Nem toda violência deixa marcas visíveis. Recentes desdobramentos do caso envolvendo Dado Dolabella e Marcela Tomaszewski, coroada Miss Gramado 2025, evidenciam que o abuso também pode estar nas palavras e na manipulação emocional. O caso ganhou repercussão nas redes sociais após a divulgação de prints e vídeos que mostravam hematomas, além de áudios em que a modelo relatava sentir medo do ator.
Apesar de ambos negarem agressões, algumas provas expuseram a gravidade do episódio. O que fazer nesses casos? Identificar os sinais de um relacionamento abusivo e potencialmente violento é fundamental para a proteção e o resgate da autonomia da vítima. Pensando nisso, conversamos com especialistas no tema, que explicaram como agir ao notar esse comportamento.
Como identificar a coação emocional
O abuso psicológico é sutil e difícil de perceber. Isso porque, muitas vezes, ele acontece misturado com momentos de afeto. Esse comportamento, conhecido como “gaslighting”, faz a vítima duvidar da própria percepção da realidade e normalizar o controle emocional do agressor.
“A coação emocional vem em frases sutis com intenção de manipular, humilhar ou enfraquecer emocionalmente a pessoa. Pode envolver chantagem, ameaças veladas ou tentativa de isolar socialmente, desqualificando sentimentos e percepções”, explica Renata Roma, psicoterapeuta e pesquisadora na University of Saskatchewan. A especialista reforça que a percepção de que algo não está certo é o primeiro passo para buscar ajuda.
Sinais
- Críticas constantes sobre aparência, comportamento ou decisões;
- Chantagem emocional e ameaças veladas;
- Isolamento social, afastando a vítima de amigos e familiares;
- Gaslighting: o agressor faz a vítima duvidar da própria memória ou percepção da realidade;
- Alternância entre afeto e humilhação, criando confusão emocional.
O que fazer? Conheça o passo a passo legal
Em primeiro lugar, é importante destacar que a lei protege vítimas de coação emocional e abuso psicológico, mesmo que não haja agressão física. “A Lei Maria da Penha reconhece a violência psicológica, que inclui condutas que causam dano emocional ou visam controlar ações, crenças e decisões da vítima. É possível solicitar medidas protetivas de urgência, como afastamento do agressor, proibição de contato, restrição de aproximação física ou virtual, e sigilo de informações pessoais”, detalha Rebeca Schiavo, sócia da SN Advogados Associados e membro da Comissão da Mulher Advogada.
Por isso, se perceber qualquer sinal de alerta, documente as interações que provam abuso psicológico. Mensagens, áudios, e-mails, prints ou publicações em redes sociais têm validade jurídica quando obtidas de forma lícita. A ata notarial, lavrada em cartório, é uma forma segura de comprovar a autenticidade do material. Em casos de risco grave, o Ministério Público pode instaurar ação penal mesmo sem representação da vítima.

Estratégias de proteção
O impacto da coação emocional é profundo e pode durar meses ou anos, afetando a autoestima, a confiança e a saúde mental. Renata ressalta que os efeitos podem incluir ansiedade, depressão, culpa, vergonha e sintomas de trauma. Pessoas que passam por abuso psicológico podem se sentir responsáveis por situações que não causaram e ter dificuldade de confiar nos outros mesmo após o término do relacionamento.
Para se proteger, é essencial reconhecer e nomear o abuso, buscar apoio de amigos, familiares e profissionais especializados e fortalecer uma rede de apoio que ofereça acolhimento, não julgamento. Distanciar-se do olhar público, especialmente em casos expostos nas redes sociais, ajuda a reduzir a revitimização e protege a saúde emocional.
Algumas estratégias importantes incluem:
- Nomear o que aconteceu e validar os próprios sentimentos;
- Buscar terapia e acompanhamento psicológico;
- Fortalecer redes de apoio confiáveis;
- Documentar episódios de abuso;
- Evitar interações que possam revitimizar.
O primeiro passo para romper o ciclo de abuso é reconhecer a gravidade da violência emocional. Agir cedo, combinando proteção legal, suporte psicológico e rede de apoio sólida, evita que as palavras deixem marcas invisíveis que perduram por anos.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1495, de 14 de novembro de 2025). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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