Com 47 anos de carreira, Olga Bongiovanni traz na bagagem muita experiência, dedicação e simplicidade. E uma legião de fãs considerados amigos, cujos laços se fortaleceram ainda mais com a pandemia. Foi quando ela abriu as portas de sua casa para mostrar que é gente como a gente.
De volta à CBN e à frente do ‘Divina Receita’, exibido pela TV Evangelizar e no YouTube, gravado em sua residência, ela se reinventou num momento de dificuldades para todos. Começou postando vídeos em que aparecia executando tarefas comuns a qualquer um de nós.
“Estava enclausurada e o público reclamava por eu não estar mais na televisão aberta. Os seguidores me viram plantar, colher e fazer receitas. A TV também viu e me convidou para o programa. Eu não tinha ideia do bem que faria a mim e ao público”, disse.
Dona de uma personalidade forte, a apresentadora não titubeia em momento algum. Aplica-se a ela o velho e bom ditado ‘Se a vida te der um limão, faça uma limonada’.
A apresentadora conversou com a AnaMaria: “Estou cansada de filtros e felicidade maquiada. Não faço parte desse mundo que não existe”. Não há dúvida de que a identificação que milhares de seguidores tiveram ao vê-la com a mão na massa é a alma do sucesso de sua mais recente empreitada.
Como surgiu a ideia do Divina Receita?
No início da pandemia, eu fui muito cobrada pelos meus seguidores para fazer receitas práticas e econômicas. Muitas pessoas nunca tinham cozinhado. Então, passei a fazer uma live por semana com a mão na massa. A TV viu, gostou e me contratou.
Culinária sempre foi uma paixão para você?
Sempre, desde os meus 6 anos de idade tenho um pé na cozinha. Aprendi logo cedo! Aliás, mulheres da minha geração tinham que aprender tudo sobre os cuidados com uma casa, roupas, cozinha, jardim, horta. Fui educada assim… para casar e ter filhos. Era inconcebível uma jovem não saber cuidar de uma casa. Aprendi tudo que me ensinaram, também a bordar, pintar, fazer crochê e costurar, mas nunca abandonei o sonho de ser radialista. Os tempos são outros e tudo que aprendi é de grande valia até hoje, em qualquer tempo. Ensinamentos que compartilho hoje com minha neta Alice, de 7 anos, que adora uma cozinha também.
Cozinha e afeto caminham lado a lado?
Sempre, com certeza. Através dos aromas das ervas e dos alimentos, quem cozinha sabe que passa amor, carinho. E pelos olhares ao redor da mesa a gente mede como aquele tempero, aqueles sabores chegaram ao coração de quem prova. Quando apresento uma receita e a pessoa do outro lado diz: “me senti abraçada pela sua comida” ou “me remeteu à cozinha de minha mãe”, isso não tem preço. Me emociono!
Como é se reinventar aos 67 anos, passando a produzir entretenimento e jornalismo?
Não sinto a idade e procuro coisas novas todos os dias. Fora isso, quando se tem um quintal, a renovação é constante. Creio que, para quem não planta, até seja difícil entender, mas, olhando os canteiros e lidando com a terra, trago para minha vida inspiração, renovação e cuidados para estar com a saúde do corpo e da alma em dia. Há estudos que comprovam o bem que faz mexer com a terra…
E como surgiu a ideia de abrir sua casa para o público?
Ainda quando estava em São Paulo, pensava nessa possibilidade. Cheguei a construir uma casa lá, mas depois vendi, dei um tempo e construí aqui, em Cascavel, no Paraná. Quando a internet começou a crescer, sabia que isso seria possível. Tudo que estamos vivendo me mostra que eu não estava errada. Faço gravações em minha casa há pelo menos oito anos, mas, com essa estrutura de hoje, há pouco mais de três. Trabalhar de casa não é futuro, já é o presente.
Durante a pandemia, você se dedicou, além dos cuidados com a casa, a cuidar de plantas. Usou a atividade como terapia?
Fiz muita coisa, gravei muito vídeo e sei que, com isso, me mantive viva, saudável e ajudei muita gente. Meus seguidores me viram plantar, cuidar, colher e fazer a receita. Estivemos juntos o tempo todo. Consigo motivar as pessoas a plantarem também. Pessoas que nunca haviam plantado
nada, não conheciam nada de plantio, terra, adubo etc. Essa é a melhor parte.
Incentivar diariamente é um grande objetivo meu. Ouço relatos de telespectadores que sofriam de depressão e hoje estão ótimos. Outros relatam que, com o plantio, não tomam mais remédio para dormir e se sentem melhores… Isso de fato me emociona. Lembro também dos muitos pães que fizemos juntos. Digo fizemos porque as pessoas realmente me retornam para contar o resultado da receita. Num desses retornos, me emocionei demais. A moça dizia: “meu pai com 82 anos fez seu pão e
ficou maravilhoso. Ele nunca havia colocado o pé na cozinha”. Este pão ao qual ela se refere foi um dos que tiveram mais de 1,5 milhão de visualizações. Creio que nunca se fez tanto pão na vida [risos]. Plantar e cozinhar é pura terapia.
O avançar do tempo chega a assustar você?
Nem um pouco, quero ficar diante de uma câmera até quando Deus permitir, e brinco com meus colegas quando perguntam se um dia pretendo me aposentar: respondo que ainda vou entrar na Rádio CBN de bengala [risos]. Se estamos envelhecendo é porque estamos vivos, e passar a verdade para as pessoas é saudável. A vida real não tem filtro. Com as redes sociais, parece obrigação mostrar que não há rugas, cabelos desalinhados, pele maltratada. Estou cansada de tantos filtros e felicidade maquiada. Pessoas públicas têm seus problemas como qualquer outra. Estabeleceu-se um padrão que é escravizante. Não faço parte desse mundo que não existe!
Com relação às críticas que recebeu recentemente nas redes sociais sobre sua aparência, como lidou com isso?
Não tive problemas em ler e responder. Creio que meu recado foi bem entendido. Dona de casa não usa salto alto ou se produz toda para cozinhar, lavar roupas. Não faz maquiagem ou passa batom para limpar vidraça e retirar o lixo, nem está com as mãos impecáveis ao lidar com jardim ou a horta. Eu sou uma mulher real, igual a milhares que executam tarefas diárias de uma casa. As mulheres que se manifestaram concordaram que temos muita maquiagem por aí e não é porque sou uma pessoa pública que preciso estar produzida o tempo todo, isso seria falso. Foi muito bom ler coisas do tipo: “Olga, você é igual a mim, você me representa”.
O que faz Olga ser uma inspiração para seu público em momentos tão difíceis?
Aqui onde vivo é impossível acordar de mau humor, pois quem me chama para mais um dia são os pássaros e, ao abrir a porta da varanda, me inundo do verde, do colorido das flores, do aroma das plantas e ervas. Isso tudo me inspira a ter boas palavras e palavras certas para quem me pede ajuda. Consigo mostrar que é possível sair da cama, abrir a janela, respirar, tomar um copo d’água e agradecer pela vida. Para mim, a vida é como uma escada. Algumas vezes despenquei quando havia atingido o penúltimo degrau. Eu caí, me arrebentei, curei as feridas e retomei ao primeiro degrau novamente. E sigo firme e forte.