A Santa Sé confirmou, na manhã desta segunda-feira (21), a morte do Papa Francisco, aos 88 anos, no Vaticano. O pontífice, que sofria com problemas de saúde nos últimos anos, faleceu às 7h35 no horário local (2h35 em Brasília), um dia após sua última aparição pública, durante a celebração de Páscoa na Praça de São Pedro.
“Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua Igreja”, declarou o cardeal camerlengo Kevin Farrell, que assumirá o comando temporário da Igreja até a eleição do novo papa.
Última aparição pública
Mesmo debilitado, o papa apareceu no Domingo de Páscoa para a tradicional bênção “Urbi et Orbi”. Em sua última aparição, Francisco percorreu a Praça de São Pedro no papamóvel, saudando fiéis, embora com a voz fraca e sem conseguir ler o texto completo, delegando essa tarefa a um de seus colaboradores.
O pontífice havia recebido alta hospitalar no final de março, após passar 38 dias internado com pneumonia infecciosa. Desde então, participou de poucas atividades e estava em recuperação, contrariando as recomendações médicas ao comparecer a compromissos como uma visita a uma prisão na Quinta-feira Santa.
Funeral será simples, como desejado
Seguindo as normas da Igreja, o funeral será realizado em até nove dias e contará com cerimônias abertas ao público. Francisco expressou o desejo por uma cerimônia simples, sem pompa nem exposição tradicional do corpo. Ele também optou por ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma — um gesto inédito em mais de três séculos.
O pontífice também reformou os rituais fúnebres do Vaticano, abolindo o uso dos três caixões (cipreste, chumbo e carvalho) e propondo um sepultamento mais discreto, com ênfase na fé e na espiritualidade, e não nos símbolos de poder.
Conclave e sucessão
Após o funeral, os cardeais do mundo inteiro se reunirão em Roma para o conclave que elegerá o novo papa. Quase 80% dos cardeais eleitores foram escolhidos pelo próprio Francisco, o que pode influenciar diretamente na escolha de seu sucessor.
Enquanto isso, o cardeal Kevin Farrell assumirá as funções administrativas do Vaticano como “papa interino”.
Um pontificado marcado pela simplicidade e pelo impacto social
Eleito em 13 de março de 2013, Francisco foi o primeiro papa jesuíta e o primeiro sul-americano a liderar a Igreja Católica. Natural de Buenos Aires, na Argentina, Jorge Mario Bergoglio marcou seu pontificado por uma forte defesa dos mais pobres, dos migrantes, da justiça social e da preservação do meio ambiente.
Sua encíclica “Laudato si”, publicada em 2015, foi um dos documentos mais marcantes de sua gestão, abordando questões ecológicas e sociais com um tom crítico ao consumismo e à desigualdade global.
Um papa presente, mesmo com a saúde frágil
Nos últimos anos, Francisco enfrentou problemas respiratórios, dores no quadril, no joelho e precisou usar cadeira de rodas. Em 2023, passou por uma grande cirurgia abdominal e cancelou diversos compromissos por ordens médicas.
Mesmo com as limitações, manteve uma agenda intensa e foi apelidado de “trabalhador incansável”, realizando até dez audiências por dia. Sua última grande viagem foi uma jornada de 12 dias pelo Sudeste Asiático e Oceania.
Uma figura de diálogo – e de críticas
Francisco também será lembrado por tentar reformar a Cúria Romana, valorizar o papel das mulheres na Igreja e combater escândalos financeiros e de abuso sexual. Ainda assim, foi alvo de críticas tanto de setores conservadores, que o consideravam pouco ortodoxo, quanto de grupos de vítimas de abusos, que esperavam atitudes mais enérgicas.
Ele também autorizou bênçãos para casais do mesmo sexo e limitou o uso da missa em latim – decisões que geraram polêmica entre os tradicionalistas.
O Papa que preferia a simplicidade
Francisco recusou o palácio apostólico e viveu num modesto apartamento de dois cômodos, num gesto que simbolizou seu desejo por uma Igreja mais próxima dos fiéis e menos ligada ao luxo. Ganhou a simpatia popular por sua postura humilde, seu jeito direto e suas mensagens acolhedoras.