significativo, mas que precisa ser acompanhado com muita responsabilidade”, afirma à revista Veja.
Aprovado pela Anvisa, tratamento é inovador, mas traz riscos importantes
Ainda que represente uma nova esperança, o remédio contra Alzheimer não é indicado para todos os pacientes. Em primeiro lugar, é preciso identificar quem realmente se beneficiará do tratamento — e isso envolve exames específicos, como a análise do líquor, que nem sempre estão disponíveis em larga escala.
Além disso, os efeitos colaterais podem ser preocupantes. Entre os eventos adversos, destaca-se a ARIA (Anormalidades de Imagem Relacionadas à Amiloide), que pode provocar inchaço ou pequenos sangramentos no cérebro. De acordo com a própria farmacêutica, casos mais graves podem envolver hemorragias cerebrais e reações alérgicas severas.
De fato, 37% dos participantes dos ensaios clínicos tiveram algum tipo de ARIA, e, infelizmente, três pessoas morreram por complicações relacionadas ao tratamento. Isso reforça a necessidade de acompanhamento rigoroso com exames de imagem e acompanhamento médico constante.
O que esperar do novo remédio contra Alzheimer no Brasil?
A aprovação pela Anvisa representa um marco importante na luta contra o Alzheimer. No entanto, como reforça a neurologista Claudia Ramos, o uso do Kisunla exige centros especializados para aplicação e monitoramento, além de um alto custo.
Por isso, mesmo com os avanços, o tratamento ainda está longe de ser acessível para toda a população. Ainda assim, para muitas famílias, ele pode significar um novo capítulo na busca por qualidade de vida e bem-estar para quem convive com a doença.
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