A atriz Maria Padilha é daquelas pessoas boas de conversa e que não foge de nenhuma pergunta, seja sobre trabalho ou vida pessoal. Com mais de 40 anos de carreira, ela já interpretou inúmeros personagens de destaque não apenas na TV, mas também no cinema e no teatro.
Apenas na Globo, a atriz coleciona sucessos com atuações memoráveis em novelas como ‘Água Viva’, ‘Anjo Mau’, ‘Mulheres Apaixonadas’ e ‘O Cravo e a Rosa’. A trama de Walcyr Carrasco, aliás, está sendo reprisada atualmente nas tardes da emissora carioca e alcançando, mais uma vez, altos índices de audiência.
Na pele de Dinorá, Maria Padilha diz que esta foi, sem dúvidas, uma das novelas ‘mais felizes’ das quais já participou. “Até hoje, em meu Instagram, me chamam de manga rosa, de divina, falam do Cornélio. Virou uma coisa muito marcante mesmo”, destaca ela, em conversa exclusiva com AnaMaria Digital.
O retorno do folhetim, inclusive, fez com que os fãs da atriz ficassem ainda mais saudosos de vê-la novamente em um projeto inédito na TV, visto que seu último trabalho foi em 2015, na novela ‘A Regra do Jogo’. Na realidade, este também é um grande desejo da atriz, que tem se dedicado mais ao teatro nos últimos anos. “Eu tô super aberta para voltar, adoro fazer novelas”, afirma.
MATERNIDADE
Um dos motivos que fez com que a estrela negasse convites para atuar durante um tempo foi a decisão de adotar uma criança. “Já neguei trabalhos porque achava que poderia estar no meio de uma novela e estar nessa situação [de conseguir a guarda], mas quando deixei de fazer isso, ele veio”, diz. Manoel chegou na vida da atriz com 5 meses de vida, em 2012, quando ela estava no ar em ‘Lado a Lado’.
A voz de Maria, hoje com 61 anos, ganha um tom todo especial quando fala do filho. Mãe coruja, ela faz questão de destacar o quanto a maternidade mudou sua vida. “Eu tenho um filho lindo mesmo”, se derrete.
Confira o bate-papo na íntegra!
‘O CRAVO E A ROSA’
1- A novela foi um grande sucesso na primeira vez em que foi ao ar e também agora, com a nova reprise. Como foi participar do projeto?
Maravilhoso. ‘O Cravo e a Rosa‘ foi inicialmente pensada como uma novela de 80 capítulos, e eu não sei em qual deles a história se mostrou com todo aquele potencial de sucesso, aí decidiram aumentar para 221. O [autor] Walcyr Carrasco, com sua genialidade de contar histórias e criar personagens, conseguiu aumentar em 140 capítulos, ou seja, praticamente escreveu uma outra novela. Acredito que os personagens acabaram tendo muito espaço, e eram todos muito bons, bem escritos, com diálogos ótimos. Adorei fazer parte, pois foi uma das novelas mais felizes que já fiz.
2- Na época, você esperava que a obra conquistasse tanto o público como aconteceu?
A gente nunca espera, né? O Walter Avancini dirigia muito bem, o elenco era bem escalado, com atores muito bons e adequados. Além disso, os personagens e figurinos eram lindos, tudo parecia ser muito legal e eu era muito feliz fazendo. Mas não imaginava que viraria quase que uma novela icônica. Até hoje, no meu perfil do Instagram, me chamam de manga rosa, de divina, falam do Cornélio [que era marido de sua personagem na trama]. Virou uma coisa muito marcante mesmo. Penso que ninguém esperava esse sucesso, ou que a novela já estivesse em sua 3ª reprise na TV Globo e ainda conquistasse tanto o público. Depois que ela estava no ar, porém, adorava ver!
Como na época não tinha Globoplay, eu gravava e assistia o capítulo inteiro após chegar das gravações. Dava muito prazer em assistir, e não apenas as minhas cenas, mas adorava ver todos os personagens, os diálogos saborosíssimos, eles falavam cada coisa entre si [risos]. Eu acho muito engraçada e muito bem escrita”.
3- Por falar em público, como é para você ter esse retorno e carinho dos fãs? Eles costumam ser mais ousados ou mais respeitosos quando te encontram?
Acho muito legal ter esse retorno e carinho, especialmente depois de um trabalho que fizemos com tanto empenho. Quando me encontram na rua, os fãs são super respeitosos, já na internet é mais ‘terra de ninguém’, então são um pouco ousados muitas vezes.
4- A reprise, inclusive, fez com que eles ficassem ainda com mais saudades de te ver em uma nova novela. Já tem planos de voltar às telinhas?
Não tenho planos agora, não, mas estou aberta. Inclusive, faria uma novela que já está sendo gravada, e tinha tratado o personagem e tudo. Só que as tramas agora, com a coisa da pandemia, estão todas escritas, né? Essa já havia sido escrita até o capítulo 80, e me chamaram quando só tinham 12 capítulos, mas a minha personagem não se desenvolveu da maneira que os diretores esperavam, então resolvemos que era melhor eu não fazer. No entanto, estou super aberta para voltar.
5- E sente falta de fazer novelas? Vários atores já comentaram em entrevistas que é um processo longo e cansativo. Você acredita que esse ritmo mais insano de trabalho cabe na sua vida hoje?
Cabe e sempre caberá, porque damos um jeito, né? Já trabalhei com Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg… As duas estavam fazendo uma novela super cansativa, com personagens imensos e ainda fazendo teatro ao mesmo tempo. Eu também já fiz teatro com novela ao mesmo tempo, a gente se organiza. E confesso que sinto falta de trabalhar em novelas, que são um verdadeiro fenômeno no Brasil.
Primeiro que elas são super bem feitas. Se olharmos os 221 capítulos de ‘O Cravo e a Rosa’, por exemplo, não veremos nenhuma cena ruim. É um fenômeno, né? Quando é novela das nove, então, são praticamente quase cinco longas-metragem por semana! É cansativo? É! Mas é bom, e tudo que é bom é cansativo.
PANDEMIA
6- E além dessa questão de trabalho, como foi, pra você, lidar com aquela fase mais extrema do isolamento social?
Em relação ao trabalho, até consegui fazer uma peça online, chamada ‘Diários do Abismo’, e participar de um filme no ano passado. Neste ano, além de uma participação em uma série, fizemos uma peça de teatro que ainda está caminhando. Como temos um processo de trabalho online muito interessante, então tive alguns respiros.
Mas a fase extrema do isolamento social, como foi difícil! Acho que está sendo até agora, né? Eu fazia aulas online para treinar o corpo, vi muita série e cuidei do meu filho, que tinha aulas online. Fiquei de inspetora chatérrima, porque eles têm dificuldade de se concentrar por muito tempo. Então, foi uma luta!”
Acredito que essa pandemia é uma guerra também. Além de lutar contra o vírus, esta é uma luta contra nós mesmos, no sentido de nos mantermos sem surtar. De se manter equilibrado mentalmente, espiritualmente e fisicamente mesmo.
7- Perdemos grandes nomes do mundo artístico neste período também. Isso mexeu com você, de alguma forma?
Grandes nomes perderam a vida para o vírus e também por outros motivos, e isso mexeu muito comigo, claro! Foram muitos amigos, além de pessoas que eu admirava demais. O Paulo Gustavo, por exemplo. Apesar de não ser próxima, fiquei arrasada, pois sou apaixonada pelo trabalho dele, coisa de fã mesmo, além de ver toda a estrutura familiar que o cercava, com dois filhinhos pequenos, marido, a mãe… Além dele, outras pessoas menos famosas se foram, então são vários lutos. É como se estivéssemos em uma guerra, perdendo gente e tendo que nos manter bem, porque existem pessoas que ainda dependem da gente.
8- Ainda dentro do tema ‘efeitos da pandemia’, a situação atual do Brasil te preocupa? Em sua opinião, o que é preciso ser feito para melhorar?
Me preocupa, sim, porque temos uma crise política, econômica e ainda a pandemia, né? Pessoalmente, porém, a minha maior preocupação é com a crise econômica. Tem muita gente que precisa trabalhar e não está conseguindo, especialmente agora, com a ômicron. A maioria da população brasileira está numa situação de muita dificuldade. E que é preciso ser feito para melhorar? Tanta coisa! Olhar para a questão da distribuição de renda, principalmente, além de cuidar da educação e saúde. Nossa concentração de renda é indecente e os serviços públicos ainda são muito frágeis, principalmente a educação. E vale ressaltar que a cultura não é inimiga do povo, e deveria ser vista junto com a educação, nunca separadas.
Não sou uma expert em economia e política, mas acredito que a primeira coisa que temos que fazer, como cidadãos, é prestar muita atenção em quem votamos, pois precisamos que os políticos escolhidos estejam à favor de nosso país.”
CARREIRA
9 – Você sempre quis ser atriz? Como essa carreira surgiu na sua vida?
Desde criancinha eu fazia teatro, tanto que minha primeira peça foi na escola e aos cinco anos, acredito. Também morávamos em uma casa com jardim, então eu e meus primos criávamos alguns enredos, figurinos… até pegávamos gelo seco em um depósito de sorvete para fazer fumaça. Sempre tive esse lado de criar uma outra realidade, talvez por necessidade até, mas não achava que seria uma atriz profissional, não era um lugar que me colocava. Inclusive porque era uma criança ainda, e essa não era uma profissão que os pais davam força, que queriam que os filhos estivessem.
Tinha uma prima, um pouco mais velha do que eu, que entrou no Teatro Tablado, aqui no Rio de Janeiro (RJ), e que me levava para ver uns ensaios dirigidos pela Maria Clara Machado, algo que me deixava encantada. Acabei entrando no curso sem assumir que queria ser atriz, apenas para fazer aulas de teatro e me divertir”.
Cheguei, inclusive, a fazer vestibular e passei para a faculdade de Desenho Industrial, porque não acreditava que ser atriz fosse uma profissão. Cheguei a cursar dois anos, mas aí o teatro voltou para a minha vida de uma maneira muito forte e, quando vi, já estava fazendo [a peça] ‘O Despertar da Primavera’, estava em novela… Tranquei a matrícula da faculdade e nunca mais abri!
10- Em meio a tantas personagens que interpretou, qual foi a mais marcante para você? E a mais difícil de interpretar?
Essa é uma pergunta difícil de responder, porque as personagens difíceis de fazer costumam ser as mais marcantes. E tenho alguns no teatro, cinema e televisão. Como tinha bastante dificuldade em fazer novelas, pois achava difícil a linguagem, uma personagem marcante foi a Karen, de ‘O Dono do Mundo’. E havia acabado de fazer ‘Mico Preto’, que foi a primeira novela em que encontrei um tom para mim como atriz. Esses personagens mais cotidianos, no entanto, eu tinha dificuldades de fazer.
A Dinorá, de ‘’O Cravo e a Rosa’, também foi bastante marcante, pois o [diretor Walter] Avancini era muito exigente com quase todo mundo, mas comigo era mais e confesso que gostava, pois me dava um ‘lugar’, e eu estudava muito. Depois, teve a Hilda, de ‘Mulheres Apaixonadas‘, que foi difícil por ser um personagem muito normal e feliz, sem grandes dramas. Como ela vivia ouvindo o problema dos outros, era difícil de fazer. Aí, de repente, ela vem com aquela doença [um câncer de mama]… Foi difícil, mas foi bacana.
11- Ainda sonha em dar vida a algum papel específico?
Não! Na verdade, sonho estar em uma situação legal, com um personagem bacana, um bom diretor e um ótimo autor. Isso em qualquer meio, seja no teatro, cinema ou televisão, com atores e atrizes bons para contracenar em volta… Ou seja: sonho em estar numa situação bacana, mas não com um personagem em específico.
12- Aproveitando o gancho, você fez muitas amizades no meio artístico? Quem faz parte do seu círculo mais próximo até hoje?
Tenho, e são como minha família, né? As pessoas mais próximas mesmo são o Miguel Falabella, que eu conheci muito jovem e a Glorinha [Pires] também, com quem mantenho contato e a gente batalha para estar sempre próximo. Tem também o Ney [Latorraca], que conheci lá no início da minha carreira, quando tinha 20 anos, mas fiquei próxima mesmo depois de ‘Um Cravo e a Rosa’. Também resgatei um pouco a Luciana Braga, que foi minha aluna e temos nos visto mais, por sermos vizinhas. O Pedro Paulo Rangel, com quem falo ao telefone de vez em quando, o Amir Haddad, que me dirigiu, a Camila Amado, que eu estava muito próxima e nos deixou. Além deles, tem o Chico Diaz, meu amigo desde que começamos a carreira e a Silvinha Buarque… Acho que seria difícil enumerar todos, mas o meio artístico é minha família e tenho grandes amizades. São pessoas que eu amo e respeito demais nesse meio.
MATERNIDADE
13 – Vamos falar de família? Você tem um filho lindo, o Manoel. Como é a Maria Padilha mãe?
Eu tenho um filho lindo mesmo! A Maria Padilha mãe, como quase todas as mães, está sempre meio ocupada e achando que poderia ter feito mais e melhor. No entanto, tenho um lado que as pessoas comentam e que acho legal: de não ter muitas expectativas em relação ao Manoel, pois quero apenas que ele seja feliz. Pode ser porque a minha mãe tinha muita expectativa em relação a mim e precisei fazer terapia, não sendo algo tão bom. Agora, quero que ele tenha os instrumentos para ser feliz e aceite que a vida não é só felicidade, mas tem momentos infelizes e que te fazem crescer. A ideia é que o Manoel consiga estudar para ter instrumentos na hora de escolher uma boa profissão, a que ele gostar mais. Só não projeto muita coisa, apenas que ele faça o que o deixa feliz.
14- Sabemos que o processo de adoção no Brasil é longo. Esse tempo de espera foi angustiante para você? Você se preparou de alguma forma durante esse período antes da chegada do Manoel?
Realmente é bem longo, com muita burocracia e poucos profissionais para dar conta de tudo. O que é um absurdo, pois milhares de crianças chegam a ficar até os 18 anos em abrigos por conta da situação embaraçada. Confesso que o tempo de espera até a chegada do Manoel foi extremamente angustiante. Muitas vezes, me questionei se aquele havia sido o melhor caminho, ou se não teria sido melhor ter feito inseminação artificial, pois achava que nunca teria a minha criança. Me preparei participando de grupos de adoção, que são obrigatórios de se frequentar, mas não fiz muito mais do que isso, não.
Quando me contataram para avisar do Manoel, precisaria buscá-lo dali uma semana. Acabei, porém, pedindo um prazo de 10 dias, pois não tinha berço, mamadeira ou outras coisas do tipo em casa.”
Na época, neguei trabalhos porque achava que poderia estar no meio de uma novela e estar nessa situação [de conseguir a guarda], mas quando deixei de fazer isso, Manoel veio. Ou seja: fiz ‘Lado a Lado’, em 2012, com essa loucura de estar montando uma estrutura para um bebê, além de ficar angustiada por achar que poderia ficar mais tempo com ele. Trabalhei isso na terapia e hoje estou bem, pois fiz o melhor que pude.
15- Você é vaidosa? Quais cuidados costuma ter em relação a beleza e saúde? Como é sua rotina, o que gosta de fazer no dia a dia?
Fiquei com o passar dos anos, pois a gente começa a ver que precisamos nos cuidar, né? Mas não é nada muito extremo, pois sou um pouco preguiçosa e não tenho muita paciência para cremes, apesar de ter duas dermatologistas muito boas. Acredito ser mais importante o que a gente come e bebe. Também tive a sorte de nunca gostar de cigarro e beber muito pouco, socialmente. Notei que, desde a chegada do Manoel, comecei a me cuidar mais, pois quero durar bastante para estar aqui pra ele.
Estou mais empenhada nos exercícios físicos. O crossfit, por exemplo, me deu um condicionamento físico muito legal. Acredito que me cuido, mas sem ser obsessiva, pois envelhecer é inevitável e não tem jeito. Penso que temos que cuidar do cérebro, pois é a curiosidade e o interesse pelas coisas que nos mantém vivos e jovens.”
16- Para finalizar, quais seus planos para o futuro?
O primeiro é sobreviver sem grandes problemas a essa pandemia, que agora voltou a ficar perigosa de novo. O outro é uma peça que já está com elenco, com direção, e já começamos a trabalhar nela, mas estou esperando a resolução de um pequeno entrave burocrático para começarmos a fazer. Tem algumas coisas no streaming, mas não está nada certo, então não dá para falar. Por fim, gostaria ainda de fazer televisão, uma novela. O plano geral é estar bem para, quando me chamarem, eu estar preparada.