O trânsito brasileiro tem se consolidado como uma epidemia silenciosa, afetando diretamente a vida de milhões de pessoas e impondo uma carga cada vez mais pesada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo levantamento das Associações Brasileiras de Medicina do Tráfego (Abramet) e de Medicina de Emergência (Abramede), 227.656 internações hospitalares foram registradas em 2024 por sinistros terrestres. Isso equivale a uma vítima atendida nas emergências do SUS a cada dois minutos.
Os dados foram reunidos no contexto da campanha Maio Amarelo 2025, voltada à conscientização sobre saúde e segurança no trânsito.
Emergências lotadas, custos bilionários
Nos últimos dez anos, o SUS contabilizou 1,8 milhão de internações por sinistros de trânsito, o que resultou em um custo direto de R$ 3,8 bilhões aos cofres públicos, de acordo com dados do Ministério da Saúde analisados pelas entidades médicas. Esse valor cobre apenas despesas hospitalares, sem contar gastos com reabilitação, previdência e assistência social.
Para dimensionar, os R$ 3,8 bilhões seriam suficientes para:
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Construir de 32 a 64 hospitais de médio porte;
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Implantar até 35 mil quilômetros de ciclovias urbanas;
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Duplicar 505 quilômetros de rodovias federais;
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Adquirir mais de 15 mil ambulâncias básicas;
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Habilitar quase 13 mil novos leitos de UTI.
Jovens e motociclistas: os mais afetados
Segundo o levantamento, os motociclistas representam mais de 60% de todas as internações por sinistros de trânsito em 2024, somando cerca de 150 mil casos. Pedestres aparecem em seguida, com 16% das internações, e ciclistas e ocupantes de carros respondem por 7% cada.
O perfil mais comum das vítimas é o de homens jovens:
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78% das internações foram do sexo masculino;
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49% tinham entre 20 e 39 anos;
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15% dos casos envolveram pessoas com menos de 20 anos;
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9% foram de idosos, que, embora menos numerosos, apresentam maior risco de complicações.
Esses dados mostram que o impacto vai além das estatísticas: atinge diretamente a população economicamente ativa, com prejuízos à produtividade, à renda familiar e à qualidade de vida.
Crescimento preocupante
Entre 2015 e 2024, houve aumento de 44% no número de internações por acidentes de trânsito. Em 2015, foram 157.602 casos; em 2024, 227.656. O crescimento foi observado em todas as regiões do Brasil, especialmente nos estados com maior frota circulante.
Confira os destaques por região:
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Sudeste: 747.757 internações em 10 anos
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São Paulo: 387.991
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Minas Gerais: 218.402
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Nordeste: 514.702
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Bahia e Ceará ultrapassam 100 mil cada
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Paraíba e Sergipe dobraram seus registros
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Sul: 208.698
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Paraná lidera com 98.539
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Santa Catarina apresenta alta proporcional
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Centro-Oeste: 208.173
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Número de internações dobrou em 10 anos
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Goiás lidera com 98.343
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Norte: 157.656
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Pará concentra quase metade dos casos
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Amapá teve pico expressivo em 2024
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Uma tragédia evitável
As associações médicas alertam que a maioria dos sinistros poderia ser evitada com educação no trânsito, fiscalização efetiva, infraestrutura adequada e políticas públicas consistentes. Segundo os médicos, a ocupação de leitos por vítimas de trânsito representa uma perda dupla: recursos que poderiam ser investidos em prevenção e melhorias estruturais acabam sendo consumidos por emergências que poderiam ter sido evitadas.
A campanha Maio Amarelo reforça o chamado à responsabilidade compartilhada: Estado, sociedade e motoristas têm papel essencial na reversão desse cenário.
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