A história do empreendedorismo feminino no Brasil não começou em ambientes de inovação nem em cursos de gestão, mas em cozinhas improvisadas, quintais e decisões tomadas em meio à necessidade.
No início do século XX, empreender era uma possibilidade remota para a maioria das mulheres. A legislação impedia que elas registrassem empresas, o crédito não existia para quem não fosse homem e a educação, restrita, limitava a autonomia econômica. Era nesse cenário que apenas algumas mulheres ousavam romper barreiras.
Entre elas estava Izabel Barretto, viúva e mãe de três filhos, que fundou a Mococa em 1919 produzindo manteiga com apenas duas vacas. A formalização do negócio veio mais tarde, com o apoio do filho, já que a lei não permitia que ela assinasse documentos comerciais. Sua trajetória, impulsionada pela necessidade, acabou se tornando um marco para a autonomia econômica feminina em um país que ainda engatinhava nesse tema.

O que mudou – e o que ainda falta mudar?
Um século depois, o avanço legal é indiscutível. Normas como o Estatuto da Mulher Casada, em 1962, e o Código Civil de 2002 abriram espaço para que mulheres pudessem empreender sem autorização masculina. Porém, transformar direitos em oportunidades reais ainda é um caminho em construção. Dados do Sebrae (2024) indicam que mais de 10 milhões de mulheres já comandam negócios no país, e elas representam mais da metade das pessoas com intenção de empreender até 2026.
Apesar disso, obstáculos persistem. As empreendedoras ganham, em média, 24,4% menos que homens. O recorte racial aprofunda essa diferença: mulheres negras recebem quase 50% menos que mulheres brancas e mais de 60% menos que homens brancos. Além disso, grande parte ainda enfrenta dupla jornada, dividindo tarefas domésticas com a gestão da empresa.
Nesse contexto, histórias como a de Izabel – e de tantas outras – ajudam a iluminar os desafios e a força das mulheres que decidem criar um negócio próprio. E é com esse olhar que Michelle Oliveira, gerente de Marketing da Mococa, reúne orientações para quem deseja empreender.
Como empreender nos dias atuais?
Pesquisa, escuta e validação
Antes de abrir qualquer negócio, o primeiro passo é compreender o mercado. Isso inclui identificar o público, conhecer concorrentes e entender se existe demanda real. Segundo Michelle, esse movimento inicial evita gastos desnecessários e ajuda na previsão financeira.
Conversas informais com pessoas próximas, enquetes simples no WhatsApp ou no Instagram e ferramentas como Google Forms ajudam a avaliar se a ideia tem potencial. Além disso, buscar referências em conteúdos gratuitos, como perfis especializados ou cursos online, auxilia na tomada de decisão.
Valor além do produto
Vender não basta. Criar conexão é o que sustenta a marca a longo prazo. Produzir conteúdo relevante, fazer lives, apresentar o processo produtivo e investir em atendimento atencioso fortalecem a experiência do consumidor. Degustações, amostras e recompensas também são caminhos eficientes para estimular o retorno do cliente.
Personalização como diferencial
Em muitos negócios, especialmente confeitaria, a personalização é um recurso poderoso. Embalagens, cores, detalhes artesanais e sugestões de combinações de produtos fazem a cliente se sentir vista. Isso aumenta o valor percebido e reforça a fidelização.
Inteligência emocional no centro das decisões
Liderar um negócio envolve pressão constante. Michelle destaca que entender suas próprias emoções ajuda a tomar decisões mais estratégicas. Reservar momentos para reflexão, praticar respiração consciente e buscar apoio profissional quando necessário são movimentos que sustentam a saúde mental da empreendedora, especialmente quando ela concilia trabalho, família e rotina doméstica.
Persistência e rede de apoio
Os desafios fazem parte da jornada. Ter clareza sobre o propósito, aprender com erros, ajustar rotas e acompanhar tendências mantém o negócio vivo. Construir uma rede com outras empreendedoras também fortalece o caminho, criando trocas e apoio emocional. Michelle resume o espírito: obstáculos existem, mas cada um deles carrega uma oportunidade de aprendizado.
Resumo:
A trajetória feminina no empreendedorismo revela um passado marcado por limitações e um presente de avanços ainda desiguais. A história da fundadora da Mococa mostra que coragem e necessidade muitas vezes caminham juntas. Hoje, com mais mulheres liderando negócios, dicas práticas como escuta ativa do mercado, criação de valor, personalização, inteligência emocional e persistência ajudam a construir resultados consistentes.
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