Na novela ‘Vale Tudo‘, atualmente em exibição na TV Globo, a luta de Heleninha (Paolla Oliveira) contra o vício em álcool voltou a emocionar o público. Em uma das cenas das últimas semanas, a personagem é flagrada pelo filho Tiago (Pedro Waddington) completamente embriagada. Em choque, o jovem decide “dar uma lição” na mãe e passa a beber em excesso, terminando a noite envolvido em uma situação de violência nas ruas. A cena levantou uma questão que vai além da ficção: afinal, alcoolismo é genético? Ou seja, filhos de pessoas que sofrem com a dependência têm mais chances de seguir o mesmo caminho?
Para esclarecer essa dúvida, a AnaMaria conversou com o psiquiatra e CEO da GnTech, Guido Boabaid. “A dependência do álcool tem uma forte influência genética, mas não é determinada apenas pelos genes. A herança pode aumentar a vulnerabilidade, mas o ambiente e as escolhas individuais também são determinantes”, explica o especialista. Abaixo, detalhamos questões genéticas sobre a doença e o que fazer para ajudar os jovens nessa batalha.
O alcoolismo pode ser herdado dos pais?
De acordo com Boabaid, filhos de pessoas com dependência alcoólica têm de duas a quatro vezes mais chances de desenvolver o mesmo problema em comparação com filhos de não dependentes. Isso porque genes ligados ao metabolismo do álcool e à regulação da dopamina no cérebro aumentam a vulnerabilidade.
Ainda assim, ele alerta que ter predisposição genética não significa destino. “É um fator de risco que pode ou não se manifestar, dependendo de outros elementos da vida do indivíduo”, diz.
Beber cedo aumenta o risco de se tornar dependente?
Sim. O início precoce do consumo de álcool é um dos fatores mais preocupantes. Pesquisas mostram que jovens que começam a beber antes dos 15 anos têm quatro vezes mais chances de se tornarem dependentes na vida adulta, quando comparados a quem inicia após os 21.
Segundo Boabaid, isso acontece porque “o cérebro adolescente ainda está em desenvolvimento, principalmente nas áreas responsáveis pelo autocontrole e pela tomada de decisão”.
Quais fatores emocionais e ambientais influenciam no alcoolismo?
A convivência em lares onde há consumo excessivo, negligência ou violência é um fator de risco importante. Além disso, problemas emocionais como ansiedade, depressão e impulsividade aumentam a vulnerabilidade.
O psiquiatra lembra ainda da influência externa. “A pressão social e a normalização da bebedeira em festas ou entre amigos têm um impacto significativo, especialmente nos adolescentes”, ele afirma. Situações de estresse crônico e traumas na infância, como abuso físico ou emocional, também estão associados ao risco maior de dependência.
Como diferenciar uso social do consumo problemático em jovens?
Embora o consumo social envolva pequenas quantidades ocasionais, sem prejuízos na vida escolar, familiar ou social, os sinais de alerta podem aparecer cedo. Episódios frequentes de embriaguez, a necessidade de beber para se divertir, quedas no rendimento escolar, brigas em casa e comportamentos de risco já apontam para um padrão problemático.
Boabaid chama atenção para o chamado binge drinking – ou seja, beber grandes quantidades em pouco tempo: “Nos adolescentes, esse comportamento já deve ser visto como um sinal de risco elevado para dependência futura.”
Qual apoio psicológico e familiar pode ajudar?
Apoiar jovens em famílias com histórico de alcoolismo exige diálogo aberto, supervisão e limites bem estabelecidos. A psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, ajuda no desenvolvimento de estratégias para lidar com situações de risco e prevenir recaídas.
O psiquiatra reforça também o valor das redes de apoio na luta contra o alcoolismo. “Ooferecem suporte emocional não só para quem bebe, mas para toda a família. Quanto mais estruturada for a rede, menor a chance de progressão para a dependência”. Além disso, atividades esportivas, culturais e sociais fortalecem a autoestima e a resiliência dos jovens.
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