Sonia Abrão se tornou vegana há seis anos: “Foi um despertar para a vida. Se eu amo uns, por que como outros?”. Ela conta que sua escolha implicou num processo de transformação profunda, porém foi algo que não aconteceu do dia para a noite. Outra questão que faz questão de enfatizar é o quanto o novo estilo de vida interferiu em seu bem-estar. “Me senti livre do peso na consciência. Hoje, não lembro mais o gosto de um bife, graças a Deus! É um caminho sem volta. Como vegana, meu corpo e minha alma se uniram”.
Feliz com a sua escolha, Sonia reforça ainda que não falta informação para que as pessoas desmistifiquem a opção pelo veganismo: “Falta é vontade de botar o dedo na ferida e deixar os animais fora da mesa”. Mas, a titular do A Tarde É Sua, da RedeTV!, confessa que parar de repente de comer alimentos de origem animal foi um choque para o organismo e, após se sentir fraca, buscou a ajuda de profissionais.
“Procurei um médico, que me alertou sobre a necessidade da fase de transição. O ideal é retirar aos poucos esses alimentos das refeições. Contei também com a ajuda de uma nutricionista e deu tudo certo. Saúde em dia!”, destaca. Vem saber mais sobre esse movimento que vem ganhando novos adeptos a cada dia.
Confira a entrevista completa:
Dá para descrever a vida antes e depois do veganismo?
Como vegana, meu corpo e minha alma se uniram.
Quando e por que se tornou vegana?
Me tornei vegana em 2017. Foi um despertar para a vida! Eu estava fazendo um carinho na minha cachorra, a Pelúcia, quando me dei conta do formato da cabeça dela. Senti a caixa craniana, o olhar agudo e amoroso dela para mim… E entendi a profunda dimensão de um ser vivo. Somos todos feitos da mesma matéria, sentimos a mesma dor. E, naquele momento, veio à minha mente uma pergunta que é clássica do veganismo e eu nem sabia: se eu amo uns, por que como outros? Parei ali!
De onde surgiu esse desejo? Foi por recomendação de saúde ou pelo direito dos animais?
Sou filha de pai vegetariano e irmã de outro. Sempre admirei muito os dois. Queria ser igual, mas era muito carnívora! Isso me incomodava profundamente, porém não conseguia mudar. Aí, parti para o negacionismo, como se houvesse plantação de bife, que coxa de frango desse em árvores, dissociando a comida no prato de qualquer animal. Não podia ver cabeça de peixe ou leitão como enfeites de assados na ceia de Natal. Entrar no açougue dos meus tios era uma tortura, fugia de caminhão frigorífico de portas abertas descarregando as ‘peças’ de carne por lá. Mas, vieram os supermercados e liberaram geral minha alienação: tudo cortado, embalado, limpinho, sem cheiro, nas gôndolas. Pedaços higienizados de morte! Me anestesiei para não encarar a real. Passei a vida assim, até aquela noite com a Pelúcia, quando, finalmente, meu amor se estendeu a todos os animais.
E como foi esse processo de mudança?
Foi muito radical, parei do dia para a noite e meu corpo gritou. Fiquei fraca, sem energia. Então, procurei um médico, que me alertou sobre a necessidade da fase de transição. O ideal era ir retirando aos poucos os alimentos de origem animal das refeições. Contei também com a ajuda de uma nutricionista e deu tudo certo. Saúde em dia!
No começo, houve algum desconforto, falta de nutrientes na dieta, saudade de algum alimento ou algo assim, que te fez pensar em desistir da decisão?
O meu único desconforto foi me deparar com o preconceito das pessoas. É absurdo, mas existem pessoas que se ofendem quando o assunto é veganismo. Encaram como se a defesa do direito dos animais à vida fosse uma acusação contra todos os que os consomem. A intenção nunca foi a de incriminar ninguém, mas alertar, debater, incentivar a informação e reflexão, jogar luz sobre um assunto que afeta o futuro de todo mundo, do planeta! Sem sermão, pregação ou intenção de ‘doutrinar’. Não é uma religião nem uma seita, como afirmam os que têm ranço de mudança e fecham questão. É uma filosofia de vida. Existe a liberdade de escolha, o momento de cada um, e uma indústria feroz e gigante por trás. Por isso, acredito num mundo vegano, mas sei que ainda pode demorar uns 200 anos. O importante é seguir em frente e confiar no amadurecimento espiritual da humanidade, que um dirá virá. Sou 100% de acordo com Paul McCartney quando ele diz “Se os matadouros tivessem paredes de vidro, o mundo seria vegetariano/vegano”.
Algumas dicas para quem está dando os primeiros passos no movimento…
Para os que quiserem dar os primeiros passos no veganismo, a melhor coisa é se informar. Ler sobre o assunto, assistir aos documentários, entender com o coração. Aí, sim, estarão preparados para tirar sofrimento e crueldade do prato. E não se esquecer da fase de transição como falei anteriormente.
Considera um erro ético consumir a carne de animais?
Não é tão simples assim! A sobrevivência do ser humano foi baseada nesse tipo de alimentação. É ancestral. Temos isso gravado no inconsciente. A mudança tem que ser profunda e não acontece para todos ao mesmo tempo. É um processo. Precisamos encarar, só não vale fechar questão!
Falta informação para que as pessoas desmistifiquem esse estilo de vida?
Não falta informação, falta é vontade de botar o dedo na ferida e deixar os animais fora da mesa. Xô, preconceito!
Aliás, sente que esse estilo de vida implica em muitas restrições? Qual foi sua maior dificuldade quando decidiu eliminar de sua alimentação todo produto de origem animal?
Não diria restrições, porque, no meu caso, me senti livre do peso na consciência. Hoje não lembro mais do gosto que tem um bife, graças a Deus!
Desde que você assumiu esse novo estilo de vida, você perdeu alguns quilos, certo? E, além das mudanças físicas, deu para notar alguma mudança nos exame médicos, na disposição para exercícios físicos etc?
Sim, emagreci naturalmente, perdi uns dez quilos nesses quase sete anos! A saúde melhorou no geral. Só tenho que criar vergonha e deixar de ser sedentária. Malho o cérebro, mas o corpo é uma preguiça só [risos]!
Percebe uma evolução, uma expansão maior do veganismo atualmente?
Já evoluiu muito, sim. As pesquisas comprovam isso. Nos últimos dez anos, não existiam produtos veganos no Brasil, os restaurantes eram raridade… Hoje, a gente encontra de tudo, de comida a roupas, calçados, cosméticos e até alguns medicamentos. Digo com convicção: é um caminho sem volta!
Dá para descrever a vida antes e depois do veganismo?
Como vegana, meu corpo e minha alma se uniram.