A comunicação é essencial, mas quando se trata da Libras existe uma lacuna histórica. Segundo a World Federation of the Deaf, com apoio de levantamentos da Unicef, menos de 2 por cento das crianças surdas no mundo têm acesso à língua de sinais na primeira infância. Mesmo com milhões de brasileiros que usam Libras, ainda faltam métodos e formação para desenvolver expressão, narrativa e presença. Diante desse cenário, Giovanni Begossi, especialista em comunicação, uniu-se a um dos maiores nomes da língua de sinais no país, Manolo Torres, para desenvolver um treinamento dedicado à comunidade surda.
Begossi diz que a ideia surgiu ao notar que a oratória, tão presente entre ouvintes, quase não existia na Libras. Ele explica que o objetivo é traduzir princípios da oratória para uma língua visual.
“A expressão facial é o tom de voz deles, a postura é a entonação e a narrativa organiza tudo isso.”
Segundo ele, o treinamento será guiado pelos três C’s que estruturam a comunicação eficaz: clareza, confiança e convencimento.
“Clareza é organizar a mensagem sem vícios, confiança é transmitir segurança na expressão e no olhar e convencimento é saber usar o corpo, contar histórias e criar conexão real.”, afirma.
A peça central da parceria é Manolo Torres. Ele aprendeu Libras ainda criança, gabaritou exames de proficiência aos 18 anos e, desde então, construiu uma trajetória que passa pelaUFSC, pelo cinema nacional, por startups de educação e por milhões de visualizações produzindo conteúdo para surdos.
A parceria nasce do encontro entre a técnica da oratória e a profundidade da Libras. Giovanni e Manolo anunciaram que estão desenvolvendo um treinamento que irá trabalhar expressão facial, postura, ritmo dos sinais, narrativa e presença. A metodologia visual de Manolo já está sendo integrada à visão de Begossi sobre presença cênica e intencionalidade na comunicação.
O projeto também quer ampliar o debate sobre inclusão. Begossi afirma que o país reconheceu a Libras, mas ainda não garantiu qualidade de vida à comunidade surda.
“Inclusão é permitir que eles se comuniquem com força, clareza e autonomia. É dar as ferramentas que nós ouvintes sempre tivemos.”, diz.
Os dois acreditam que fortalecer a expressão em Libras é abrir caminho para que mais surdos se posicionem no trabalho, na educação e na vida com a força que sempre tiveram, mas nunca puderam mostrar.








