Com o fim do ano cada vez mais próximo, as agendas estão tomadas por encontros informais, eventos empresariais, festas corporativas e celebrações de fim de ano. Esses momentos costumam fortalecer vínculos, celebrar conquistas e encerrar ciclos. No entanto, também pedem cuidado extra para que o clima descontraído não abra espaço para situações constrangedoras, condutas abusivas ou episódios de assédio no ambiente de trabalho.
Segundo Alessandra Costa, psicóloga e sócia da S2 Consultoria, o fim do ano cria um cenário especialmente sensível. A especialista liderou a pesquisa “Triângulo do Assédio”, que mapeia os fatores que alimentam comportamentos inadequados em eventos empresariais. “O clima festivo e, muitas vezes, o consumo de álcool impactam diretamente nos fatores de risco”, explica.
Por isso, embora as confraternizações tragam leveza, elas não suspendem regras básicas de respeito. Pelo contrário: exigem clareza, comunicação e uma postura ativa das empresas para garantir um ambiente corporativo seguro para todas as pessoas.
Festas corporativas e os três fatores que favorecem excessos
De acordo com a pesquisa da S2 Consultoria, três vetores sustentam episódios de importunação e comportamentos de risco em festas corporativas: escassez emocional, abuso de poder e racionalização. Juntos, eles formam o Triângulo do Assédio.
O primeiro fator, a escassez emocional, surge da busca por validação, reconhecimento e pertencimento. Em encontros mais informais, essa carência pode se intensificar. Conversas amigáveis passam a ser interpretadas como convites, elogios soam como permissões e a ausência de consentimento claro abre espaço para atitudes impróprias. “O problema começa quando a carência vira invasão”, alerta Alessandra.
O segundo vetor é o abuso de poder, especialmente delicado em festas corporativas que envolvem hierarquias. Quando gestores usam sua posição para pressionar, insistir ou constranger, mesmo de forma sutil, criam situações difíceis de recusar. Convites insistentes, “favores” velados e abordagens intimidatórias desequilibram as relações profissionais e aumentam o risco de assédio.
Já a racionalização funciona como o motor das desculpas. Frases como “foi só uma brincadeira”, “todo mundo estava bebendo” ou “ela parecia estar gostando” aparecem com frequência após episódios problemáticos em eventos empresariais. Esse tipo de justificativa normaliza excessos e enfraquece a cultura organizacional baseada no respeito.
Celebrações de fim de ano: como prevenir antes, durante e depois
Para reduzir riscos nas celebrações de fim de ano, Alessandra Costa recomenda um checklist simples e eficaz. Antes do evento, as empresas precisam comunicar de forma clara o que é consentimento e reforçar que insistência não é flerte. Além disso, treinar líderes para atuarem como agentes de prevenção faz toda a diferença.

“Nomear pessoas-âncora para acolher e orientar caso surja algum desconforto, escolher espaços que evitem áreas isoladas e tratar o álcool como fator de risco são ações fundamentais”, orienta a psicóloga. Garantir água, comida e evitar dinâmicas que incentivem o consumo excessivo ajudam a manter o controle do ambiente.
Durante as celebrações de fim de ano, mensagens objetivas logo na abertura do evento reforçam limites. Frases como “gentileza não é convite” e “consentimento não se presume” alinham expectativas. Intervenções rápidas, discretas e firmes, especialmente quando envolvem pessoas em posição de poder, evitam que situações se agravem.
Depois do evento, caso algo ocorra, o acolhimento precisa ser imediato. “É imprescindível ouvir as pessoas envolvidas nas primeiras 24 a 48 horas, conduzir uma apuração consistente e dar retorno claro para evitar a sensação de impunidade”, destaca Alessandra. Segundo ela, a prevenção não existe para blindar empresas, mas para proteger pessoas. “O objetivo é garantir que uma celebração não se transforme em risco”, finaliza.
Resumo: Com confraternizações já em andamento, eventos empresariais, festas corporativas e celebrações de fim de ano exigem atenção redobrada. Entender os fatores que favorecem o assédio ajuda empresas a agir de forma preventiva. Comunicação clara, liderança preparada e acolhimento garantem encontros mais seguros e respeitosos.
Leia também:
Quando o pai participa, todos ganham: o impacto da nova licença-paternidade








