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EDUCAÇÃO

Bater educa? Amor estraga?

Por que nossa sociedade recebe tão mal a agressão contra idosos e, quando o assunto é bater em crianças, a mesma agressão torna-se tolerável? Bater educa? Amor estraga?

Lígia Menezes, editora de AnaMaria Digital Publicado em 07/09/2024, às 09h00

O que você faria se visse um homem batendo em uma mulher? Uma mulher batendo em um idoso? Certamente, interviria, não é?

E se visse uma mãe (ou um pai) batendo em seu filho?

Por que, para a sociedade, bater em uma criança, muitas vezes, é aceitável, com o intuito de educar? Por que, mesmo tendo lei que protege as crianças de agressão, as pessoas tendem a criticar quem não é adepto à violência para educar?

Quando engravidei, achava que era ok dar uma palmadinha. E, conversando com meu marido, abri os olhos para a realidade. Eu tive uma infância inteira de amor, nunca apanhei dos meus pais. Já ele tomava uns “corretivos” enquanto criança, se é que você me entende… E, entre papos e papos, ele me explicou como isso afetou sua realidade, sua autoestima e confiança e, felizmente, decidimos que jamais - JAMAIS - bateríamos em nosso filho. E isso foi uma virada de chave para mim.

Palmadas, gritos, grosserias, me comprometi comigo mesma que não faria isso com a inocência de meu filho. E eu teria que me reeducar para tanto, principalmente em relação aos gritos e grosserias, que escapam quando eu estou descompensada.

Afinal, o que esperamos ensinar para as crianças em meio a palmadas e gritos? Como ensinar que não pode bater no amiguinho, batendo nela? Que não pode gritar com a mamãe, gritando com ela? Que ele precisa ser educado com todos, sendo grossos com ele? No mínimo contraditório, não?

Afinal, amar é mimar? Bater é educar?

A violência contra crianças continua sendo uma realidade em todo o mundo. De acordo com o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mais de 102 mil crianças e adolescentes foram vítimas de violência no Brasil em 2022. Em 2023, houve um aumento significativo nas denúncias e o número mais que dobrou, totalizando mais de 228 mil registros em todo o país. Triste, né?

Vale lembrar que a violência contra a criança não se dá apenas de maneira física. Ela pode ser psicológica e verbal. E todas essas formas de violência podem acarretar danos emocionais duradouros, prejudicando o desenvolvimento saudável das crianças.

Quais são as consequências de tudo isso? Consequências psicológicas sérias, como estresse, que prejudica o aprendizado e a memória, agressividade, ansiedade, baixa autoestima, medo, insegurança, culpa, distúrbios do sono e dificuldades de adaptação escolar. 

Dói pensar em nossos filhos sentindo tudo isso, né?

Sabemos também que a punição corporal pode tornar as crianças mais suscetíveis à rebeldia, vingança, bullying e à prática de delitos. Mais suscetíveis ao abuso, a terem relacionamentos nada saudáveis quando adultos.

Por dentro deste raciocínio...

Estudei muito durante a gestação para entender o que é ser mãe, entender como funciona o cérebro da criança, seus níveis de compreensão e entendimento - e ainda estudo. Sei que  o exemplo é a base da educação, que a criança copia 100% o que vê seus principais cuidadores fazendo. Então, como podemos bater e esperar que a criança seja doce e não violenta? Gritar e esperar que ela seja meiga com os outros e não agressiva?

Entendi também que esse tipo de atitude é a maneira que os adultos encontram de descarregar sua frustração. São as nossas birras. Como julgar uma criança que faz birra, por não saber lidar com as frustrações, se fazemos o mesmo? - E, detalhe, já temos nosso cérebro plenamente formado!

Não há mãe e pai perfeitos. A gente erra, mas é importante estarmos conscientes de nossas atitudes para evoluirmos. 

Amor educa! Amar não é mimar!

Sim, é possível educar sem violência. Amor não estraga. Amar não é mimar. 

Educar sem violência é educar à base do diálogo, explicar as consequências dos comportamentos inadequados, considerar os sentimentos da criança, discuti-los. Não é porque sou adulta que posso impor minhas vontades.

É preciso ter empatia, se colocar no lugar. Tudo isso é mais eficaz no longo prazo do que bater e gritar. E isso nos ajuda com as relações com outras pessoas também, é uma lição para a vida toda.

Ser o exemplo, elogiar, ouvir, cumprir as promessas, ter paciência… Paciência, repetir as mesmas coisas mais de uma vez, mais de 10, mais de 20 vezes… sempre conforme cada fase da criança, cada possibilidade e nível de entendimento.

E assim seguimos nossa jornada, como pais, como seres humanos.

Se você gostou do que leu e assistiu, envie para uma mãe que se sente sozinha, para um pai que precisa dessas palavras agora.

Eu sou Lígia Menezes, editora de AnaMaria Digital e mãe de um menininho de 3 anos. Também sou autora dos livros ´Mãe de Primeira Viagem´ e ´Wonderful Two, os maravilhosos dois anos de idade´ (em edição), além de dois livros infantis, um sobre vegetarianismo e outro sobre a perda de um cãozinho

 

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