À primeira vista, pode parecer apenas um detalhe em uma foto ou um brilho diferente no olhar do bebê. Em muitos casos, é assim que o retinoblastoma começa a se manifestar, de forma silenciosa, ainda nos primeiros meses de vida. Trata-se de um câncer raro da retina, mas com potencial de cura elevado quando identificado precocemente.
Histórias de adultos que enfrentaram a doença na infância mostram como o diagnóstico no tempo certo faz diferença não apenas na sobrevivência, mas também na qualidade de vida ao longo dos anos.
Quando o sinal aparece cedo, o desfecho pode ser outro
A educadora e consultora de pais Franciane Wazen tinha apenas um ano e meio quando precisou passar pela retirada de um dos globos oculares devido a um retinoblastoma. Na época, a informação era escassa e os recursos médicos eram mais limitados. Ainda assim, a atenção dos pais ao notar um reflexo esbranquiçado em seu olho foi decisiva.
Ela cresceu, construiu carreira, formou família e hoje vive uma rotina plena. “Foi um câncer invasivo. Mas os avanços da medicina mostram que hoje não há motivo para temer, nem para desistir de ter filhos por medo da hereditariedade”, relata.
A trajetória de Franciane se cruza com a da analista de RH Betânia Watanabe, que também enfrentou o retinoblastoma ainda criança. No caso dela, a doença já havia atingido o nervo óptico e causado descolamento da retina, exigindo cirurgia, sessões de radioterapia e quimioterapia.
Anos depois, Betânia realizou acompanhamento genético antes de engravidar e descobriu que o filho não herdou a condição. “Mesmo quando a criança tem retinoblastoma, se for diagnosticado cedo, hoje existem tratamentos menos invasivos e desfechos mais tranquilos”, conta.
O que é o retinoblastoma
O retinoblastoma é um tumor maligno que se desenvolve na retina, camada interna do olho responsável por captar as imagens. Ele se origina de células nervosas ainda na fase embrionária e costuma aparecer antes dos três anos de idade, podendo estar presente já ao nascimento.
Embora seja considerado raro, o retinoblastoma é uma das principais causas de câncer ocular na infância. Sem tratamento, pode comprometer a visão, atingir outras estruturas do corpo e colocar a vida da criança em risco.
Sinais que merecem atenção
Os primeiros sintomas nem sempre são evidentes. Em muitos casos, não há dor ou queixa visual clara, o que dificulta a identificação pelos pais.
“O retinoblastoma pode se manifestar como uma visão baixa desde cedo ou um brilho diferente no olhar da criança. Ele dá um aspecto conhecido como ‘olho de gato’, quando em fotos com flash aparece um reflexo branco no lugar do reflexo vermelho normal”, explica Pérola Grupenmacher Iankilevich, oftalmologista pediátrica.
Outros sinais possíveis incluem desvio ocular, vermelhidão persistente e aumento do globo ocular, mas o reflexo branco é o achado mais conhecido.
Por que o diagnóstico precoce muda tudo
O momento do diagnóstico é determinante para o tratamento. Quando o tumor é identificado ainda restrito ao olho, as chances de cura são altas e a preservação da visão se torna mais viável.
“Quando o retinoblastoma é detectado cedo, há opções como quimioterapia, laser, radioterapia e, em alguns casos, cirurgia. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a possibilidade de evitar a propagação do tumor para outras partes do corpo”, ressalta Pérola.
Em situações mais avançadas, o câncer pode se estender para o sistema nervoso central, o que aumenta os riscos e torna o tratamento mais complexo.
Teste do olhinho deve ser feito e repetido
O exame mais importante para o rastreamento inicial é o teste do olhinho, realizado ainda na maternidade. Ele permite identificar alterações no reflexo ocular que podem indicar não apenas o retinoblastoma, mas também outras condições graves, como catarata congênita.
A recomendação é que o exame seja repetido ao longo da infância, aos três e seis meses de vida e, depois, anualmente. A repetição é fundamental porque nem todas as alterações estão presentes logo ao nascimento.
Hereditariedade exige acompanhamento contínuo
Em parte dos casos, o retinoblastoma tem origem genética. Por isso, filhos de pessoas que já tiveram a doença precisam de acompanhamento oftalmológico e, em alguns casos, avaliação genética.
“Hoje temos adultos que trataram o retinoblastoma na infância, tornaram-se pais e têm filhos perfeitamente saudáveis. Isso mostra como o acompanhamento adequado faz diferença”, afirma Pérola.
Com informação, vigilância e acesso ao diagnóstico precoce, o retinoblastoma deixa de ser uma sentença e passa a ser uma condição tratável, com perspectivas cada vez mais positivas.
Resumo:
O retinoblastoma é um câncer raro da retina que surge na primeira infância e pode ser identificado por sinais como o reflexo branco no olho. O diagnóstico precoce, por meio do teste do olhinho e de exames oftalmológicos regulares, aumenta significativamente as chances de cura e preservação da visão. O acompanhamento genético também é essencial em famílias com histórico da doença.
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