O tema da coluna desta semana seria: “como criar meninas empoderadas desde a infância?”. Mas bastaram dois minutos de reflexão para mudar o rumo da matéria. Afinal, não são apenas as meninas que precisam ser criadas para seguirem na luta de suas antepassadas pelo espaço social em igualdade de condições e a liberdade para serem e agirem como bem entendem.
Pais e mães de meninos também têm essa responsabilidade – aliás, são os grandes responsáveis pelas mudanças que ainda precisam acontecer, já que os meninos precisam ser criados para reconhecer o espaço, a liberdade, o valor e os direitos das meninas e futuras mulheres; precisam entender sobre respeito desde que estão no berço, por meio de exemplos, diálogo e condutas na vida em família, na escola e em todos os espaços.
Aline Macedo, mãe de uma menina e um menino de 8 anos, conta que, embora tenha nascido nos anos 1970, foi criada em uma família que, já naquela época, falava sobre equidade. Os pais, professores universitários, sempre falavam sobre a importância de uma sociedade com as mesmas oportunidades para os dois gêneros. “Minha mãe, inclusive, que hoje tem quase 80 anos, foi uma mulher à frente do tempo dela, de uma época em que as mulheres, normalmente, não faziam faculdade. E ela saiu da cidade dela, no interior, para morar no Rio, fazer faculdade, morar sozinha etc. Isso é muito comum hoje, mas definitivamente não era nos anos 60”, conta.
E essa forma como Aline foi criada realmente pontua como ela própria cria os filhos, que jamais ouviram frases como “isso é coisa de menina ou de menino”, “mulher pode ou não pode isso” etc. “E o mais interessante é que eles repassam isso para os amigos, ele mostrando que os outros não podem desrespeitar as meninas e ela reforçando com as amigas sobre a importância de lutar pelo espaço que os garotos têm e elas não. Eu acho que essa geração está, de alguma forma, sabendo lidar melhor com essa questão que as anteriores. Quando tem algum evento em que eu esteja, por exemplo, já não vejo grupos só deles ou delas. Estão todos juntos, brincando da mesma forma, conversando sobre os mesmos assuntos. É uma mudança importante quando você analisa como era há algumas décadas”, exemplifica.
Portanto, na coluna de hoje, poucos dias antes de quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, vamos falar sobre o papel das mães e dos pais da geração Alpha na construção de uma sociedade plural, em que homens e mulheres tenham, de fato, os mesmos direitos, deveres e liberdade para construírem os caminhos que quiserem para suas vidas.
CAMINHO PARA A EQUIDADE DE GÊNERO
Empoderar mulheres e promover a equidade de gênero são ações essenciais para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do país, além da melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo. Isso é o que afirma a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres). Mas como, de fato, criar meninas empoderadas? “Quando falamos sobre empoderamento infantil, basicamente estamos proferindo sobre permitir que a criança conheça suas emoções, tenha autoestima e autoconfiança em conversar e dizer como se sente”, explica Talitha Nobre, psicóloga do Grupo Prontobaby, que continua: “A construção do feminino é feita de maneira inconsciente, desde o nascimento da mulher. Existe uma influência do modelo patriarcal, da repressão à mulher e da submissão ao homem”.
Dados levantados pela Unicef apontam que meninas de 5 a 14 anos passam 160 milhões de horas a mais do que os meninos da mesma faixa etária em atividades domésticas não remuneradas, o que acaba comprometendo o acesso à educação, ao desenvolvimento de seus potenciais, além de oportunidades de lazer e atividades de socialização. Já uma pesquisa publicada pela revista Science pontua que 30% das meninas entre 6 e 7 anos se sentem menos inteligentes que os meninos. Essas informações demonstram a importância e a necessidade do empoderamento das garotas na infância. Outro estudo, e que dessa vez é diretamente relacionado ao Brasil, é a pesquisa de 2016 realizada pela ONG Save The Children, que aponta o Brasil como um dos piores países para ser menina – segundo o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2018, uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil; já na edição de 2020, os dados sobre estupro mostravam um registro a cada 8 minutos.
Diante deste cenário, a psicóloga do Grupo Prontobaby enxerga na educação um caminho para a desconstrução. “Quando pensamos na questão da construção do feminino, os pais, sem perceber, desde cedo já aprisionam suas filhas a padrões estéticos pré-definidos e isso vai se repetindo na escola, na mídia. É importante que os adultos rompam com essa lógica e permitam um ambiente onde os filhos possam ser conscientes de si próprios, de suas habilidades e beleza. É necessário que eles possam valorizar a criança na sua subjetividade”, comenta. Ela reitera, ainda, que estereótipos aprisionam e são reducionistas. “Somos seres subjetivos e quanto mais engessados a padrões, mais adoecidos emocionalmente podemos ficar. Os pais têm um papel fundamental nesse processo. Todos somos diferentes um do outro e é importante que possamos ser. Os rótulos, aparentemente inocentes, muitas vezes inibem a produção de subjetividade da criança e faz com que ela se sinta mal quando percebe que tem alguma coisa diferente dos colegas”, esclarece.
E vai além: “O maior sofrimento psíquico que pode haver é quando o sujeito é silenciado, quando lhe censuram a expressão. E esse ideal padronizado acaba por inibir a singularidade e constrói robôs, corpos padronizados e ideais maníacos inatingíveis. É preciso nos libertar desse imperativo da perfeição para que possamos nos aproximar de nós mesmos. A auto aceitação está ligada diretamente ao autoconhecimento. Políticas públicas e engajamento social, como a lei Maria da Penha, também têm sido pilares fundamentais para uma mudança na sociedade. Mas essa mudança pode também ser feita a partir de cada um de nós, de espaços como esse, provocando reflexão. É um longo, porém importante caminho”, esclarece, ao expressar que só é possível trabalhar o empoderamento infantil quando compreendemos todo esse contexto e desconstruímos essa cultura que permeia a sociedade.
Fora o papel dos pais – de meninas e meninos – e da escola nessa construção, outras diretrizes também são extremamente eficazes para trabalhar o empoderamento feminino nas crianças, como o incentivo à leitura de livros escritos por mulheres ou sobre elas, ações que abordem a importância de lideranças femininas na história e a realização de debates sobre violência de gênero a partir de notícias recentes.
ESCLARECENDO DÚVIDAS E DEFININDO NOVOS CAMINHOS
Embora muitos já saibam, na teoria, o que é preciso fazer para construir uma sociedade realmente plural, nem sempre nós, pais, conseguimos levar para a prática o que queremos ensinar para os nossos filhos. Então, abaixo, a psicóloga Talitha Nobre, do Grupo Prontobaby, responde uma série de perguntas que podem ajudar a trilhar nesse caminho.
Aventuras Maternas – Você costuma receber meninas com menor autoestima em relação aos meninos?
Talitha Nobre – Eu acho que isso fica mais evidente na vida adulta, mas você já pode identificar na infância. O feminino é construído e é também uma construção social. E existe toda uma pressão em torno da mulher, como, por exemplo, naquele bordão “ Por trás de um grande homem, existe uma grande mulher”. Ou seja, a mulher carrega o peso da responsabilidade do relacionamento, o peso da responsabilidade da criação dos filhos, responsabilidade da casa. Tem todo um peso em torno do lugar da mulher na sociedade.
E isso já aparece desde a infância. Então, pode, sim, afetar a autoestima da mulher e da menina na infância. Porque o menino pode brincar, pode se jogar no chão, se sujar, mas a menina tem que se comportar – “Senta direito”, “Cruza as pernas” etc. Desde o início, já existe toda uma pressão em torno da menina/mulher. Aquela que precisa ser mais concentrada, aquela que precisa ser mais responsável, aquela que precisa ter cuidado, aquela que não pode se sujar, aquela que não pode desarrumar o cabelo. Então, tudo isso, de alguma forma, já vai construindo esse senso de responsabilidade e pode afetar a autoestima da menina, sim.
Aventuras Maternas – Quais atitudes práticas na criação das crianças?
Talitha Nobre – Eu acho que você deve criar a criança independentemente do sexo ser masculino e feminino. Olhar para a criança além da questão do sexo, pois ali está um indivíduo que tem suas necessidades próprias, sua própria personalidade. Então, é preciso olhar para o outro no singular. Não para o menino ou para a menina. Isso ajuda nessa construção. Olhar para a singularidade da criança, seja ela menina ou menino, e agir para além desses estereótipos. Isso já é um grande avanço para os pais na formação das crianças.
Aventuras Maternas – No ambiente escolar, como as escolas devem agir sobre o tema?
Talitha Nobre – É papel da escola promover debates, gerar empatia, dinâmicas. Desde cedo, trabalhar esse conceito de empoderamento, permitir que as crianças possam ter esse espaço de fala e construção da identidade. E um papel em conjunto, da família e da escola, acho que é fundamental.
Aventuras Maternas – Falando sobre filtros do tiktok, muito usados hoje por meninas novas. Como isso é prejudicial para a imagem que a menina/adolescente tem de si mesma?
Talitha Nobre – Meninas não nascem odiando seus corpos, a gente é que ensina isso para elas. Fazemos isso quando criamos esses modelos, essa padronização da beleza, a padronização do belo, que, sabemos, são modelos irreais, fantasias construídas. E nessa padronização que é mostrada para as mulheres desde que se entendem como pessoas, inclusive quando ainda são crianças, se transformam em uma busca incessante de um ideal maníaco, que é inatingível. Isso acaba criando um aprisionamento muito grande, é claro. E as redes sociais, de uma forma geral e não somente o tiktok, ajudam a criar esse ideal maníaco.
Isso porque, quando se cria modelos e as pessoas precisam se adequar a eles, além de se tornar um processo angustiante, acaba com a singularidade de cada um, já que todo mundo fica igual, com o mesmo cabelo, com o mesmo rosto, com a mesma roupa etc. E nós, como seres sociáveis, temos a necessidade de explorar as nossas singularidades, de olhar para dentro. Então, esse confronto entre o real e o ideal acaba gerando muita angústia, um conflito existencial muito grande. A gente vê muito no consultório, com crianças ainda pequenas, especialmente as meninas, já com esse conflito existencial do “quem eu sou”. E isso acontece porque ela passa – e passará, provavelmente – a vida inteira sendo construída para ser alguma coisa, e aquilo que é de fato, acaba ficando adormecido. Portanto, a gente precisa desconstruir esses padrões desde a infância. permitindo que a criança possa acessar essa coisa singular, acessar sua própria identidade, acessar sua personalidade e não ficar nessa busca por um ideal que não existe.
Aventuras Maternas – Empoderamento, como você diz, é conhecer as próprias emoções. Mas quando se é criança/adolescente, nem sempre isso é fácil. Como equilibrar essa balança?
Talitha Nobre – Eu acho que esse trabalho de autoconhecimento é um trabalho importantíssimo que pode ser feito desde a infância. Como é que a gente faz isso? Permitindo que as crianças tenham um espaço de fala, validando as emoções, pedindo que as crianças falem mais sobre o que elas sentem. Isso é muito difícil, é um exercício diário. A gente precisa validar as emoções. Quando a criança chora, ao invés de dizer “não chore”, pergunte para ela: Por que você está chorando? O que você está sentindo? Eu estou aqui do seu lado.
Nós, adultos, quando a gente sente medo, quando a gente sente angústia, quando a gente sente tristeza, a gente tenta parar para pensar sobre aquele sentimento, o que é isso que eu estou sentindo? Por que eu estou sentindo isso? O que me levou a sentir isso? E muitas vezes a gente tem dificuldade, principalmente porque a gente não exercitou isso desde a infância. Então, o que os pais precisam fazer junto aos seus filhos é promover esse espaço, permitir que as crianças possam falar mais sobre o que ela sente. E assim, à medida que ela falar mais do que sente, também vai se ouvir e conseguir entender aquelas emoções. Mas é um trabalho diário, dia a dia mesmo. Quanto maior for esse espaço de fala, maior vai ser o espaço de construção dessa autonomia das emoções, desse autoconhecimento.
Aventuras Maternas – Vivemos em uma sociedade extremamente desigual e isso pode refletir na autoestima de adultos. Pais que tenham baixa autoestima conseguem criar meninas empoderadas?
Talitha Nobre – Nós criamos muito mais pelo exemplo do que pela fala. Em um primeiro momento, há uma identificação primária da criança com a mãe, com a personalidade da mãe. Depois ela passa a construir a própria identidade. Mas até em função deste primeiro cenário, dessa identificação primária com essa mãe, é natural que as crianças busquem referências, elas vão olhar no entorno para construir a própria identidade. E aí é claro que há uma influência do ambiente, das características dos pais na construção da identidade dessa criança. A gente precisa cuidar da gente antes, para depois cuidar do outro. Então, se eu não estiver preparado emocionalmente para ser pai/mãe, talvez seja interessante esperar um pouco. Porque colocar um filho no mundo, criar, identificar, formar um ser humano é uma missão muito complicada. Eu acho que antes de adotar uma criança, antes de resolver ter uma criança, de trazer uma criança para o seio familiar, é importante que tenham um preparo emocional e uma estrutura para criar uma criança.
Aventuras Maternas – Você diz “A construção do feminino é feita de maneira inconsciente, desde o nascimento da mulher”. Como fazer isso na prática desde o nascimento?
Talitha Nobre – Essa é a pergunta do milhão. É um enigma, né? Afinal, o que é ser mulher? Então, essa é uma construção que precisa ser feita. Mas, é claro, que existe uma construção social do que é ser mulher. A sociedade tenta responder esse enigma da feminilidade, o que é ser mulher, desde sempre. E a gente precisa começar a fazer isso desde a infância. Há algumas décadas, provavelmente diriam que a construção do feminino passa por ensinar a usar adornos para definir que a criança é uma menina, com laços, usando a cor rosa, colar, brinco etc. Mas hoje a construção de uma mulher vai muito além disso, é claro. E a verdade é que não tem uma receita de bolo. Mas acho que os pais precisam olhar para seus filhos além da questão da sexualidade, para que a menina possa construir a sua própria referência do que é ser feminino. Os caminhos possíveis para uma mulher se formar e se construir como mulher são singulares. Portanto, o papel dos pais é permitir que a criança possa se conhecer para, assim, se construir.
Aventuras Maternas – Você teria mais dados sobre essa pesquisa que citou, da Science.
Talitha Nobre – O Brasil, na questão sobre o pior país para ser menina, está atrás de países como Iraque, índia e Síria. Eu fiquei bem surpresa. Mas isso se deve às altas taxas de casamentos infantis, infanto-juvenis. A gente, que vive em uma metrópole, não tem noção do quanto isso acontece, especialmente nas cidades mais pobres do interior, onde as meninas acabam se casando muito cedo para garantir o sustento da família, onde você não tem uma formação, estudo. E ai essas crianças acabam muito cedo se tornando mães, se tornado mulheres. Outro dado interessante da pesquisa é que 70 mil adolescentes morrem no Brasil de 15 a 19 anos, pela tentativa do aborto, que é uma discussão que já está em jogo há muito tempo.
Vivemos em um país onde os números de feminicídio são gigantes. Embora a gente tenha feito alguns avanços como a lei maria da penha, ainda está muito atrasado em relação a esse olhar para a mulher. O Brasil ainda é um país muito machista, onde a mulher é percebida como objeto, e essa objetificação da mulher faz com que a gente seja o 102º pior país para ser menina. Então, precisamos falar sobre esses dados, trazer isso para a discussão na sociedade. E se a gente não pensar em trabalhar isso na infância, não vai mudar esse cenário no futuro. Por isso é tão importante esse debate, sobre como a gente trabalha isso desde a infância, porque é isso que vai garantir um futuro diferente para o nosso país.
Aventuras Maternas – Como explicar para uma criança/adolescente que ela é “dona” do seu corpo, que ninguém pode tocá-la sem a sua permissão? Afinal, ainda vivemos em uma sociedade que culpa a mulher que usa saia curta ou decote se ela sofrer algum tipo de violência sexual. Como proteger a menina em uma sociedade como essa?
Talitha Nobre – Essa é uma questão bastante importante. E um assunto que vai além do empoderamento, começando pela questão do abuso infantil. Explico: em um primeiro momento, quando bem pequena, a criança está no lugar de objeto mesmo, objeto daqueles pais/responsáveis, pois ela precisa deles para sobreviver. Há a manipulação do corpo da criança em um primeiro momento, pois são os pais que limpam, que dão banho, que cuidam dessa criança, até que ela tenha autonomia para cuidar do próprio corpo. Então, se você parar para pensar do ponto de vista psíquico, essa criança, em um primeiro momento, de fato fica nesse lugar de objeto do outro, ainda que sejam seus pais.
Depois, ela vai crescendo, deixa de ser um bebê, e é exatamente aí, quando cria essa autonomia e que passa a cuidar do próprio corpo, que ela começa a ser dona de si. Esse momento é muito importante, pois a criança passa a entender que o corpo é dela, que é separado dos pais. Um exemplo disso é quando você coloca um bebê pequeno em frente a um espelho. Ele não se vê como alguém. Estica a mão, tenta encostar. Isso acontece porque ele acha que a criança que está no espelho é outra, já que se reconhece como sujeito ainda. Mas essa criança começa a se perceber como sujeito quando é colocada de frente para o espelho e, ao invés dela esticar a mão para pegar o que está vendo, ela coloca a mão no próprio corpo.
Então, percebe que aquilo ali é um reflexo dela. Esse exemplo retrata bem essa transição. Então, imagine uma criança, que em um primeiro momento está em um lugar de objeto, quando começa a se construir, a construir essa identificação com opróbrio corpo, as partes do corpo. Esse é o momento do seu empoderamento, quando ela se dá conta das partes do seu corpo, para o que serve, onde pode ou não pode tocar e, principalmente, quem pode tocar. Eu acho que é desde aí que começa a autonomia da criança em relação ao corpo, esse empoderamento. E aí entra a importância do papel dos pais, de dizer para a criança que o corpo é dela, não é do outro; que o outro não pode tocar nesse corpo sem a permissão dessa criança.
Aventuras Maternas – Qual é o papel de mães e pais de meninos no empoderamento das meninas?
Talitha Nobre – Esse estereótipo que objetifica a mulher diante do homem é uma questão cultural, isso está dentro do modelo patriarcal, que tem a mulher nesse lugar de submissão, feita para procriar e para atender as necessidades do homem, do marido. Os corpos femininos hoje são explorados na mídia para vender um produto. Comercial de cerveja tem uma mulher, comercial de carro tem uma mulher. A mulher como esse objeto, a mulher que está ali para poder servir esse homem. E essa banalização da mulher já está tão naturalizada que a gente está com olhar viciado. Os pais precisam criar filhos para respeitar as mulheres.
Os homens precisam respeitar as mulheres dentro de casa. Por que que só as meninas têm que lavar louça? Por que só a mulher tem que organizar a casa? Por que só a mulher tem que servir nessa casa? Isso é um ponto que a gente precisa parar para pensar. Desde cedo é preciso que os meninos saibam que todos são membros de uma casa e todos têm responsabilidades. Por que as responsabilidades da casa recaem sobre a mulher? Isso é uma questão para pensar também. E aí a gente começa a mudar essa percepção, quando começa a olhar para a nossa própria dinâmica familiar. Acho que compreender desde cedo que os pais são espelho dos filhos nessa construção é importantíssimo. As falas machistas que inferiorizam a mulher, a mãe e a filha, isso obviamente vai impactar na formação da criança, no menino, do filho e da filha. Isso é um desafio para poder repensar.
Aventuras Maternas – Comente essa frase “ a mae é responsável por criar um menino não machista”. Só as mulheres são responsáveis por isso?
Talitha Nobre – Não. Os homens também devem ter essa responsabilidade. E digo mais: especialmente eles. Todos têm responsabilidade nisso, claro, mas meninos normalmente seguem os passos do pai. Portanto, a movimentação dos homens será mais “percebida”. Mas para que a gente possa ensinar para os meninos uma forma de viver não machista, de forma correta e orgânica, é preciso se repensar, ter um espaço aberto para discussão, de construção e também de desconstrução. Portanto, eu acho que os adultos, de novo, especialmente os homens, precisam se repensar, repensar a sua própria formação, sua própria criação, para que possam ser pais melhores e mais comprometidos com o empoderamento e desenvolvimento infantil de meninos e meninas, para que a gente possa ter um futuro melhor para todos. E quais os discursos e atitudes que os pais e mães devem ter, na prática, com os filhos para reforçar o empoderamento e respeito às meninas? Antes de tudo, serem reais, verdadeiros, conversarem de verdade sobre a sociedade que vivemos e que queremos mudar. É no dia a dia que isso será ensinado. E não apenas na discussão, mas também nas atitudes que as crianças perceberão partindo de seus pais.
Aventuras Maternas – No Dia da Mulher é comum que as mulheres, inclusive meninas e adolescentes, recebam flores. As mais jovens já “rejeitam” o gesto. Isso é um bom sinal?
Talitha Nobre – Eu acho que talvez seja um bom sinal no sentido que faz a gente repensar. Será que todo Dia da Mulher tem que ser dando flor, maquiagem? É isso que a mulher quer hoje? Eu acho que no sentido simbólico, sim, é uma resposta de que a sociedade está mudando e que as mulheres, especialmente as mais novas, e aí se incluem meninas e adolescentes, têm outros ideais, outras necessidades. Mas, novamente, voltamos à questão da singularidade. Algumas vão gostar de receber tais flores, outras não.
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