Na busca pela escolha da instituição de ensino ideal para seus filhos, os pais se deparam com um mar de opções, metodologias e filosofias educacionais. E, com tantas opções, dúvidas pairam sobre nossas mentes: afinal, qual é o melhor para nossos pequenos? E por que é tão difícil para os pais escolherem uma escola para seus filhos? Atualmente, existem muitas opções de escolas, com diferentes visões e métodos. O mais comum é as famílias não terem um conhecimento detalhado de Pedagogia, ou estarem bem apropriadas sobre esta área e suas particularidades. Isso pode dificultar o entendimento daquilo que é apresentado por uma escola.
“Muitas vezes são oferecidas para as famílias soluções mágicas e mercadologicamente “na moda”, que não necessariamente terão impacto na aprendizagem real de seus filhos e filhas. O ideal é pesquisar sobre essas metodologias, visitar as escolas, procurar acompanhar a maneira como essas crianças se desenvolvem na instituição, buscando alinhamento com seus valores pessoais e familiares”, explica a pedagoga Fábia Apolinário, diretora de Avaliação e Objetivos das Escolas Lumiar.
Para Fernanda King, pedagoga com pós-graduação em Desenvolvimento Infantil e diretora e fundadora da Petit Kids, isso também acontece porque é difícil saber em quem podemos confiar hoje em dia. “Em meio à tanta notícia ruim, tanta informação que temos acesso, fica complicado saber a quem podemos delegar uma parte tão importante da vida dos nossos pequenos. Por isso é bom conversar com outras famílias, ouvir a opinião de especialistas e se manter muito ativo e presente na vida das crianças. Para que mesmo que elas passem por alguma dificuldade na escola, sentem-se apoiadas por quem elas mais amam”, pontua.
Além de buscar orientações de outras mães que já trilharam esse caminho, saber o que pensam especialistas em educação pode ser a bússola necessária para tomar essa importante decisão. Por isso, na matéria de hoje, vamos fazer um bate-bola com pedagogos para ajudar nessa busca. Além disso, fizemos uma seleção de materiais e dicas para economizar nesse início de ano letivo, que é sempre com muitos gastos.
AJUDA PROFISSIONAL
Diante de tantas opções pedagógicas, é natural que pais e responsáveis fiquem divididos sobre a escolha correta. Mas vamos tentar clarear um pouco essas questões. Abaixo, pedagogos falam um pouco mais sobre os diferentes métodos de ensino e o que as escolas podem oferecer para nossos pequenos em diferentes cenários
PRINCIPAIS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS: QUAIS SÃO OS FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS QUE VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES PARA FACILITAR O APRENDIZADO DOS ESTUDANTES?
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Gosto bastante de três teóricos: Maria Montessori, Emmi Pikler e Donald Winnicott. Basicamente, eles defendem a exploração contínua, a curiosidade e a autonomia. É possível a aplicabilidade disso com crianças mais velhas e adolescentes, mas é na primeira infância que fica mais perceptível e evidente esse incentivo. Dar espaço para que a criança faça suas próprias escolhas e descobertas. Dar tempo para que ela faça as coisas que já sabe (e que consegue) por conta própria (sempre com supervisão), mas sem ajuda direta ou interferência externa. Envolver a criança em atividades que proporcionem vivências ativas, experiências com intenção, novas descobertas e interações através do brincar (a ludicidade), da arte (materiais não estrurados) e da literatura (o lendário e o imaginário).
Fernanda King, pedagoga com pós graduação em desenvolvimento infantil e diretora e fundadora da Petit Kids – Encontrar estratégias pedagógicas que facilitem o processo de ensino-aprendizagem nos dias de hoje não é tarefa fácil. O desafio maior é “prender” a atenção desses estudantes, já que eles vivem conectados com o mundo virtual, e isso reduz muito o tempo de concentração da criança, infelizmente. Utilizar metodologias ativas de ensino é o que tem se mostrado mais eficiente, onde o aluno é protagonista e usa muito do seu próprio conhecimento, da sua bagagem e do seu raciocínio lógico para solucionar as situações-problema que são colocadas pelos educadores. Isso certamente amplia a curiosidade e a capacidade de foco dos educandos.
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – A combinação e adaptação de diversas abordagens podem variar de acordo com o contexto socioeducativo, a faixa etária dos alunos e as expectativas de aprendizagem de cada ciclo. Na educação contemporânea, há uma tendência a colocar o aluno como protagonista no processo de ensino e aprendizagem, considerando a fase de desenvolvimento, os interesses e habilidades. Assim como a integração adequada da tecnologia para proporcionar recursos diversificados para a aprendizagem, aumentando o engajamento e permitindo diferentes formas de acesso ao conhecimento. Os alunos aprendem fazendo, experimentando e resolvendo problemas reais, o que promove um aprendizado significativo e contextualizado.
Fábia Apolinário, pedagoga e diretora de avaliação e objetivos das Escolas Lumiar – Há um conjunto de práticas que, integradas, potencializam o aprendizado dos estudantes. Muitas delas são comumente discutidas hoje em dia, como a questão da aprendizagem ativa, por exemplo, que tem a intenção de que o(a) estudante seja corresponsável por seu processo de aprendizagem -não apenas “receba” conteúdos, conhecimento, de alguém que sabe, como o professor. A combinação da aprendizagem ativa, mais o levantamento de interesses significativo (levando em consideração o contexto do aluno, suas curiosidades, os desafios que querem enfrentar), proporciona um ambiente em que todos(as) possam se comprometer com o próprio desenvolvimento, aprendendo com vontade, propósito e prazer, mesmo quando consideramos os desafios e as dificuldades inerentes a qualquer situação educativa e pedagógica.
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define três grupos de competências gerais como fundamentos pedagógicos que permeiam e sustentam o aprendizado: competências pessoais/sociais, cognitivas, e comunicativas. Quando falamos em aprendizagem, precisamos falar e compreender de forma mais ampla. Além disso, embora não seja considerada uma abordagem pedagógica, a Tecnologia pode e deve estar presente no processo de aprendizagem, já que é a linguagem dos estudantes em diferentes idades. A Tecnologia não é inimiga se bem utilizada – pode ser considerada uma facilitadora da aprendizagem, fora todo o aspecto emocional. É, hoje, inclusive, uma obrigação dos professores aprenderem mais essa forma de ensinar e usar diferentes aplicativos e sites como aliados.
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – O conhecimento vivenciado do conteúdo, a educação integral como princípio; o Estudo de uma pedagogia que transcenda os muros escolares – a pedagogia decolonial – que levará em conta as três matrizes curriculares que compõe o Brasil (originária/indígena, africana e europeia). E não apenas os saberes escolarizantes, mas também os saberes de rua, os religiosos, os que se aprende em aulas extras, em lutas, na pracinha, nos terreiros, nas igrejas, no ballet, na capoeira, no jiu-jítsu, nas quadras e rodas de samba. Quando a educação consegue transpor os muros físicos das escolas, todos ganham. A Base Nacional Comum Curricular foi formulada como orientação à educação formal e escolar brasileira, categorizando um compilado de aprendizagens fundamentais e de direito a todos os alunos da Educação Básica. Sua construção foi amplamente discutida por mais de uma década e atualmente torna-se urgente compreender o documento para a sua implementação. A BNCC pode não ser perfeita, já que não existe uma fórmula de fazer educacional, mas explica os fundamentos pedagógicos e orienta a elaboração do currículo escolar, com “foco no desenvolvimento de competências” e “o compromisso com a educação integral”.
ADAPTAÇÃO DE MÉTODOS DE ENSINO: COMO VOCÊ IDENTIFICA E APLICA DIFERENTES MÉTODOS DE ENSINO PARA ATENDER ÀS NECESSIDADES INDIVIDUAIS DOS ALUNOS?
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – Identificar e aplicar diferentes métodos de ensino para atender às necessidades individuais dos alunos envolve um processo contínuo de avaliação, flexibilidade e adaptação por parte dos educadores. Para além dos métodos, é preciso observar as diferentes abordagens pedagógicas e suas fundamentações teóricas. As abordagens pedagógicas são princípios amplos e filosóficos que guiam a prática educativa. Elas englobam valores, teorias de aprendizagem e visões sobre o papel do educador e do aluno. As abordagens pedagógicas, como o construtivismo, behaviorismo, sociointeracionismo, entre outras, direcionam a maneira como o ensino é concebido, implementado e avaliado. Em termos gerais, podemos sugerir que se favoreça oportunidades para que os alunos aprendam uns com os outros.
A aprendizagem colaborativa ajuda a preencher lacunas de compreensão e oferecer apoio mútuo entre os estudantes. Para isso, o professor precisa entender as habilidades, estilos de aprendizagem, interesses e necessidades específicas de cada aluno. Isso pode ser feito por meio de observação, interação e avaliações diagnósticas. Quando conhecemos nossas crianças, somos capazes de adaptar os métodos de ensino para atender às necessidades individuais. Podemos oferecer materiais de aprendizagem diferenciados, fornecer suporte adicional para alunos com dificuldades específicas ou desafiar os alunos mais avançados com atividades mais complexas. A
diversificação de métodos de ensino, como aula expositiva, aprendizagem baseada em projetos, atividades práticas, debates, estudos de caso, entre outros, permite que os alunos experimentem diferentes abordagens de aprendizagem, facilitando a conexão com o conteúdo. Também é fundamental um olhar cuidadoso para avaliação contínua do progresso dos alunos com feedback para ajustar os métodos de ensino. Isso pode ser feito por meio de avaliações formativas, perguntas diretas aos alunos, observações em sala de aula e análise das produções. A reflexão constante sobre a prática pedagógica, observando o que está funcionando e o que pode ser melhorado, é essencial para a qualidade do ensino e aprendizagem de uma escola.
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Gosto de dizer que o principal vilão é também o principal amigo das crianças e dos jovens nas escolas hoje: As telas. As escolas precisam se modernizar com urgência. Está cada vez mais difícil competir com a velocidade das informações, sobretudo os celulares (tecnologia) à mão o tempo todo, repletos de informação, redes sociais, serviços de streaming…. É preciso agir com bastante sabedoria e cautela. É muito difícil envolver os estudantes sem o uso da tecnologia, mas é preciso saber usá-la com inteligência dentro das escolas. Há escolas onde a agenda escolar já é digital favorecendo esse contado mais assertivo com as famílias. Espaços escolares que já utilizam jogos online interdisciplinares, com quiz, testes e tarefas preparatórias ou avaliativas. O ensino remoto e o homescholling também são coisas que me chamam muito a atenção. Nada substitui o ambiente escolar e todo o contexto social e interativo que ele pode proporcionar. Claro, que a escola é além sala de aula. Todavia, a sala de aula é um dos órgãos vitais da educação. Existe um mundo pós pandemia que precisou ser repensado também nas escolas.
Fernanda King, pedagoga com pós graduação em desenvolvimento infantil e diretora e fundadora da Petit Kids – É necessário que a escola e os professores conheçam e dialoguem bem com várias dessas metodologias. Quando a escola não se restringe a um único método, é possível utilizar diferentes abordagens de acordo com a necessidade de cada turma e de cada criança. Nada impede que uma escola moderna utilize em alguns momentos atividades um pouco mais tradicionais, caso aquela turma precise em temas específicos. Se o educador perceber que em matemática, por exemplo, seus alunos estão precisando de um incentivo, ou que em língua portuguesa está “faltando” praticar a escrita, até mesmo exercícios de caligrafia podem ser usados de forma lúdica e pontual. Nada é “proibido”, desde que seja feito dentro de um contexto e com propósito definido. Conversas com a direção e com a coordenação podem ajudar bastante nessas decisões.
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – Hoje, sabemos que pessoas diferentes aprendem de forma distinta devido às suas aptidões e características individuais e, muitas vezes, devido à maneira como seu cérebro funciona. Essas informações são muito usadas na inclusão de alunos com necessidades especiais, mas deveríamos levar essas adaptações em consideração no trato com TODOS os estudantes. Um exemplo disso é a Escola da Ponte, que fica em Portugal, mas é referência no mundo todo. Por lá, as necessidades e o ritmo individuais são respeitados e acolhidos, tanto que nem se fala em inclusão, uma vez que essa conduta é natural para todos os alunos.
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – O primeiro passo é identificar como esse aluno aprende. Em uma sala de aula temos diferentes estilos de aprendizagem e cada estilo precisa ser respeitado e legitimado. É valorizando a maneira com que meu aluno aprende que eu consigo ouvi-lo e propor práticas que deem ênfase ao conteúdo que desejo/preciso ensinar ao mesmo tempo que fomento a curiosidade e o desejo por aprender. Não quero dizer aqui que a professora irá montar 30 planejamentos de aula diferentes, mas que seu planejamento precisa conter diferentes abordagens metodológicas para englobar sua turma.
Costumo dizer que houve uma época em que dávamos a uma criança uma folha com a foto de um gelo e de um copo de água e ela precisava sinalizar onde estava a água em seu estado sólido. Hoje entendemos que por mais que práticas assim continuem existindo, é na experiência que se dará a aprendizagem significativa. Então como abordar tal conteúdo? – as professoras me questionam. E eu respondo: toda escola tem uma geladeira, certo? Podemos utilizá-la para fazer gelo. Translúcido, colorido. Ao manusear esse material, em uma corrida do gelo, ou passando por utensílios que estão em nossas salas de aula, em nosso dia a dia, a criança vive a experiência do sólido. Experimenta sua passagem para a forma líquida. E assim a aprendizagem se deu. Em relação à adaptação, este é um assunto delicado e importante.
É grande o número de escolas que se negam a adaptar seus materiais (ainda que para alunos com transtornos de aprendizagem), porque o material didático é monetizado, logo inflexível. Dentro dessa teia que se cria acompanho o desespero de professoras e professores que admitem não ter um material didático eficiente. Para elas e eles eu digo: utilizem o material como um recurso a mais. Será onde seus alunos depositarão as conclusões de suas vivências, experiências e aprendizagens. Mas antes disso, adapte sua aula. Sua fala. Sua abordagem. Seu material complementar. Esse material, que cada um carrega em sua bagagem ou corre atrás para atender às necessidades individuais de cada aluno é o que fará a grande diferença em sua vida.
ÁREAS AO AR LIVRE E ATIVIDADES RECREATIVAS: INTEGRAÇÃO DE ESPAÇOS AO AR LIVRE: COMO VOCÊ VALORIZA A UTILIZAÇÃO DE AMBIENTES AO AR LIVRE NO PROCESSO EDUCACIONAL?
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – Integrar espaços ao ar livre no processo educacional não apenas diversifica o ambiente de aprendizagem, mas também oferece oportunidades importantes para o desenvolvimento integral dos alunos. Ao reconhecer e valorizar o potencial desses espaços, os educadores criam experiências de aprendizagens significativas que vão além das paredes da sala de aula. As crianças precisam do contato com a natureza. O contato frequente com a natureza permite que elas compreendam e apreciem a biodiversidade, desenvolvam empatia pelos animais e plantas, e compreendam a importância da preservação do meio ambiente.
A natureza oferece uma variedade de estímulos sensoriais, como texturas, cores, sons e cheiros, incentivando o desenvolvimento sensorial das crianças e estimulando a curiosidade, a observação e o pensamento criativo. Ambientes naturais envolvem desafios e situações imprevisíveis, que ajudam as crianças a desenvolverem resiliência, habilidades de resolução de problemas e cooperação com outros colegas. Oferecer às crianças a oportunidade de interagir e explorar a natureza desde cedo promove um estilo de vida saudável e contribui para um desenvolvimento mais completo, equilibrado e sustentável.
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Essencial. Essa é também uma questão de saúde física e mental. É recomendação dos pediatras inclusive, que as crianças tomem sol, que as crianças corram descalças e estejam expostas a todo tipo de material natural, terra, areia, água, vento, folhas, frutas in natura ou secas, animais… Essas vivências com a natureza são importantíssimas para imunidade deles. Além de engrandecer o repertório educacional, possibilitar esse contato com os materiais da natureza, as sensações: cheiros, texturas, temperaturas, sons… Atividade física (combate ao sedentarismo), subir em árvores, brincar exposto ao sol, pular troncos e galhos, catar pedrinhas, folhas… É um gasto de energia saudável e exploratório.
Fábia Apolinário, pedagoga e diretora de avaliação e objetivos das Escolas Lumiar – Acreditamos que os ambientes de aprendizagem podem ser diversos – as modalidades pedagógicas extrapolam a sala de aula, uma vez que os projetos têm diferentes temas. Nos espaços externos, há a possibilidade de fortalecer a convivência e, para além da escola, estudantes exploram espaços públicos da cidade onde vivem, como praças, parques etc, a depender da intencionalidade pedagógica de suas propostas.
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – Primeiro precisamos compreender sobretudo que todo ambiente é um ambiente de aprendizagem. Que os seres se formam no diálogo que se dá com o meio – entendam como meio tudo que faz parte de um ambiente escolar ou não. Tratando especificamente de um ambiente escolar, esse indivíduo aprende com o porteiro, ao passar pelo banheiro, em seus momentos no refeitório, a cada ida à biblioteca ou a uma atividade recreativa e até mesmo nas áreas livres. Quando compreendemos todo o ambiente como fundamental dentro do processo educacional, nos desprendemos de velhas práticas pedagógicas onde “criança que aprende é criança que está com o caderno e lápis na mão.” A importância dos diferentes espaços fora da sala de aula amplia as possibilidades do professor, abre os muros que se colocam entre a criança e a aprendizagem e ensina toda a comunidade.
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – Pensando nas diversas competências que precisamos desenvolver nos alunos e educá-los e formá-los integralmente, os espaços ao ar livre são fundamentais. Os homens são serem ligados à natureza, afinal, somos animais. E a observação da natureza tem muito a nos ensinar sobre ciclos, sobre desenvolvimento, sobre o desenvolvimento da atenção (concentração), sobre a resolução de problemas. Fato é que, não de hoje, as crianças sofrem as consequências da falta de espaços ao ar livre. Um exemplo disso é a coordenação motora. Para escrevermos, digitarmos, é preciso que um dia tenhamos subido em árvores, brincado no parque, termos corrido na rua. Em suma, o desenvolvimento se dá do amplo para o fino.
ATIVIDADES RECREATIVAS E DESENVOLVIMENTO: DE QUE FORMA AS ATIVIDADES RECREATIVAS PODEM CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS?
Fernanda King, pedagoga com pós graduação em desenvolvimento infantil e diretora e fundadora da Petit Kids – O desenvolvimento infantil acontece de maneira conjunta. Na primeira infância, falamos em desenvolvimento psicomotor, justamente porque as coisas estão todas interligadas. Aprender a andar, falar, comer, desfraldar… tudo vai acontecendo simultaneamente, numa velocidade que nunca mais teremos pelo resto da vida. Por isso essa fase é tão importante! E é brincando que a criança aprende mais. É comprovado cientificamente que a aquisição de conhecimentos e de habilidades para a vida é feita através das brincadeiras e das experiências de trocas nas relações humanas. Seja com os cuidadores de referência ou com pares (pessoas da mesma idade). A criança aprende por imitação e pelas experiências lúdicas. Daí a extrema importância da socialização e dos momentos de lazer em grupo.
Fábia Apolinário, pedagoga e diretora de avaliação e objetivos das Escolas Lumiar – As atividades recreativas desempenham um papel crucial no desenvolvimento integral dos estudantes, proporcionando benefícios físicos, cognitivos, emocionais e sociais. Essas experiências não apenas contribuem para habilidades específicas acima, mas também ajudam a moldar uma base sólida para uma vida equilibrada e saudável.
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – As atividades recreativas são fundamentais para o desenvolvimento pleno das crianças. Jogos e atividades recreativas envolvem movimento, desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio, força muscular e habilidades motoras fundamentais. Geralmente, as atividades recreativas são realizadas em grupo, promovendo interações sociais e o desenvolvimento de habilidades de colaboração, comunicação, trabalho em equipe e resolução de conflitos. Elas estimulam o raciocínio lógico, a resolução de problemas, a tomada de decisões e o pensamento estratégico, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo.
Proporcionam um espaço seguro para expressar emoções, lidar com a competição de forma saudável, gerenciar a frustração e desenvolver a autoconfiança. Estimulam a imaginação, incentivam a criação de novos cenários e soluções, além de promoverem a expressão criativa e o pensamento inovador. Ensinam, ainda, as crianças a gerenciar seu tempo de forma equilibrada, entendendo a importância do lazer e da diversão para o bem-estar geral. Finalmente, mas não menos importante, atividades recreativas, geralmente, permitem que os alunos assumam papéis de liderança, tomem decisões independentes e aprendam a lidar com regras e responsabilidade pessoal.
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Sou pedagoga oficineira e gosto de dizer que tem um público muito fiel que ama as oficinas. Essas atividades são uma forma de colocar o aluno como protagonista do aprendizado. Seja numa marcenaria, numa atividade com argila, na musicalização… O aluno na oficina vai colocar a mão na massa, vai experienciar e vai dar vazão ao que aprendeu, materializando ali algo. Uma peça, uma pintura, uma maquete, uma conversa… Pode ser a reflexão sobre uma leitura, uma música… Arte terapia e até um circuito conduzido para movimento físico.
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – É engraçado ouvirmos pais, principalmente de alunos da educação infantil, dizerem que, “não há problema de os filhos faltarem à escola, já que eles só vão lá (ambiente escolar) para brincar”. Mal sabem os pais que o brincar é a base para todo o desenvolvimento do ser humano. É na brincadeira que se desenvolve a atenção, a observação, a crítica, a coordenação motora, o raciocínio lógico, o planejamento, bem como a flexibilidade cognitiva. As competências sociais também se desenvolvem durante os momentos de recreação em grupo. Cito algumas delas: dividir brinquedos, esperar a vez, ouvir o outro, a obediência pela troca de turno, o desenvolvimento da linguagem, a imitação, o respeito pelo outro, e a inteligência emocional.
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – Brincadeira é coisa séria. Faz-se necessário entendermos que quando abordamos o desenvolvimento, sobretudo infantil, estamos falando não só de desenvolvimento cognitivo, de processos de ensino e aprendizagem, mas de desenvolvimento físico e desenvolvimento social. Assim, quando trazemos as atividades recreativas e suas contribuições para o desenvolvimento dos alunos, trazemos também sua extrema importância, pois são essas atividades (muitas vezes julgadas como não importantes ou pouco importantes) que são fundamentais para o desenvolvimento dos alunos, nos aspectos supracitados -físico, cognitivo e social.
São essas atividades que irão ajudar no processo de alfabetização, quando trazemos o método global, que integra o conjunto dos métodos analíticos que se orientam no sentido do todo para as partes. O método global tem por princípio a compreensão de que o aluno percebe as coisas e a linguagem em seu aspecto global e não em partes pequenas. O método defende que a leitura é uma atividade de interpretação de ideias e que a análise de partes deve ser um processo posterior. Logo possibilita a brincadeira, o contar histórias e o recriar narrativas sem a intenção de alfabetizar (quando são muito pequenos), criando um ambiente alfabetizador. Logo, através das atividades recreativas, contribuímos com a evolução de habilidades motoras, melhorando a comunicação e interação entre as crianças, desenvolvemos habilidades emocionais e sociais fundamentais para o indivíduo em sociedade (o famoso saber ganhar e saber perder), trabalhamos a frustração e as diversas sensações que as brincadeiras proporcionam e por aí vai.
EVENTOS E FESTAS ESCOLARES: IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS: QUAL A RELEVÂNCIA DOS EVENTOS ESCOLARES NA CRIAÇÃO DE UM AMBIENTE EDUCATIVO FAVORÁVEL?
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – Realizar eventos significativos envolve planejamento cuidadoso e foco nos objetivos educacionais, além de considerar a participação ativa da comunidade escolar. É importante definir estratégias para garantir que os eventos não se tornem apenas festas vazias, mas, sim, momentos educativos e impactantes. Ao definir objetivos claros, alinhados com missão e valores da escola, é possível envolver a comunidade escolar, a partir de uma temática relevante que esteja relacionada com o currículo ou com questões atuais e significativas para os alunos. É fundamental que o evento celebre a diversidade cultural, étnica e de habilidades, favorecendo a compreensão mútua, respeito e inclusão dentro da comunidade escolar. Após o evento, devemos realizar a sua avaliação em relação aos objetivos estabelecidos, a partir de uma reflexão coletiva para garantir que os eventos escolares se tornem não apenas momentos de celebração, mas também oportunidades de aprendizado significativo, conexão comunitária e desenvolvimento de habilidades para a vida.
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Esse é um ponto ao qual a família precisa se atentar. Acho muito interessante que a Prefeitura de São Paulo universalizou o calendário letivo retirando as festas de cunho religioso ou temáticas afetivas referidas, como páscoa, festa junina, dia dos pais, dia das mães, dia das bruxas, natal… Nenhuma temática religiosa é trabalhada, assim como as festas que se referem aos responsáveis se tornou o dia da família para não ciar constrangimentos, no caso de crianças que não tenham algum dos dois (pai e/ou mãe), ou no caso de crianças que sejam criadas pelos avós ou por casais homossexuais. Importante que o calendário seja plural, trabalhe festejos populares de forma cultural, bem macro, algo simbólico, amplo e histórico, agregadora à todos os povos, contextos da ancestralidade, povos originários, religiões afro. A parceria escola e família é imbatível. Uma família presente na escola, não só nas festas, faz toda a diferença no desempenho escolar.
Fernanda King, pedagoga com pós graduação em desenvolvimento infantil e diretora e fundadora da Petit Kids – Da mesma maneira, a realização de eventos e festas escolares irá promover maior participação da família, mais entrosamento da turma, possibilitará a convivência da comunidade escolar em um momento de informalidade, onde todos podem descontrair e criar laços mais profundos e duradouros de amizade. É importante que as famílias observem o comportamento das crianças durante esses eventos. Se a criança for muito introspectiva, não socializar, ou caso haja qualquer dúvida, é bom marcar uma reunião para conversar a respeito, por exemplo.
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – Os eventos escolares, assim como os momentos de recreação, ajudam a desenvolver competências pessoais e sociais, além das cognitivas. Os eventos escolares também aproximam os pais e a escola, sendo essa uma relação fundamental para o aprendizado e o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – A escola, se não é, precisa ser uma continuidade de sua comunidade. A escola precisa estar para a comunidade como um hospital está para a sociedade. Para servir, agregar e construir um ambiente favorável não só para quem está dentro, mas para todos que estão ao redor. Não à toa, o famoso e temido PPP (Projeto Político Pedagógico) de uma escola, precisa ser construído não de dentro para fora, mas em um movimento inter e multi pedagógico. Quantas famílias que estão nos lendo neste momento, podem dizer que tiveram acesso ao PPP da escola de seus filhos?
O Projeto Político Pedagógico de uma escola, em linguagem clara, é um documento que precisa estar à frente da escola, disponível para famílias, comunidade e quem mais quiser lê-lo. Nele estarão as diretrizes da escola, os valores que a norteiam, suas ações frente à comunidade escolar, seu compromisso pedagógico e social. Também é neste documento que deve estar contido os eventos e as festas escolares e a importância dessas datas não apenas para o calendário escolar, mas para a participação das famílias, da comunidade, da sociedade de um modo geral. Eventos que precisam passar mensagens que abordem os valores que precisamos discutir como cidadãos, onde escola-família-aluno-sociedade estejam todos em um mesmo propósito: o de tornar esse ambiente mais próximo, acolhedor, diverso e humano.
CONTRIBUIÇÃO PARA A COMUNIDADE: DE QUE MANEIRA OS EVENTOS E FESTAS ESCOLARES FORTALECEM A CONEXÃO ENTRE ALUNOS, PAIS E EDUCADORES?
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – Os eventos e festas escolares desempenham um papel fundamental na construção de conexões sólidas entre alunos, pais e educadores. No entanto, a maneira como essa conexão é fortalecida pode variar dependendo do contexto regional e cultural, além das abordagens educacionais adotadas pela escola. Eventos e festas escolares proporcionam oportunidades para a comunidade escolar se reunir, compartilhar experiências e interagir de maneira informal, fortalecendo os laços sociais entre alunos, pais e educadores, promovendo um senso de comunidade e pertencimento.
Em algumas regiões, os eventos escolares podem refletir e celebrar aspectos culturais específicos da comunidade, integrando tradições locais ou questões culturais regionais, ações que fortalecem a identidade e o orgulho da comunidade. Escolas com diferentes abordagens pedagógicas podem enfatizar aspectos específicos nos eventos escolares. Por exemplo, uma escola com foco em aprendizagem baseada em projetos pode organizar eventos que destaquem as realizações dos alunos em projetos específicos. Uma escola centrada em resultados pode priorizar eventos mais formais, como competições acadêmicas. O ideal é diversificar os eventos para enriquecer a proposta pedagógica.
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – Os eventos escolares trazem os pais para dentro das escolas, para participarem em conjunto com os professores do desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, bem como para conectar pais com outros pais, formando uma verdadeira rede de suporte – principalmente, para os alunos que têm algum tipo de necessidade especial. Além disso, quando os alunos podem participar da organização das festas e dos eventos, eles têm a oportunidade de descobrir, não só no que são bons, mas, também, para que servem. Por exemplo: os estudantes podem fazer a divulgação, cuidar do planejamento do evento, cuidar das finanças, fazer a arte e colaborar na decoração. Enfim, são inúmeras as oportunidades de se descobrir e de exercitar a vocação.
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Enfatizo: A parceria escola e família é imbatível. Uma família presente na escola, não só nas festas, faz toda a diferença no desempenho escolar. Importante pontuar, que essas vivências não precisam se resumir às crianças ensaiarem uma coreografia e se apresentarem aos pais. Este modelo já é inclusive, visto como ultrapassado. É interessante criar atividades que envolvam toda a família num propósito afetivo, onde a família seja participante ativa e protagonize junto com o aluno. Podendo ser uma oficina, uma roda, uma contação de histórias. Uma dança, gincana ou brincadeira…
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – Acredito que começamos a falar dessa importância na pergunta anterior e podemos agora aprofundar a importância das culminâncias e festividades escolares pro estabelecimento de vínculo entre família e escola e vou além – pro estabelecimento de vínculo e pertencimento com a própria comunidade onde a escola está inserida. Uma escola que direciona suas festas com inteligência e seriedade, as vincula a uma pedagogia de projetos que por sua vez serve não apenas aos alunos, mas os alunos retornam com curiosidades, achados e contribuições a respeito do tema em seus trabalhos, pesquisas, apresentações, etc. É nessa colcha produzida com retalhos preciosíssimos que está, ao meu ver, as festividades de uma escola.
Momento que oportuniza a explanação de todo o projeto político pedagógico, dessa vez encorpado, ganhando fôlego de vida e esperança através dos trabalhos acadêmicos de alunos e professores. Também durante essas comemorações são costurados vínculos entre família – escola – professor, o que é valioso demais por aí só. Mas é importante ressaltar aqui a importância e a urgência de uma agenda decolonial. Que olhe para as datas comemorativas do nosso calendário e dê a essas novo significado, trazendo outras narrativas e perspectivas de fazê-las. Vejo nas famílias de educação infantil, principalmente, uma preocupação exarcebada com datas comerciais e em como essas serão “trabalhadas”. Exemplo disso é a Páscoa, o antigo “dia do índio” é por aí vai. Educar pra a cidadania e consciência e não só para a repetição de padrões já na educação infantil é tarefa, muitas vezes, difícil, mas necessária.
CUIDADOS COM A INCLUSÃO: ABORDAGEM À INCLUSÃO: COMO VOCÊ ENXERGA A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA DINÂMICA EDUCATIVA?
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – A inclusão de alunos com necessidades especiais é fundamental para promover um ambiente educativo diversificado e enriquecedor. Para além do aspecto humano, há o componente legal. A Lei nº 13.146/2015, conhecida como Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), reforça a inclusão dessas pessoas em todos os aspectos da vida social, incluindo a educação. Ela estabelece que é direito da pessoa com deficiência ter acesso à educação inclusiva, em todos os níveis e modalidades de ensino, assegurando um sistema educacional inclusivo, tanto nas escolas públicas quanto nas privadas. Além disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/1996, também reforça a necessidade da inclusão escolar, garantindo o atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. A inclusão cria oportunidades para os alunos com desenvolvimento típico e atípico aprenderem juntos.
Os alunos sem necessidades especiais podem desenvolver habilidades de empatia, solidariedade e colaboração, enquanto os alunos com necessidades especiais têm a chance de se desenvolverem social, emocional e academicamente em um ambiente inclusivo. A inclusão reconhece e valoriza a individualidade de cada aluno, promovendo a compreensão de que cada pessoa tem habilidades, interesses e necessidades únicas. A presença de alunos com necessidades especiais enriquece a diversidade no ambiente escolar por meio de oportunidades para todos os alunos aprenderem com as diferenças e desenvolverem empatia, respeito e compreensão.
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Se buscar uma escola razoável já uma tarefa extremamente complicada para os responsáveis de crianças típicas… As crianças atípicas entram num patamar acima de complexidade. Inclusão é algo fundamental e muitíssimo necessário. Porém não é só sobre incluir. Toda escola deveria por direito e dever aceitar a matrícula de uma criança atípica, mas somente esse passo não a torna uma escola de realidade integralmente boa e inclusiva. A inclusão anda junto com a acessibilidade, a diversidade e o preparo de qualificação multidisciplinar de toda a equipe escolar. No combate às práticas capacitistas. Para as crianças e os jovens essas trocas são importantíssimas, aprender a conviver com as diferenças, o respeito mutuo, o acolhimento, o sentimento de representatividade e de pertencimento, sentir-se incluído. O reconhecimento do trabalho em equipe. Sobre amizade. É sobre o exercício de ser empático, ter disponibilidade tanto para oferecer quanto para aceitar ajuda.
Fernanda King, pedagoga com pós graduação em desenvolvimento infantil e diretora e fundadora da Petit Kids – A inclusão escolar é de extrema importância para que possamos ter uma sociedade mais justa e livre de preconceitos. Quando a criança cresce em um ambiente diverso e que preconiza o respeito acima de tudo, certamente ela será um adulto empático e respeitoso. Se crescemos em um ambiente de segregação e exclusão, não temos como encarar com naturalidade as diferenças. É muito difícil desconstruir o que está enraizado em nossas mentes. Por isso hoje, com a educação inclusiva, estamos trabalhando por um mundo muito melhor no futuro. As crianças de hoje serão adultos muito mais justos e menos preconceituosos, pois desde cedo conviveram com a diversidade de forma natural.
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – A inclusão, ao contrário do que muitos pensam, não é benéfica apenas para os alunos que têm necessidades especiais. Ela alcança todos os estudantes. Além de desenvolver as diversas competências descritas acima, a inclusão ajuda a desenvolver o respeito às diversidades, a tolerância ao diferentes e, principalmente, a descobrir dons que não seriam descobertos de outras maneiras.
Fábia Apolinário, pedagoga e diretora de avaliação e objetivos das Escolas Lumiar – Estudantes com necessidades específicas fazem parte da nossa comunidade escolar. Na visão da metodologia, cada estudante é único e cada uma das suas características são respeitadas e enriquecem as experiências de aprendizagem. Um dos papel dos(as) educadores(as), especificamente tutores(as), é personalizar a trajetória de cada estudante de seu grupo, adaptando seus interesses e necessidades.
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – Costumo dizer que quando pensamos em uma educação inclusiva a partir dos sujeitos neurodivergentes, a chance de acertarmos cresce exponencialmente. Ao contrário, quando partimos do pressuposto que uma aula precisa ser preparada para um público neurotípico, a chance de errarmos é que cresce exponencialmente. A didática de sala de aula precisa, seja de conteúdo expositivo, experiências e vivências precisam levar em consideração todas as necessidades de uma sala de aula e seus indivíduos. É para isso que o primeiro ponto de um planejamento de aula precisa ser a flexibilidade.
E na prática, como funciona? Respondemos: pensemos em um cenário onde a professora programou em seu planejamento uma música com diferentes batidas para aquele dia e um aluno com TEA (transtorno do espectro autista) não está com seu abafador de som (alguns casos de TEA sentem-se mais confortáveis cm o uso do abafador). Está em um dia conturbado e não há meios de fazê-lo sentir-se bem com aquela música planejada. O que fazer? Retirar o aluno da sala ou repensar a estratégia, o recurso? Em minhas andanças observo muitas crianças sendo retiradas de sala de aula, dando voltas pelos corredores e até mesmo sendo impedidas de participar de alguma atividade “preparada para turma” – entre aspas porque me questiono se tais abordagens foram pensadas para esse meu aluno com TEA ou quaisquer outros transtornos que o impossibilite de vivenciar situações que todos os outros poderão vivenciar e, com elas, aprender.
Trago uma experiência recente: Um aluno que além do TEA, possui algumas outras condições. O chamarei de Lucas. Tudo parecia meio sem graça para o Lucas em sala de aula. Os sorrisos não eram constantes, as reclamações eram diárias e eu tinha um desafio: tornar aquele espaço de aprendizagem um local agradável e confortável. Onde Lucas se sentisse pertencente, acolhido e capaz. Foi quando resolvemos que todas as aulas contemplariam bandeiras. Como, alguém perguntou? Apenas por um aluno? Podem ter pensado. Sim. Cada um é importante. Não é isso que falamos ao efetuarmos a matricula-se apenas um? Não enchemos seus olhos de esperança? Lucas possuía hiperfoco em bandeiras e os conteúdos foram adaptados para que Lucas quisesse participar das aulas com brilho nos olhos. E conseguimos. Lucas, inclusive, deu aula sobre bandeiras para sua turma de educação infantil, com crianças de 5 anos de idade em média. Isso é uma educação inclusiva. Uma educação destinada a chegar para todos de forma especial e encorajadora.
APOIO AOS ALUNOS: QUAL É O PAPEL DOS PROFESSORES E DA ADMINISTRAÇÃO NA CRIAÇÃO DE UM AMBIENTE INCLUSIVO PARA TODOS OS ALUNOS?
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – É fundamental que os professores recebam formação contínua e especializada em educação inclusiva, oferecendo-lhes ferramentas e estratégias para atender às necessidades variadas dos alunos. Isso inclui o entendimento de diferentes tipos de deficiência, adaptações curriculares, uso de tecnologia, manejo de comportamentos e estratégias para promover a interação entre os alunos. Professores, coordenadores e orientadores devem criar um ambiente escolar acolhedor, onde todos se sintam valorizados e respeitados. Isso inclui o uso de linguagem inclusiva, promoção do respeito à diversidade e estabelecimento de normas que desencorajem a discriminação e o bullying.
A equipe deve estar apta a adaptar o currículo para atender às necessidades individuais dos alunos com deficiência ou necessidades especiais, desde a modificação de atividades, o uso de recursos de apoio, avaliações diferenciadas e métodos de ensino variados. Devem estabelecer uma parceria próxima com os pais dos alunos com necessidades especiais, numa comunicação aberta, com compartilhamento de informações sobre o progresso do aluno e colaboração na definição de metas educacionais. Quando professores e administração estão engajados e bem preparados, é possível criar um ambiente escolar inclusivo que valoriza a diversidade, promove a equidade educacional e garante que todos os alunos tenham a oportunidade de alcançar seu potencial máximo.
Fernanda King, pedagoga com pós graduação em desenvolvimento infantil e diretora e fundadora da Petit Kids – O papel da escola é promover a inclusão real. Não apenas no papel. Além de “aceitar” o aluno com deficiência, a escola deverá estar preparada para recebê-lo e acolher crianças e família. Treinamento para a equipe e adaptação do projeto pedagógico para aquela criança (se necessário), são algumas das atitudes que a instituição deverá providenciar. Rodas de conversa com as crianças e com as famílias também podem ser interessantes para levar informação. Muitas vezes percebemos que o preconceito vem justamente da falta de conhecimento. Logo, temos que difundir informações importantes sobre a inclusão e sobre o respeito a todos.
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Papel fundamental. Exige muita capacitação. A escola precisa ser antes de tudo um ambiente plural e de inclusão. Precisa ser um espaço de acolhimento individual e coletivo. A escola precisa estar preparada com profissionais de diversas áreas, de pedagogos, educadores e psicólogos para coordenar um conselho escolar mais completo e ao mesmo tempo individualizado, avaliando caso a caso. Importante destacar também que a quantidade de alunos por sala e por professor também é um ponto a ser discutido.
Ponto esse que impacta na qualidade da condução da turma e nas demandas individuais dos alunos. Escolas que admitem crianças atípicas e que necessitam de acompanhamento mais cuidadoso, personalizado e próximo precisam ter atenção. É necessário um respaldo nas salas de aula. Com ledoras (quando necessário), TOs (Terapeutas Ocupacionais), inspetores de alunos ativos e auxiliares de sala preparadas para ajudar neste acompanhamento.
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – Os professores são exemplos para os alunos. Durante muito tempo da vida deles, os educadores são as figuras mais importantes. A vida de muitas pessoas que conhecemos foi completamente modificada por meio da figura e do olhar de um professor. Mas temos exemplos positivos e exemplos negativos, também. O educador é uma das pessoas que tem a maior oportunidade de conhecer a fundo seus alunos, pois convive muito tempo da semana com eles. O professor acaba sendo a figura de referência de muitos estudantes. A reação do educador, a forma como ele lida, a maneira como ele observa, assim como o que ele traz para a sala de aula faz toda a diferença. Contudo, sozinho, o educador consegue fazer as coisas até um determinado limite. Se não estiver alinhado com a administração da escola, as coisas podem ir por água abaixo.
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – Vejo a criação e consolidação de um ambiente inclusivo e que atenda as demandas dos alunos como um dos maiores desafios da atualidade. São diversos os problemas e as necessidades dos alunos e famílias buscando por escolas que deem esse suporte emocional, para além do pedagógico. Enxergo como um enorme desafio político e social o preparo de uma administração escolar consciente da necessidade de mudanças essenciais para que a construção de uma educação inclusiva não fique apenas no projeto de papel e funcione na prática. Pois são os gestores escolares os responsáveis por assegurar a acessibilidade aos alunos que têm necessidades educacionais especiais, eliminando entraves arquitetônicos, possibilitando a criação de materiais adaptados e ampliando as formas de comunicação. Uma gestão que seja capaz de dialogar e não apenas ordenar, é uma gestão que consegue unir professores, família, cortejavam em um mesmo propósito: a educação integral do aluno. Quando esse tripé não consegue construir pontes saudáveis dentro dos muros escolares, dificilmente irá transpor esse muro para construir um ambiente inclusivo.
SUSTENTABILIDADE NA ESCOLA: INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS: QUAIS PRÁTICAS ACREDITA SEREM IMPORTANTES PARA PROMOVER A SUSTENTABILIDADE NA EDUCAÇÃO?
Fábia Apolinário, pedagoga e diretora de avaliação e objetivos das Escolas Lumiar – Sustentabilidade precisa estar presente no currículo, não somente de forma burocrática. Precisa aparecer nos projetos, comissões e diferentes modalidades pedagógicas, além da cultura escolar como um todo. Promover a sustentabilidade na educação é essencial para conscientizar estudantes, educadores(as) e toda comunidade sobre a importância de cuidar do meio ambiente e adotar práticas mais sustentáveis em suas vidas.
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – Devemos integrar práticas sustentáveis no cotidiano escolar, assim os alunos não apenas aprendem sobre sustentabilidade de maneira prática e tangível, mas também desenvolvem habilidades e valores que os capacitam a serem cidadãos conscientes e responsáveis em relação ao ambiente. O primeiro passo é refletir sobre o papel de cada um para a saúde do planeta. Pensar em ações práticas do cotidiano e da vivência das crianças. Geralmente, elas pensam em manter limpos rios, mares e florestas. Tudo isso é importante, mas devemos convidar a reflexão para o cuidado com o ambiente escolar, desde a geração e o destino do lixo, o uso do som num determinado volume, o uso de descartáveis, o cuidado com as áreas verdes. Daí partir para observação e atitudes referentes aos bairros, a rua, o condomínio, a casa.
A educação ambiental deve agir de forma transversal no currículo, abordando questões como conservação ambiental, reciclagem, energia renovável, preservação da biodiversidade e impacto humano no ambiente. Podemos promover práticas de conservação da água, como consertos de vazamentos, uso consciente da água, instalação de dispositivos economizadores e educação sobre a importância da preservação dos recursos hídricos. Outra ideia importante é a adoção de práticas para reduzir o consumo de energia na escola, como o uso de iluminação LED, sensores de movimento, desligamento de aparelhos elétricos não utilizados e a conscientização sobre o uso responsável da energia.
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – Medidas simples podem ser usadas nas escolas para incentivar a sustentabilidade. Vamos a algumas delas: uso de materiais ecológicos; horta; composteira; alimentação sustentável com o reaproveitamento de alimentos; reaproveitamento de materiais; campanhas (eventos escolares) envolvendo pais e familiares dos alunos; e reciclagem de lixo (zero desperdício).
Fernanda King, pedagoga com pós graduação em desenvolvimento infantil e diretora e fundadora da Petit Kids – Desde a primeira infância podemos ensinar sobre sustentabilidade na escola. Coleta seletiva, utilização de materiais recicláveis para a realização de atividades, cultivo de horta orgânica, bazar de uniformes e livros usados, boa utilização da água e redução de desperdícios em geral cabem a qualquer faixa etária da educação.
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – Antes de entrarmos nesse assunto que pode ser um tanto polêmico, precisamos compreender que a educação é a base para qualquer desenvolvimento. Com o meio ambiente não seria diferente. Como educadora, posso propor diversas práticas de como abordar o desenvolvimento sustentável em sala de aula, que vão do trabalho com os 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), abordar temas atuais pouco falados, falar sobre uma economia sustentável, colocar a reciclagem e a diminuição do uso do papel como objetivo pedagógico, lixo eletrônico, descarte e contaminação do solo, criação de hortas e canteiros comunitários e por aí vai. Nossa cisma deve estar em mediar uma educação onde alunos, através da conscientização para o exercício da cidadania, que sejam capazes e estejam munidos de estratégias que os façam perceber como algumas empresas e indústrias atuam na degradação do meio ambiente.
Contudo, a consciência sustentável precisa ser institucional para que consigamos contaminar de forma positiva as cabeças de nossos alunos. Para que não passemos de hipócritas seguindo o ditado “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”. Porque é inegável a existência de uma má fé institucional que se dedica à sustentabilidade desde que essa não ameace seus interesses econômicos. É dessa forma que escolas lucram com seus materiais didáticos em detrimento do compartilhamento de materiais, por exemplo. Então, antes de tudo se faz necessário repensar o tipo de educação que queremos e a que estamos promovendo em nosso chão.
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Quando falamos em sustentabilidade a primeira coisa nos vem a cabeça é meio ambiente. É sobre isso também! Mas um ambiente sustentável é um local que se sustenta a longo prazo. Hoje, é muito importante falarmos também sobre como estão sendo construídas as nossas relações, dos laços afetivos e da preocupação com a saúde mental, principalmente dos adolescentes. A escola pode e deve intervir. Importante colocar os alunos em contato com trabalho social, com diversas realidades do bairro e da cidade, em projetos específicos de arrecadação, sejam de doação de sangue, de donativos… Que envolvam visitar periferia, creches, asilos, hospitais. Campanhas para conscientizar sobre economia e desperdício (de água, energia, alimentos).
IMPACTO NAS CRIANÇAS: COMO ESSAS INICIATIVAS PODEM INFLUENCIAR NO APRENDIZADO E NA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL DOS ESTUDANTES?
Luciana Garcia, psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga especialista em clínica multidisciplinar focada no desenvolvimento infanto-juvenil – Seremos, hoje, as consequências da falta de cuidado que já tivemos com o Meio Ambiente e, na minha opinião, a única coisa capaz de mudar o mundo é a Educação. A Educação forma as pessoas. Então, devemos usá-la para ensinar fundamentos que sejam essenciais para a vida prática das crianças (sem substituir a família). As escolas deveriam, também, se preocupar com a Educação Financeira, a Educação Emocional e com a Educação Ambiental (que envolvem, também, os autocuidados), porque tudo isso tem aplicação prática e prediz o nosso futuro pessoal e enquanto comunidade. Crianças pequenas e adolescentes estão neurologicamente mais vulneráveis a qualquer tipo de aprendizado. Desta forma, precisamos aproveitar essas fases da vida e ensinar o que está além das disciplinas escolares – ensinar, de fato, o que pode trazer grandes transformações para a vida e o futuro.
Tatiana Fuly Avenas, psicopedagoga com ênfase em educação inclusiva, pedagoga com especialização em educação infantil, autora do livro “Que história você quer contar? – caminhos para uma educação decolonial” e uma das autoras do livro “Terrtorios silenciados” – Quando promovemos a consciência ambiental e desenvolvimento sustentável, construímos o pensamento crítico e elevamos o aluno como agente responsável por seus atos, tendo maior respeito em relação à natureza. Esse tipo de educação fará com que os alunos, gradativamente, durante todo o processo e relação com a aprendizagem, perceba até onde são atores principais ou meros coadjuvantes dentro da máquina sistêmica que acaba por moer a natureza e triturar toda e qualquer ideia sustentável que atravesse seus interesses econômicos.
Ariane Rosa, pedagoga, especialista em neurociência aplicada à educação, gestora ambiental, consultora e curadora pedagógica do Infância em Prosa, consultora de espaços não escolares e coordenadora pedagógica do Terra Cria – Quintal e Coworking Familiar – Se forem feitos colocando o jovem ou a criança no protagonismo, 100%. Ter o conselho mirim, por exemplo, onde as crianças (alunos) possam ser ouvidas. A noção, senso de comunidade começa na escola. A escola é um ambiente político, onde as primeiras opções, decisões do ser humano (como cidadão) começam a ser feitas. Entendimento de processo democrático. Derrotas. Frustrações. Dificuldades. Reconhecimento de gostos, afinidades, gosto por gestão e liderança e habilidades.
Fernanda King, pedagoga com pós graduação em desenvolvimento infantil e diretora e fundadora da Petit Kids – Assim como na questão da inclusão, a consciência ambiental também se trata de uma semente que plantamos na infância e que dará bons frutos na vida adulta. Tudo que aprendemos quando somos crianças é absorvido de maneira natural e irá atuar nas nossas decisões por toda a vida. Daí a grande responsabilidade de quem trabalha com educação. Somos co-responsáveis pelo futuro do planeta!
Virginia Lucas, pedagoga com especializações em psicopedagogia, gestão e psicomotricidade e diretora do Colégio Anchieta Aquarius de Salvador – Ao integrar essas práticas no cotidiano escolar, os alunos não apenas aprendem sobre sustentabilidade de maneira prática e tangível, mas também desenvolvem habilidades e valores que os capacitam a serem cidadãos conscientes e responsáveis em relação ao ambiente.
Em tempo: a escolha da escola muitas vezes é complexa e difícil para os pais, pois é o primeiro recorte humano e social que o filho será inserido. Muitas questões devem ser avaliadas na escolha da escola. Proximidade com a residência e facilidade no transporte e deslocamento. Custo da mensalidade. Segurança. Quais os princípios que a escola defende. Se amistosa com a pluralidade de religiões, raças e etnias. De quais classes sociais são os funcionários e os alunos que frequentam a escola. Quem são essas pessoas? Posicionamento político. “Se é uma escola que preza pelos valores de construção coletiva, senso de comunidade e protagonismo familiar. Quem serão os colegas de sala do seu filho? Como são as instalações da escola, parque, refeitório, espaços abertos, banheiros… E por último, mas não menos importante como é a diretoria, a gestão pedagógica e como é a periodicidade da comunicação escola-família”, conclui Ariane Rosa.