A crescente dependência de celulares na sociedade trouxe uma série de benefícios, desde a comunicação instantânea até o acesso a uma infinidade de informações. No entanto, essa conveniência vem com um custo. A saúde de nossas mãos, punhos e até mesmo nossa postura geral pode ser comprometida pelo uso excessivo e inadequado desses dispositivos móveis.
A ergonomia, que estuda a relação entre o ser humano e seu ambiente de trabalho, tem se voltado cada vez mais para os desafios apresentados pelo uso constante de celulares. A postura curvada ao olhar para a tela do celular, por exemplo, pode levar a problemas na coluna cervical, enquanto a digitação repetitiva e o uso contínuo do polegar podem resultar em condições como tendinite e síndrome do túnel do carpo, além da rizartrose.
O ortopedista cirurgião de mão e punho, Leonardo Kurebayashi, alerta sobre os riscos associados ao uso inadequado de dispositivos móveis. Ele afirma que o movimento de pinça, comum ao segurar o celular, pode intensificar a carga na articulação da base do polegar de forma significativa.
“O movimento pode aumentar a carga na articulação da base do polegar em até doze vezes. Se a pessoa segurar o celular com força máxima, a carga pode chegar até vinte vezes. Isso aumentará muito a chance de degeneração articular e rizartrose (artrose na base do polegar)”, explica.
Além disso, o médico destaca que o uso abusivo do celular, especialmente por mais de quatro horas ao longo do dia ou mais de uma hora de forma contínua, está associado a um aumento de queixas musculoesqueléticas, incluindo dor no polegar, punho, pescoço e ombros. “Essa dor pode ser latejante ou uma sensação de queimação, geralmente com piora após uso do polegar”, afirma o especialista.
QUANDO BUSCAR AJUDA?
Kurebayashi é enfático: “Se alguém usar o celular por um longo período durante o dia e sentir dor na base do polegar, é aconselhável consultar imediatamente um cirurgião especializado em mão.”
Para aqueles que estão preocupados com o impacto do uso de celulares em sua saúde, existem medidas preventivas. “Evitar o uso contínuo do celular, muitas horas ao longo do dia, evitar jogos que exigem muita força no polegar, realizar mais chamadas ou utilizar mais mensagens de voz ao invés de digitação, e utilizar o computador logado no aplicativo de mensagens para evitar o uso exclusivo do polegar”, são algumas das recomendações.
O especilista ressalta ainda que é essencial que os usuários adotem práticas mais saudáveis. Isso inclui fazer pausas regulares, ajustar a postura ao usar o dispositivo, e até mesmo considerar a adoção de tecnologias assistivas, como teclados e suportes ergonômicos.
ACIDENTES
Mas o uso excessivo de celulares não se limita apenas a lesões relacionadas à rizartrose. Um estudo conduzido por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Yale revelou que, entre 2011 e 2020, foram registrados 50.487 casos de acidentes envolvendo o uso de celular.
As quedas enquanto usavam o dispositivo foram a principal causa, afetando especialmente jovens entre 11 e 30 anos. As mulheres foram mais afetadas do que os homens, com uma proporção de 59,6% contra 40,4%.
“O estudo da Universidade de Yale lança luz sobre um problema crescente em nossa sociedade conectada. As quedas predominam, especialmente entre os jovens. Mas, além dos números, vejo diariamente as consequências físicas desse uso excessivo. Dor, degeneração articular e rizartrose são apenas algumas das condições que estão se tornando mais comuns”, diz o médico.