A recente internação do papa Francisco por pneumonia e seu quadro de saúde considerado “complexo” têm levantado questionamentos sobre o futuro da liderança da Igreja Católica. Desde o dia 14 de fevereiro, quando foi hospitalizado no Gemelli, em Roma, o pontífice tem enfrentado altos e baixos, incluindo dois episódios de insuficiência respiratória aguda. Apesar disso, os boletins divulgados pelo Vaticano indicam que ele está consciente e, dentro de suas possibilidades, continua exercendo algumas funções.
A carta de renúncia e o futuro da Igreja
Em 2022, o papa Francisco revelou que assinou uma carta de renúncia em 2013, logo no início de seu pontificado. O documento, que ficaria em vigor em caso de uma doença incapacitante, foi entregue ao cardeal Tarcisio Bertone, então secretário de Estado do Vaticano. Hoje, a carta está sob a guarda do cardeal Pietro Parolin.
Segundo o teólogo e padre Dayvid da Silva, professor da PUC-SP, o pontífice está consciente e ainda consegue assinar documentos e preparar homilias. “A Igreja está rezando para que ele se recupere logo e retome suas atividades”, comenta o especialista à BBC News Brasil. No entanto, caso seu quadro de saúde se agrave a ponto de impedi-lo de governar, a carta poderá ser acionada.
A saúde do Papa e os desafios da liderança
Os boletins divulgados pelo Vaticano têm mantido os fiéis informados sobre a saúde do Papa, que, aos 88 anos, enfrenta um quadro clínico considerado “reservado”. Apesar das dificuldades, Francisco tem demonstrado resiliência, mantendo-se ativo dentro de suas limitações.
Filipe Domingues, vaticanista e professor na Pontifícia Universidade Gregoriana, explica que, quando o pontífice está bem, ele consegue ler documentos, aprovar textos e tomar decisões. No entanto, em momentos críticos, como durante crises respiratórias, suas atividades ficam suspensas. “Enquanto ele estiver consciente, o que não depende dele segue adiante”, afirma Domingues.
As lições dos papas anteriores
A experiência de João Paulo 2º e Bento 16 serve como referência para o atual momento. João Paulo 2º enfrentou um longo declínio devido ao Parkinson, enquanto Bento 16 surpreendeu o mundo ao renunciar em 2013, algo que não acontecia há quase 600 anos.
Esses precedentes abriram caminho para uma nova perspectiva na Igreja. Um religioso ligado ao Vaticano, que preferiu não se identificar, comentou que um líder visivelmente debilitado não é uma imagem conveniente para a instituição. “A renúncia de Bento 16 mostrou que é possível abdicar de forma digna”, destacou.
O papel do camerlengo e a bioética
Enquanto o papa Francisco permanece hospitalizado, o camerlengo, cardeal Kevin Joseph Farrell, assume um papel crucial. Ele é responsável por garantir a continuidade administrativa da Igreja em casos de vacância ou impedimento do pontífice.
Além disso, há um debate bioético sobre o uso de procedimentos médicos extremos. A Igreja Católica defende a vida até a morte natural, mas permite a interrupção de meios considerados excessivamente artificiais. Em 2017, o próprio Francisco declarou que é moralmente legítimo renunciar a intervenções que apenas prolongam o sofrimento.
O que esperar do futuro?
Enquanto a saúde do papa segue sendo monitorada de perto, a Igreja Católica se prepara para diferentes cenários. A carta de renúncia assinada por Francisco em 2013 pode ser um recurso em caso de incapacidade prolongada, mas, por enquanto, o pontífice segue lutando para se recuperar.
Os fiéis ao redor do mundo continuam rezando por sua melhora, enquanto os boletins divulgados pelo Vaticano mantêm todos informados sobre seu estado. Independentemente do desfecho, o legado de Francisco como um líder compassivo e reformista já está consolidado.
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