Letícia Sabatella surpreendeu ao revelar que foi diagnosticada com autismo, já na fase adulta. A atriz, de 52 anos, afirmou ter sempre convivido com sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas não conseguia associá-los com a condição.
“Quando eu tinha nove anos, todas as meninas do colégio pararam de falar comigo, pelo meu jeito. Eu não entendia o porquê (…) Eu tinha um mundo imaginário muito rico. Eu ficava apaixonada pelas coisas. Um prego tinha vida”, contou em entrevista ao ‘Fantástico’.
Sabatella afirmou que a identificação do autismo foi uma ‘sensação libertadora’, após todos os julgamentos que recebeu e as dificuldades que enfrentou ao longo da vida. Ela precisou aprender, na marra, a lidar com algumas situações desconfortáveis, como o contato físico.
“Tem horas que sigo a passar mal. Parece uma agressão. Gosto muito do toque, mas se alguém fica fazendo assim [alisando], dá vontade de pedir para parar”, continuou. Foi então que o diagnóstico, mesmo que tardio, veio como uma forma de alívio à artista. “Eu sei sobre mim, muito intuitivamente. Essa é o valor de um bom diagnóstico para margear o caminho. Uma pessoa que não se conhece fica mais suscetível a ser oprimida”, ela declarou.
Em entrevista à AnaMaria Digital, a psicóloga clínica Vanessa Gebrim explicou que o diagnóstico de autismo em adultos, mesmo que tardio, pode promover uma melhor compreensão de si mesmo, trazendo uma maior qualidade de vida. “Aliado à terapia, é fundamental para o autoconhecimento e desenvolvimento da independência. Quando falamos em adultos diagnosticados tardiamente, costuma haver um padrão: são pessoas que manifestam os sintomas de forma mais leve, tidas apenas como tímidas ou com dificuldades sociais típicas, geralmente são pessoas do nível 1 do transtorno”, explica.
A psicanalista Andréa Ladislau complementa: “A criança autista cresce e esse adulto continua sendo autista. Além disso, um adulto, quando não diagnosticado, pode desenvolver ansiedade e depressão, pois não entende os motivos de ser diferente das outras pessoas, já que muitos sintomas ficam camuflados e misturados aos desafios da vida adulta”.
POR QUE DIAGNÓSTICO JÁ FOI TÃO DIFÍCIL?
De acordo com Vanessa, pela falta de preparação dos profissionais de saúde: “Muito está associado à capacitação dos profissionais. Certamente, houve aumento do ensino do autismo nas faculdades, nas formações dos estudantes, dos profissionais de saúde. Então, hoje se tem um conhecimento muito maior e mais pessoas tem sido diagnosticadas, mesmo que tardiamente”.
“E existe um aumento de publicações, pesquisas, livros e cursos, o acesso à internet. Isso tem trazido muito mais informação aos profissionais e a família. Isso faz com que o acesso ao serviço venha acontecendo com uma maior frequência”, ressalta.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS MAIS COMUNS DE TEA EM ADULTOS?
- Dificuldade de interação ou manutenção de amizades mais íntimas;
- Desconforto durante o contato visual;
- Dificuldade no gerenciamento das emoções;
- Hiper foco em um assunto específico;
- Falar repetidamente sobre um determinado tema;
- Hipersensibilidade a cheiros, sons e texturas que parecem não incomodar aos outros;
- Piadas, sarcasmo ou expressões de duplo sentido não são compreendidas;
- Interesse limitado em atividades;
- Preferência por atividades solitárias;
- Falta de compreensão e reação diante da emoção do outro;
- Expressões faciais e linguagem corporal não compreendidas; entre outros.