O mês de dezembro marca não apenas o encerramento do calendário, mas também o início de um período em que cozinhas ao redor do mundo ganham protagonismo.
À medida que as festas se aproximam, países de diferentes continentes recorrem a receitas que atravessaram gerações e que hoje ajudam a preservar memória, simbolismo e identidade cultural. Para o chef Will Peters, do Saza Cozinha, de Curitiba, observar o que cada povo leva à mesa é uma forma de entender como as famílias celebram essa época do ano.
Afinal, a mesa de fim de ano é quase um mapa afetivo. “Gastronomia é uma forma de contar histórias. Quando analisamos o que cada país coloca na mesa em dezembro, entendemos mais sobre suas memórias, seus ancestrais e seus valores. Entendemos como as famílias pelo mundo celebram essa data. É um mapa cultural feito de sabores e sotaques”, afirma.
A seguir, ele detalha alguns dos preparos mais tradicionais de diferentes regiões e o significado por trás de cada um.
Itália
No país, dezembro traz duas receitas emblemáticas. O panettone, criado em Milão, tornou-se símbolo mundial da época natalina. Já o tortellini in brodo, comum em regiões como Emilia-Romagna, reúne técnica e afeto em um caldo quente que costuma abrir as refeições festivas. Peters explica que, para os italianos, cozinha é sinônimo de família e continuidade, algo evidente nesses pratos.
Alemanha
O Stollen, pão doce com frutas secas e marzipã, é presença obrigatória nas comemorações alemãs. Recheado de aromas que remetem aos mercados de Natal, o doce é acompanhado por pretzels festivos, que ganham versões com açúcar e especiarias para marcar a temporada.
França
Os franceses mantêm viva a tradição da Bûche de Noël, um rocambole decorado para lembrar um tronco de madeira. A referência remonta ao costume ancestral de queimar toras no inverno para purificação e boa sorte. “A França é o berço da alta confeitaria, e a Bûche traduz isso perfeitamente. É técnica, história e estética num só prato”, comenta Peters.
México
No Natal mexicano, os tamales são preparados em família, com massa de milho e recheios variados. Para acompanhar, o Ponche Navideño, bebida quente feita com frutas e especiarias, ajuda a aquecer as noites de festa. A combinação destaca a intensidade e o espírito comunitário das celebrações no país.
Austrália
Como o fim do ano coincide com temperaturas altas, os australianos apostam em pratos frescos e coloridos. A Pavlova, sobremesa de merengue servida com frutas, costuma dividir espaço com pratos de frutos do mar. A mesa tende a refletir o clima do país, com refeições ao ar livre e combinações leves.
Noruega
O Lutefisk, peixe seco reidratado, mantém viva uma tradição que tem origem nas práticas nórdicas antigas. Para adoçar o cardápio, o Kransekake, bolo em formato de torre feito com amêndoas, simboliza prosperidade e costuma ser compartilhado nas festividades.
Brasil
O Natal brasileiro combina influências europeias com a diversidade de sabores locais. Peru, farofa, salada de maionese e rabanadas dividem espaço com frutas como manga, abacaxi, uvas e cerejas. Para Will Peters, esse conjunto reflete a pluralidade do país e a forma livre com que as tradições são reinterpretadas. “O Brasil tem uma mesa única, acolhedora e plural. É um dos países que mais mistura tradições com liberdade criativa”, avalia.
Mesmo com tanta diversidade culinária, Peters destaca que há um ponto que atravessa todas as culturas. “As festas de dezembro não são apenas sobre comer, são sobre pertencimento. Cada prato, em qualquer lugar do mundo, carrega um significado que atravessa gerações”, finaliza o chef.
Resumo:
Receitas de fim de ano variam de acordo com a cultura, mas todas carregam história e simbolismo. De panettone a tamales, passando por Pavlova e rabanadas brasileiras, cada prato revela tradições e afetos que se repetem há décadas. Para o chef Will Peters, a mesa é o principal elo entre memória e celebração.
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