A fibromialgia, doença de diagnóstico complexo, muitas vezes, é atribuída a problemas psicológicos, como se a dor fosse fruto da imaginação – uma inverdade para cerca de 3% dos brasileiros (quase 7 milhões de pessoas) que, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), sofrem com o mal.
“Trata-se de uma síndrome dolorosa crônica, podendo atingir músculos, ossos e articulações, caracterizada principalmente por dor difusa, que muitos pacientes descrevem como uma sensação dolorosa que vai do fio de cabelo ao dedo do pé”, explica a reumatologista Taysa C. Moreira da Silva. Acomete, em sua maioria, mulheres entre 30 e 50 anos, podendo ocorrer, em menor frequência, em crianças, adolescentes e idosos.
É o caso da atriz Dani Valente, que recebeu o diagnóstico da doença em 2008 e, de lá para cá, vem descobrindo maneiras e cuidados para conviver bem com o problema, lançando, inclusive, um livro a respeito: “Levei anos para encontrar um caminho, então, espero servir de lanterna, compartilhando o atalho dessa longa jornada”, fala em entrevista à AnaMaria.
Entenda as causas e tratamentos e inspire-se na trajetória de superação da artista. Vale lembrar: a fibromialgia não tem cura e apenas o reumatologista pode fazer o diagnóstico correto indicar o tratamento ideal.
O QUE É?
A fibromialgia é uma síndrome que pode provocar dores fortes por todo o corpo durante muito tempo ou sensibilidade nas articulações, músculos e tendões. Isso acontece devido a uma alteração da interpretação dos estímulos recebidos pelo cérebro e também pelos receptores cutâneos. “A doença atinge de 2 a 10% da população mundial, sendo predominante entre mulheres jovens e de meia idade (entre 20 e 50 anos), em uma proporção de sete mulheres para cada homem. Esses são os dados que temos, mas pode acometer pessoas de qualquer idade ou gênero”, alerta Charles Amaral de Oliveira, membro da American Society of Interventiomal Pain Physicians (ASSIP).
CAUSAS
A causa específica é desconhecida. Sabe-se, porém, que os níveis de serotonina são mais baixos nos portadores e que desequilíbrios hormonais e tensão podem estar envolvidos em seu aparecimento. Mas, ainda que não se saiba especificamente a causa, é possível apontar alguns fatores em comum:
- Ansiedade e depressão;
- Baixos níveis de serotonina;
- Sedentarismo;
- Desequilíbrios hormonais;
- Distúrbios do sono;
- Tensão e estresse;
- Doenças autoimunes;
- Fatores genéticos;
- Eventos traumáticos, tanto físicos quanto psicológicos;
- Alterações de ritmo intestinal;
- Sono não reparador (acordar cansado, como se não tivesse dormido);
- Infecções virais ou fúngicas.
SINTOMAS
Dor generalizada nos músculos, tendões e ligamentos, podendo se manifestar em diferentes intensidades. É também comum apresentar fadiga e falta de disposição e energia. As pessoas sentem muito cansaço e sonolência desde o início do dia. Os portadores também podem apresentar problemas de concentração, velocidade de raciocínio, atenção e memória, prejudicando, assim, a realização de tarefas comuns do dia a dia. Dores de cabeça e enxaqueca constantes sem causa específica podem ocorrer.
TRATAMENTO
Inclui a prática de atividade física, fisioterapia, medicações, além de hábitos alimentares mais saudáveis. O exercício físico regular ajuda a melhorar a dor e fortalecer os músculos. A fisioterapia também contribui para a melhora dos sintomas. Nos casos em que há a necessidade de intervenções medicamentosas, as mesmas podem ser feitas com analgésicos e, eventualmente, antidepressivos específicos que auxiliam no controle da dor. Mas, só o médico especialista pode avaliar a necessidade e, se for o caso, receitar o remédio específico. Outros tratamentos não medicamentosos incluem a acupuntura, o tai chi chuan, a ioga e a psicoterapia.
A DOENÇA E SUA RELAÇÃO COM O INTESTINO
Segundo estudo da Universidade McGill, no Canadá, pessoas com fibromialgia têm diferentes quantidades de certos tipos de bactérias no intestino do que aqueles que não têm a doença. “Descobrimos que a gravidade dos sintomas estava diretamente correlacionada com uma presença aumentada ou uma ausência mais pronunciada de certas bactérias”, afirma Amir Minerbi, autor do estudo. Para os cientistas, no entanto, ainda não está claro qual a relação entre a doença e a quantidade dessas bactérias específicas, mas entender a composição do microbioma intestinal é um passo importante para compreender como a doença funciona.
FIBROMIALGIA TEM CURA?
Não, mas o entendimento atual da doença, os medicamentos e a combinação de terapias, controlam os sintomas e restabelecem a qualidade de vida.
VIVENDO NA PELE O PROBLEMA
A atriz e roteirista Dani Valente, que teve grande destaque na série Confissões de Adolescente e no programa Zorra Total, da Globo, atualmente, mora nos Estados Unidos, onde conheceu a nutrição holística, se tornando profissional da área. Fundadora do Unique Nutritional Advice (Aconselhamento Nutricional Único), sua missão é ajudar pacientes a ter uma vida mais equilibrada, saudável e feliz. Portadora de fibromialgia, ela lançou mão de sua experiência no trato e convívio com a doença e publicou o livro A Pessoa Mais Feliz do Mundo – Como a conquista de um intestino saudável me ajudou a superar uma doença autoimune (Ed. Maquinaria Editorial).
A seguir, ela relata a importância do autocuidado e de mudanças nos hábitos alimentares para lidar bem com o mal: “Nunca imaginei que meu autoconhecimento começaria no intestino… O ano era 2015 e minha carreira de atriz e comediante estava indo muito bem. Eu fazia parte da equipe de atores da Globo e do canal Multishow, e a peça que havia escrito estava rodando todo o País. Casada, mãe de uma linda menina de quatro anos, tudo parecia realmente perfeito, mas não estava. Eu sentia enxaquecas absurdas, dores terríveis por todo meu corpo e a fadiga ficava cada vez pior. Entrei em depressão. Eu não sabia o que havia de errado comigo. Passei por médico, pai de santo, padre, cartomante, rezadeira… Acho que só não fui a um exorcista. Até que o diagnóstico finalmente veio: fibromialgia. Foi então que conheci a nutrição holística, que me ensinou a importância da alimentação e da digestão no cuidado de doenças autoimunes e consideradas misteriosas, e acabei me tornando especialista na área. Tudo começa no intestino e a nossa felicidade está diretamente ligada à nossa digestão. No livro, compartilho como o autocuidado e a mudança de hábitos alimentares podem ajudar a pessoa a alcançar a melhor versão de si mesma e, assim como eu, ser a pessoa mais feliz do mundo”.
Confira a entrevista da Revista AnaMaria com a atriz:
Como você define a fibromialgia?
A definição da fibromialgia, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, é uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura. Junto com a dor, a doença cursa com sintomas de fadiga (cansaço), sono não reparador (a pessoa acorda cansada) e outros sintomas, como alterações intestinais, de memória e atenção, ansiedade e depressão. Mas, eu definiria como uma doença multifatorial que causa dores por todo corpo, exaustão, falta de foco e depressão.
Quando você percebeu os principais sintomas?
Hoje, eu vejo que foi muito antes, mas percebi em 2008, por causa de um cansaço fora do normal.
Para as pessoas que recebem o diagnóstico, qual a primeira medida a ser tomada?
Procurar um bom nutricionista e um médico funcional.
O que você mudou em sua vida, desde que descobriu ter a doença?
Tudo. Até a maneira de ver o mundo. Parece que estou vivendo duas encarnações em uma só. Eu sou antes e depois da fibromialgia. E digo que gosto mais dessa versão, pois aprendi a me amar após a fibromialgia.
O que você espera passar para os leitores com o seu livro?
Levei anos para encontrar um caminho, então, espero servir de lanterna, compartilhando o atalho dessa longa jornada. É uma obra de autoajuda.
Quando você sentiu a necessidade de dividir com as pessoas sua experiência?
Quando pensava que tinha muita gente no Brasil sofrendo com a doença, mas sem acesso às informações que eu estava tendo aqui nos EUA.
Como você descreveria a Dani antes da fibromialgia e a Dani de agora?
Antes da fibromialgia, acreditava que a felicidade dependia de acontecimentos externos, seja pela realização profissional, amorosa, sorte. A Dani de agora aprendeu a se amar mais, desenvolveu o desapego material e não está nem aí para o que os outros pensam sobre ela.
E a sua família, como está ajudando você nesse processo?
Minha família foi aprendendo junto comigo. Hoje, quando falo que preciso descansar, todos respeitam. Meu marido cozinha e faz de tudo para me ajudar. Sou muito agradecida pela família que tenho.