Alergias respiratórias são uma preocupação crescente na saúde infantil, afetando uma parte significativa das crianças em todo o mundo. Um dos efeitos menos discutidos dessas condições é a tendência para a respiração bucal.
Respirar pela boca de forma constante pode trazer várias consequências para a saúde e o desenvolvimento das crianças. Por isso, AnaMaria conversou com a otorrino Renata Mattos Moura Barizon. A seguir, ela explica sobre a relação das alergias respiratórias na respiração bucal das crianças.
Alergias respiratórias e suas complicações
As alergias respiratórias são uma reação exagerada do sistema imunológico as substâncias geralmente inofensivas, como pólen, ácaros, mofo e pelos de animais. Essas reações podem causar desconforto e afetar significativamente o bem-estar das crianças.
Além dos sintomas comuns, como espirros, coriza e nariz entupido, as alergias respiratórias podem levar a problemas mais sérios se não forem bem tratadas.
Os principais sinais das alergias respiratórias incluem:
- Rinite alérgica: congestão nasal, coriza, espirros e coceira no nariz e na garganta;
- Asma: dificuldade para respirar, chiado no peito, tosse persistente e sensação de falta de ar.
Esses sintomas podem interferir na rotina diária das crianças, afetando seu desempenho escolar e suas atividades sociais.
“É importante que os pais fiquem atentos aos sinais de seus filhos, como boca aberta ao dormir, respiração barulhenta e dificuldade de se alimentar de boca fechada”, alerta Renata.
Se não forem tratadas adequadamente, as alergias respiratórias podem causar várias complicações:
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Infecções secundárias: a congestão e a irritação nasal podem levar a infecções nos seios da face (sinusite) e nos ouvidos (otite), já que o acúmulo de muco cria um ambiente favorável para bactérias e vírus;
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Desenvolvimento de asma: a rinite alérgica não controlada pode evoluir para asma, uma condição crônica que inflama e estreita as vias respiratórias, resultando em episódios frequentes de falta de ar e chiado no peito;
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Impacto no sono: o desconforto causado pelas alergias pode prejudicar a qualidade do sono. A congestão nasal e a tosse noturna podem levar a distúrbios do sono, resultando em cansaço durante o dia, dificuldade de concentração e irritabilidade;
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Problemas odontológicos e faciais: a respiração bucal, que pode ocorrer devido à obstrução nasal, pode afetar a formação dos dentes e da mandíbula, além de alterar a estrutura facial. Isso pode causar problemas no alinhamento dos dentes e no crescimento adequado da face;
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Dificuldades cognitivas e emocionais: a constante luta contra os sintomas das alergias pode afetar o aprendizado e o bem-estar emocional das crianças. A falta de sono e a dificuldade em respirar podem levar a problemas de concentração e aumento do estresse.
Como a respiração bucal afeta o desenvolvimento de alergias respiratórias em crianças?
A respiração bucal, em comparação com a nasal, pode afetar negativamente a saúde respiratória, especialmente em pessoas com alergias.
O nariz desempenha papéis importantes no preparo do ar que respiramos, ajudando a filtrá-lo, aquecê-lo e umedecê-lo antes que chegue aos pulmões. Essas funções são cruciais para proteger as vias respiratórias e manter a saúde dos pulmões.
O nariz tem cílios e muco que filtram poeira, poluentes e microrganismos do ar. Isso evita que partículas irritantes e patogênicas entrem diretamente nos pulmões. Quando se respira pela boca, esse sistema de filtragem é ignorado, permitindo que mais partículas e contaminantes entrem nas vias respiratórias. Para quem tem alergias, isso pode piorar os sintomas.
O nariz também aquece o ar antes que ele chegue aos pulmões. O ar frio e seco inalado pela boca pode irritar as vias respiratórias. O aquecimento adequado do ar ajuda a proteger as estruturas internas das vias respiratórias e dos pulmões de temperaturas extremas, o que é especialmente importante para pessoas com problemas respiratórios.
O nariz umedece o ar, transformando-o em vapor d’água. Essa umidificação é importante para manter as vias respiratórias hidratadas e protegidas. Quando o ar é inalado pela boca, falta a umidificação necessária, o que pode ressecar as mucosas e aumentar a suscetibilidade a irritações e infecções. Para quem tem alergias, isso pode intensificar os sintomas.
Procure tratamento!
Para tratar alergias respiratórias de modo a minimizar ou evitar a respiração bucal, é importante adotar uma abordagem abrangente que inclua tanto medidas médicas quanto mudanças no estilo de vida.
“O papel é identificar a causa e tratar de maneira efetiva com orientação de higiene ambiental, lavagem nasal, medicamentos e até vacinas, se necessário. Isso já vai ajudar na respiração. Encaminhar para o odontopediatra para ver a alteração da arcada dentária devido à respiração errada”, a especialista indica.
Além do tratamento medicamentoso, gerenciar o ambiente onde se vive é fundamental. É importante minimizar a exposição a alérgenos, como pólen, ácaros e pelos de animais. Usar filtros de ar HEPA e manter a casa limpa pode ajudar.
Lave regularmente roupas de cama e cortinas em água quente e aspire tapetes e estofados com um aspirador com filtro HEPA. Manter o ar da casa com um nível adequado de umidade, usando um umidificador, pode ajudar a evitar a secura nas vias respiratórias e reduzir a irritação.
Se houver infecções associadas, como sinusite, é essencial tratá-las com os medicamentos apropriados. Além disso, condições anatômicas que bloqueiam a respiração nasal, como um desvio de septo, podem exigir tratamento cirúrgico ou outros procedimentos médicos para melhorar a respiração.
Manter um ambiente saudável, com boa ventilação e controle da umidade, é crucial para reduzir a presença de mofo e outros alérgenos. Uma dieta equilibrada e boa hidratação também ajudam a manter as mucosas respiratórias saudáveis e menos propensas a irritações.
Consultar um especialista em alergias pode fornecer um tratamento personalizado e eficaz, melhorando a qualidade de vida e ajudando a manter uma respiração nasal saudável.
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