De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 40% dos entrevistados sentiram-se tristes ou deprimidos, e 54% apresentaram nervosismo e ansiedade com frequência, durante a quarentena.
Entre os jovens de 18 a 29 anos, os percentuais chegaram a 54% e 70%, respectivamente.
“Muitas pessoas saíram da rotina de uma forma brusca. E isso, associada ao aumento da incerteza, isolamento e outras restrições, intensifica a angústia, ansiedade e, consequentemente, a falta de qualidade de vida”, afirma Ana Paula Mazorca, psicóloga da Lar e Saúde, para AnaMaria Digital.
ALTOS NÍVEIS DE ANSIEDADE PODEM ACARRETAR EM NOVOS TRANSTORNOS
Além do estresse, a ansiedade gerada pelo isolamento social pode provocar outros tipos de transtornos. De acordo com a pesquisa, 29% dos entrevistados passaram a ter problemas em relação à qualidade do sono, e 16% apresentaram piora do problema durante a pandemia.
“A pessoa não dorme direito, não faz exercício físico, as dores aumentam, a alimentação fica ruim. Isso tem gerado muita compulsão, tanto por comida como também por compras, por exemplo. É um prazer momentâneo durante o sofrimento, então já que não podem socializar, acabam substituindo a falta que a pandemia gera com outras coisas”, esclarece.
Segundoi a especialista, é importante encontrar o equilíbrio em meio à pandemia, uma vez que o período de duração das medidas ainda é incerto: “Devemos nos adaptar a esse momento de restrições. Qualidade de vida envolve socialização. Mesmo que de uma forma diferente, precisamos manter contato com outras pessoas, uma vez que isso faz diferença em nossa saúde mental”.
Confira algumas dicas para ajudar no dia a dia.
MEDITAÇÃO E RESPIRAÇÃO
Técnicas de meditação, yoga e a respiração também têm forte influência no bem-estar. Além de ajudar para evitar o aumento de ansiedade, também são excelentes aliados para momentos de crise.
“Quando se está em meio a uma crise de ansiedade, parar, conscientizar e fazer respirações são coisas que parecem simples, mas fazem muita diferença. A ideia é respirar como se fosse um ‘balão’, como se estivesse enchendo e esvaziando. Deve-se repetir isso até que a pessoa se acalme”, explica Mazorca.
ROTINA
Pode parecer simples, mas ter horários definidos faz toda a diferença no estado de ansiedade. Ainda que seja mais difícil manter os hábitos em casa, isso ajuda o cérebro a se ‘organizar’ durante o período.
“É importante criar essa rotina. Não trocar o dia pela noite, acordar cedo e não deixar de fazer suas coisas. Vestir-se, trocar de roupa, não ficar de pijama o dia todo. Tudo isso é muito importante para que o ambiente ao nosso redor mude”.
ATIVIDADE FÍSICA
A conhecida recomendação de exercícios físicos vale também para a saúde mental. Além de liberar a endorfina — responsável pela sensação de bem-estar — as atividades contribuem para a melhoria na disposição, concentração e até mesmo na qualidade do sono, quando feitos em um horário adequado.
Durante a quarentena, alongamentos e caminhadas próximas à casa, são algumas alternativas. Além disso, diversas aulas, treinos e outros exercícios online também estão disponíveis.
FILTRAR OS NOTICIÁRIOS
Se por um lado é importante estar bem informado dos acontecimentos, por outro, é preciso estar em alerta: o excesso de informações negativas pode agravar quadros de ansiedade.
Por isso, nesses casos, a recomendação é encontrar o equilíbrio: ouvir ou ler as notícias apenas uma vez ao dia é o suficiente para não ficar ‘sobrecarregado’ com as informações. “Há um bombardeio de notícias ruins e não apenas sobre a pandemia. Ainda assim, a orientação não é para que a pessoa fique alienada, mas sim evitar ouvir isso o dia todo”.
TEMPOS ‘OCIOSOS’
Ter um tempo livre é recomendado para descansar a mente. Desta forma, ler um livro ou assistir um filme, podem ajudar a aliviar a tensão. “É importante ter atividades que saiam dessa rotina de notícias trágicas e preocupantes. Por isso, escolher atividades prazerosas, simples e que possam ser integradas na rotina, são extremamente benéficas para a saúde”.
PROFISSIONAIS DA SAÚDE TAMBÉM PRECISAM DE CUIDADO
Os cuidados com a saúde mental não devem ser destinados apenas para quem está em isolamento. Profissionais da saúde, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, também precisam de uma atenção especial durante o período.
“Esses profissionais estão fazendo longos plantões, têm noites mal dormidas e não se alimentam da melhor forma. Isso tudo somado tem um prejuízo físico, mas também mental. Se para nós o cuidado deve ser redobrado, para eles deve ser ainda maior”, ressalta a especialista.
TERAPIA COMO REMÉDIO
É importante lembrar que para níveis elevados de ansiedade ou em casos de dificuldade para controlar o estresse, é fundamental procurar ajuda de um especialista. No momento, os atendimentos para terapia estão sendo feitos remotamente e, em alguns casos, presenciais.
“Durante a terapia, conseguimos fazer de forma online — principalmente para pacientes de alto risco — mas também realizamos atendimento domiciliar, seguindo uma série de medidas para garantir a segurança do profissional e paciente”, conclui.