A forma como casais constroem vínculos afetivos passou por mudanças importantes nas últimas décadas. Antes, muitas mulheres viviam sob normas rígidas sobre como “devem” agir dentro do casamento ou do namoro. Hoje, porém, elas se sentem mais livres para falar sobre desejos, frustrações e escolhas, o que, inevitavelmente, altera o comportamento nas relações.
Além disso, plataformas digitais, jornadas profissionais mais intensas e expectativas diferentes sobre parceria influenciam como as pessoas se conectam. Consequentemente, essas transformações ajudam a explicar por que mais mulheres admitem quando se envolvem em um episódio de traição no relacionamento, algo que antes permanecia invisível por medo de julgamento.
O avanço da infidelidade feminina nas novas gerações
De acordo com a psiquiatra Carmita Abdo, da Faculdade de Medicina da USP, o aumento da infidelidade feminina tem forte relação com um fenômeno geracional. Pesquisas anteriores já mostravam que mulheres mais jovens conduzem a vida afetiva com mais autonomia, e isso se consolidou ao longo dos últimos 20 anos.
Segundo o levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), cerca de 3 mil adultos responderam ao estudo, e o novo recorte revelou um salto importante entre elas. Enquanto a infidelidade masculina caiu de 65–70% para 41,5%, a feminina subiu para 28,6%.
Assim, o que antes parecia distante — uma aproximação entre os índices de homens e mulheres — agora aparece como uma tendência.
Por que cresce a admissão da traição no relacionamento?
Mesmo com respostas anônimas, muitos especialistas acreditam que o medo do julgamento diminuiu entre as mulheres. Durante décadas, quando se discutia traição no relacionamento, elas carregavam a culpa, o estigma social e uma cobrança moral maior que a dos homens. Hoje, contudo, as reações sociais mudaram.
Além disso, mulheres passaram a discutir temas como sexualidade, frustração emocional e limites das relações com mais abertura. Dessa forma, fica mais fácil admitir comportamentos antes silenciados — o que, inclusive, impacta nos números da pesquisa.
Ainda assim, como lembra a especialista ouvida pelo Gshow, os homens continuam sendo a maior parcela de infiéis, com 41,5%, mas o crescimento feminino indica mudanças reais nas vivências afetivas.
Monogamia, desejo e a contradição das escolhas
Embora a infidelidade feminina esteja em alta, o estudo mostra que a monogamia ainda prevalece: 69% dos entrevistados tiveram apenas um parceiro no último ano. Ao mesmo tempo, metade dos participantes revelou já ter sido traída ao menos uma vez.
Essa contradição pode parecer estranha, no entanto, faz parte da estrutura social que valoriza a família como símbolo de estabilidade e realização. Para muitas pessoas, a vida familiar continua sendo o centro da organização emocional, financeira e social — mesmo quando convivem com desejos e frustrações paralelas.
O ponto mais impactante da pesquisa é que 56% dos entrevistados consideram o sexo essencial para manter a harmonia do casal, mas apenas 5,3% acreditam que ele é um pilar de qualidade de vida. Esse contraste ajuda a entender por que tantas pessoas mantêm a estrutura da família mesmo diante de episódios de traição no relacionamento.
Resumo: A infidelidade feminina aumentou principalmente por mudanças geracionais e pela redução do julgamento social. As mulheres falam mais abertamente sobre suas vivências, o que aparece nos números. Embora a monogamia siga predominante, dados sobre prioridade emocional e sexual revelam novas dinâmicas. No fim, o estudo mostra que, mesmo diante da transformação das relações, a família ainda se mantém como principal referência afetiva no Brasil.
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