Afastada das novelas desde Amor à Vida (2013), Elia-ne Giardini volta com tudo em Êta Mundo Bom!, de Walcyr Carrasco. Na nova trama das 18h da Globo, a atriz será Anastácia, viúva riquíssima e muito triste, atormentada pelo arrependimento de ter deixado que a obrigassem a abandonar o filho no passado. Interpretado por Sergio Guizé, o tal filho se chama Candinho. É pobre e nem imagina que a mãe faz de tudo para saber o seu paradeiro.
Na entrevista a seguir, a atriz fala de temas polêmicos, como o preconceito contra mães solteiras, machismo e das mudanças da maturidade. “Às vezes, sinto uma tristeza de ver que a minha pele não é mais a mesma. Ainda não tenho nenhuma limitação em termos de saúde, graças a Deus, mas a gente sente mudanças. Ao mesmo tempo – e não sei se isso acontece com as outras pessoas –, sinto que fui ganhando uma leveza na vida, que não troco por nada”, disse.
Sua personagem em Êta Mundo Bom! é muito elegante. Como está se sentindo com esse figurino?
É muito bom interpretar mulher rica, porque as roupas são maravilhosas [risos]. Adoro fazer novela de época – e essa década de 1940 tem um charme, né? É bom se distanciar um pouco da nossa realidade.
Você curte essa sofisticação?
Não! Só gosto para meus personagens. Para minha vida, não. Sou totalmente casual, ando de camiseta e jeans. E na minha casa fico descalça.
Salto nem de vez em quando?
Não gosto e quero descobrir quem inventou isso [risos]. Mas tenho que admitir que esse tipo de sapato melhora a nossa postura. Quando a personagem exige porte, não consigo nem ensaiar sem salto.
A Anastácia sofre por ser mãe solteira. Esse preconceito existe?
Claro que não é igual àquela época, mas os preconceitos existem, sim. Só que agora eles estão bem localizados e policiados. É uma briga que continua atual contra homossexuais, negros, mães solteiras. A diferença é que hoje isso é crime, existem as redes sociais
e você pode denunciar em segundos.
E o machismo?
São diferentes, mas da mesma forma que o preconceito existe, o machismo também. Tem mulher machista. Não é por maldade, mas foram séculos de treino e educação para isso. As conquistas femininas ainda são recentes e os costumes, passados.
Você seleciona seus personagens?
Gosto de saber como é o personagem e com quem irei contracenar, pois vou conviver com o papel e os colegas por quase um ano. Tem que ser gostoso.
Incomodou ficar um tempo sem trabalhar desde Amor à Vida?
Eu passei o ano de 2014 quase todo sem trabalhar. Se eu ficar muito tempo assim, começo a roer os dedos. O trabalho me motiva, me sinto viva.
Os personagens, sempre fortes, têm a ver com sua vida pessoal?
Como sou marcada por esse tipo, quando me convidam, já sei que não é para fazer aquela pessoa pacata, tristonha. Eu nem me preocupo [risos]. Na vida real, sou zen, caseira, fujo de badalação. Não sou briguenta, e sim tranquila. A dramaturgia dá oportunidade de ter um comportamento que não uso na vida.
Você mora sozinha. Nunca apareceu o medo da solidão?
Ainda não. Eu trabalho muito e sou ligada à vida familiar. Acho que solidão não é um problema, convivo bem com ela.
Já teve medo de envelhecer?
Não dá pra ter, né [risos]? É inevitável! Até que, às vezes, sinto tristeza ao ver que a minha pele não é a mesma. Não tenho nenhuma limitação em termos de saúde, graças a Deus, mas a gente sente a mudança. Ao mesmo tempo, sinto que fui ganhando uma leveza na vida, que não troco por nada. Fui uma jovem cheia de obrigações.
Você se considera bonita?
Não. Nunca contei com a beleza. Não me acho feia, mas se comparar com outras estrelas, não sou bonita. Nunca me chamaram para nada por conta disso, e sim pelo meu trabalho, então não me sinto mal. A minha vaidade é o meu bem-estar: penso na saúde.