“Essa família é muito unida…” A melodia da música tema do seriado ‘A Grande Família’ ficou bastante conhecida na época em que foi ao ar, de 2001 a 2014, na TV Globo. Mas engana-se quem acredita que a série era um programa original. Na realidade, ‘A Grande Família’ teve sua primeira versão em 1972, quando Nenê, Lineu e Agostinho foram interpretados por outros atores.
Nesta quarta-feira, 26 de outubro de 2022, completa-se 50 anos da estreia do primeiro episódio da sitcom, também na emissora carioca. E, para homenagear essa série que marcou a vida de tantos brasileiros, AnaMaria Digital te conta um pouco sobre a vida de seus criador: Vianinha.
NO TEATRO
Oduvaldo Vianna Filho, mais conhecido como Vianinha, foi um dramaturgo muito importante na democratização do teatro. Quando esta arte era restrita às elites, o artista buscou levá-la ao grande público por meio de seu Teatro de Arena, entre os anos 1950 e 1960.
Vianinha, que era militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), focava muito no homem trabalhador em todas as suas obras – como podemos ver em ‘A Grande Família’.
Em cima dos palcos, atuou em peças como ‘Eles não Usam Black-Tie’ (1958), ‘Brasil Versão Brasileira’ (1962) e ‘Quatro Quadras de Terra’ (1963), sendo que estas duas últimas foram apresentadas no meio da rua em periferias. Além disso, escreveu ‘Chapetuba Futebol Clube’ (1959) e ‘A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar’ (1961).
Se trabalho era tão reconhecido no meio artístico que até mesmo Nelson Rodrigues, um dramaturgo de direita e que se dizia “anticomunista”, mostrava sua admiração pelo colega de trabalho: “Sua estrutura doce exige o diminutivo. Dos nossos artistas, é o menos sombrio, o menos neurótico, o menos ressentido. O nosso teatro está cheio de víboras. Pois o Vianinha é a antivíbora”, declarou.
TRABALHO NA TV
Por conta da sua posição política, muitas de suas peças foram censuradas – e outras até proibidas – na ditadura militar. Isso fez com que Vianinha aceitasse o convite da TV Globo para trabalhar na emissora.
Nela, fez diversas telepeças, como ‘Casos Especiais’, ‘Noites Brancas’, ‘A Dama das Camélias’ (com Gilberto Braga), ‘Mirandolina’, ‘Ano Novo, Vida Nova’ e ‘As Aventuras de uma Garrafa de Champanhe’ (com Domingos Oliveira).
No entanto, seu maior sucesso foi ‘A Grande Família’, série inspirada no sucesso estadunidense ‘All in the Family’. Na versão brasileira, a história acompanha o cotidiano de uma família de classe média, que tem que lidar com as dificuldades que surgem e as relações familiares.
Sobre a produção, o dramaturgo declarou: “É a autogozação das nossas dificuldades. Mas, acima de tudo, é a crônica da família saudável. O que eu quis fazer foi uma democratização do fracasso. São os fracassados, não no sentido da derrota, mas de uma solidariedade com os não vitoriosos. Aquelas pessoas que, sem estar no topo do mundo, sem frequentar as colunas sociais, continuam maravilhosas porque enfrentam e vencem todas as situações apresentadas”.
O sucesso da série foi tanto que ficou no ar entre 26 de outubro de 1972 e 27 de março de 1975 – após a morte do autor – e ganhou um remake nos anos 2000, com atores consagrados como Marco Nanini, Marieta Severo e Pedro Cardoso.
MESMA PESSOA?
Um dado curioso sobre Vianinha é que ele tem o mesmo nome de seu pai: Oduvaldo Vianna. Sim, exatamente o mesmo, pois quando seu pai foi registrá-lo no cartório, o escrivão se esqueceu de acrescentar “Filho” no final, fazendo pai e filho virarem homônimos.
Na época da ditadura, isso foi uma dor de cabeça para os militares. Na ficha de Oduvaldo Vianna – que tinha ligação com o comunismo – informações sobre pai e filho estavam misturadas e, para o regime, ambos foram a mesma pessoa durante muito tempo.
LEITO DE MORTE
Vianinha faleceu em 1974 após um câncer de pulmão. Antes de sua morte, porém, ele escreveu uma última peça sobre a luta política no Brasil e os revolucionários, mostrando seu posicionamento. A obra foi ditada pelo dramaturgo no leito de morte para a sua mãe.
“’Rasga Coração’ é uma homenagem ao lutador anônimo político, aos campeões das lutas populares; preito de gratidão à velha guarda, à geração que me antecedeu, que foi a que politizou em profundidade a consciência do paía”, contou Vianinha.