Rachel gestou as filhas gêmeas do irmão e da cunhada. - Foto: Arquivo Pessoal
HISTÓRIA DE FILME

Mulher gestou filhas do irmão que conheceu após 35 anos; quais as regras para barriga de aluguel?

Uma história real de adoção, reencontro e como uma irmã se tornou barriga de aluguel para realizar o sonho do irmão

Guilherme Giagio Publicado em 22/08/2024, às 12h43

Amor e genética: uma história verdadeira de adoção, barriga de aluguel e o significado da família. Esse é o nome do livro que conta a história de Mark McDonald e Rachel Elliot. A norte-americana, que conheceu o irmão quando ele tinha 35 anos, gestou os filhos dele.

Essa história curiosa começou em Portland, nos Estados Unidos. O engenheiro, que foi adotado e levava uma vida feliz com sua família, carregrava uma sensação de desconexão com seu entorno. À BBC, ele disse que, por ser muito visual, estranhava não ter semelhança com os familiares.

Ainda assim, não pretendia procurar a família biológica. Até que se casou com Tina, e o casal descobriu que não poderia ter filhos, um dos grandes sonhos de Mark: "Quando soube que não poderíamos ter filhos, comecei a pensar na minha família. Sou uma boa pessoa, e queria passar meus genes adiante".

O engenheiro decidiu procurar a família biológica após descobrir que não poderia ter filhos com a esposa. Foto: Freepik

 

Até que sua pesquisa deu resultado. Após processos burocrátivos e três anos, o engenheiro, que estava com 35 anos, recebeu um telefonema do governo: tinham encontrado sua família biológica e forneceram os dados.

A reunião da família após 35 anos

Junto, vieram mais notícias: que seus pais ainda estavam e ele tinha três irmãos. A família vivia em Raleigh, na Carolina do Norte, no leste dos EUA, uma distância de 3 mil quilômetros dele — como do Rio de Janeiro a Manaus. Eles também queriam o encontrar, mas, pelas leis locais, Mark é quem deveria dar o primeiro passo.

A partir daí, foram telefonemas, e-mails e tudo que tinha direito com a mãe e os irmãos biológicos. A mais nova, Rachel Elliot contou como reagiu à primeira mensagem: "Quase morri de tanta alegria". Depois de muita conversa, os irmãos decidiram se encontrar.

Os irmãos Mark e Rachel se encontraram pela primeira vez no aeroporto de Portland, quando ele tinha 35 anos. Foto: Arquivo Pessoal

 

Ela voou até Portland para encontrar Mark e a cunhada: "Dei um abraço nele sem avisar, coloquei as duas mãos em seu rosto, e falei: 'Você é real'", relembrou. E a conexão entre os irmãos foi instantânea: "Eram muito parecidos comigo. O senso de humor, as manias, a forma como pensavam".

Barriga de aluguel para o irmão

Um fim de semana juntos. Depois, de volta à rotina de troca de e-mails. Até que Mark contou que queria ter filhos, mas ele e Tina não poderiam. Rapidamente, Rachel pensou na ideia, ainda sem dizê-la. A possibilidade pairou por dias, mas ela precisava conversar com o marido, o pastor Curtis.

Até que acabou soltando a ideia. E ele, para a surpresa da esposa, aprovou a proposta de reprodução assistida. Poucos meses depois, Rachel e Curtis foram ao encontro de Mark e Tina. Ela superou o receio de oferecer ajuda ao irmão e à cunhada, e tudo deu certo - até porque ele já havia cogitado pedi-la.

Entre muitos exames e consultas médicas, ela voltou à Porland, onde os embriões formados a partir dos espermatozoides de Mark e dos óvulos de Tina foram implantados em seu útero. Na véspera de natal, a confirmação da gravidez. E eram gêmeas.

Junto da alegria, o período também foi marcado por desafios. Segundo Mark, a esposa teve que se adaptar ao fato de que outra pessoa estava carregando suas filhas. Somado a isso, o preconceito, já que a reprodução assistida é motivo de polêmica.

"Lidar com isso fisicamente foi difícil. Os quartos não eram grandes o suficiente para tanta gente. Alguns técnicos de ultrassom nos apoiaram muito, achavam que o que havíamos feito era maravilhoso, mas outros ficaram claramente desconfortáveis", relembrou Mark, ainda à BBC.

As meninas nasceram em agosto do ano seguinte. Curtis, Mark e Tina só entraram na sala de parto após muita insistência com a equipe médica. O nascimento também marcou a primeira vez que as famílias adotivas e biológicas do engenheiro se reuniam.

A lei local

Segundo a lei da Carolina do Norte, Rachel era considerada mãe das meninas porque deu à luz. Curtis, o marido dela, foi automaticamente reconhecido como pai, também estabelecido pela lei local. A família precisou precisou entrar com uma ação judicial para reconhecer Mark como pai legalmente. Posteriormente, Tina teve que adotar legalmente as gêmeas para ser considerada mãe.

A tia, que gestou as meninas, reforçou seu amor pela dupla, mas decidiu não se envolver diretamente na criação delas: "Moro longe, do outro lado do país, e estava criando minhas próprias filhas. Também sentia a necessidade de deixar Mark e Tina, que são os pais, cuidarem das gêmeas", disse.

Mark e Tina com as duas filhas, que hoje têm 15 anos. Foto: Arquivo Pessoal

 

Hoje, as meninas são adolescentes felizes de 15 anos. No entanto, Tina faleceu após lutar contra a leucemia, diagnosticada há quatro anos, e posteriormente contra um tumor cerebral. A relação familiar seguiu forte depois de todo esse percurso.

A história foi registrada no livro 'Love & Genetics: A true story of adoption, surrogacy, and the meaning of family ("Amor e genética: uma história verdadeira de adoção, barriga de aluguel e o significado da família", em tradução livre).

Vale lembrar que, no Brasil, a comercialização da barriga de aluguel é ilegal. O processo só é permitido em casos em que a mulher tem ligação sanguínea com o casal. Por isso, o termo mais adequado é "barriga solidária" ou "doadora de útero", já que o aluguel pressupõe o pagamento em contrapartida. Nos demais casos, é preciso da autorização expressa do Conselho Regional de Medicina.

No âmbito religioso, o papa Francisco, chefe supremo da Igreja Católica Romana, já discursou contra a prática em qualquer circunstância. Em janeiro, o pontífice declarou: “Considero deplorável a prática da chamada maternidade de aluguel. Representa uma grave violação da dignidade da mulher e da criança".

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