O Espiritismo e a Eutanásia
Rasgar as últimas folhas do carnê não elimina os débitos contraídos
O Uruguai acaba de aprovar a legalização da eutanásia. “O procedimento pode ser solicitado por qualquer pessoa diagnosticada com doença incurável que cause sofrimento físico ou psíquico “insuportável”, desde que considerada mentalmente capaz de tomar a decisão.” Esse é o texto da norma.
Muitas pessoas e organizações estão comemorando a medida e anunciando como um grande avanço, diferentemente do posicionamento da Igreja Católica local, frontalmente contrária à medida.
E o Espiritismo, como vê a questão?
Não raras vezes eu sinto a falta do posicionamento da Federação Espírita Brasileira diante de temas polêmicos, defendidos por uma parcela da população em nome dos avanços sociais, mesmo que contrários aos postulados básicos da Doutrina, cuja posição não está amparada em dogmas fundamentalistas, mas na clara visão sobre o processo evolutivo, a sobrevivência do espírito e o caráter indisponível da vida, desde a concepção até a consumação, mas isso é uma questão que não me compete avaliar.
Nós espíritas temos a clara consciência que a vida não iniciou na presente encarnação e, da mesma forma, não terminará no seu final, de modo que trazemos uma carga de informações e compromissos nessa existência, que devem ser administrados da melhor forma possível, lançando mão de todos os recursos da ciência para que esse período transcorra da melhor forma possível, mas que quando nem tudo for conforme nossa noção limitada de felicidade, tenhamos resiliência suficiente para enfrentar o desafio, por mais difícil que pareça.
Muita gente afirma querer viver enquanto tiver saúde, mas se esquecem que as doenças do corpo são muito importantes para a saúde da alma, desempenhado um papel fundamental no processo evolutivo, que inclui a mitigação de arestas amealhadas em outras oportunidades.
Religiões à parte, basta olhar as estatísticas: Sabemos que Deus nos deu o instinto de sobrevivência, e o respeito à vida é algo inerente à nossa natureza, de modo que ao mesmo tempo que vemos pessoas recorrendo a esse expediente, observamos milhões de criaturas convivendo com dificuldades extremas e, ainda assim, dando exemplo de amor à vida todos os dias.
Apenas uma minoria, cuja opinião até merece respeito, tem levantado essa bandeira, mas isso não lhes dá o direito de transformar o exercício do livre arbítrio de poucos, numa bandeira de avanço e modernidade para todos.
Não somos donos da vida! Decidimos como queremos viver e temos o direito de lutar pela qualidade em todos os sentidos, mas o tempo é de Deus e todas as experiências que atravessamos têm uma razão de ser justa.
Rasgar as últimas folhas do carnê não elimina o débito contraído, mas adia e encarece a quitação.
Edson Sardano