Antes de mais nada, já vamos esclarecendo este tópico: criança pode respirar pela boca? A resposta direta é: NÃO. Verdade seja dita, a respiração bucal pode ocorrer em alguns momentos da vida, mas não por períodos mais prolongados.
Vale esclarecer, no entanto, que a respiração bucal ocorre e é esperada durante a prática esportiva ou quando a criança está com um quadro gripal. Já quando a boca assume a função respiratória por um período mais prolongado, vale procurar ajuda médica.
Nas crianças, especificamente, precisar abrir a boca para respirar, fora das situações mencionadas, deve chamar atenção. Tudo por conta do período de crescimento craniofacial, com todas as repercussões que respirar pela boca pode causar. Isto engloba desequilíbrio no crescimento da face, posição de dentes, desenvolvimento de mandíbula, maxilar, entre outros.
COMO FUNCIONA?
A boca tem a função de fala e mastigação, enquanto o nariz é o principal responsável pela respiração. Essas duas estruturas são divididas pelo osso palatino, conhecido como “céu da boca”. Isso significa que o céu da boca e o chão do nariz são o mesmo osso.
Quando a respiração é predominantemente bucal, o céu da boca fica arqueado, condição que chamamos de palato ogival. Neste caso, além de deixar o nariz mais estreito, os músculos de mastigação ficam relaxados, os lábios não ficam selados e a língua pode escorregar para a frente, entre os dentes.
Fora isso tudo, podem ser associadas alterações na mordida (mordida cruzada, aberta, etc), desalinhamento ou apinhamento dos dentes, diminuição de desenvolvimento da maxila e da mandíbula (ossos da face e queixo).
Isto sem falar na mastigação! A respiração bucal atrapalha o posicionamento da língua e toda a execução e eficácia da mastigação. Dá pra imaginar, mastigar e respirar simultaneamente, todos os dias? Isso se a criança não tentar falar também. Sem mencionar a tradicional bronca: “mastiga com a boca fechada!!”
Na maioria dos casos a respiração bucal é devido a obstrução nasal. Nas crianças, as principais causas de obstrução respiratória são as rinites e o aumento da adenoide, mais conhecida como carne esponjosa. Ela fica no fundo do nariz e pode causar dificuldade respiratória na infância.
Além da respiração bucal, outro sinal sugestivo decorrente deste aumento são alterações no sono, causando roncos, apneia do sono, sono agitado e não reparador, o que leva a dificuldades ou atrasos no aprendizado. No caso das rinites, os sintomas são obstrução nasal, coriza, espirros e coceira. Assim, se uma criança respira pela boca de maneira contínua ou intermitente, deve-se determinar o motivo.
E COMO RESOLVE?
A avaliação inicial é, na maioria das vezes, multidisciplinar. Um médico otorrinolaringologista avalia a parte respiratória para determinar se existe alguma obstrução, indicando o tratamento adequado, seja ele clínico ou cirúrgico.
Já os distúrbios de mordida e dentários são avaliados por um dentista, que vai ver a necessidade de uso de aparelhos ou outras estratégias de abordagem, de acordo com a idade. As alterações de mastigação, posicionamento lingual e fraqueza da musculatura mastigatória são avaliadas e tratadas pelo fonoaudiólogo.
A dica principal para os pais e cuidadores é observar a criança. Como ela mastiga, se faz ruído ao dormir e se a boca fica entreaberta e sem selamento dos lábios. Na dúvida, procure um profissional de confiança.
*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves