Não é raro que uma criança que antes comia de tudo de repente passe a recusar alimentos, fazer birra na hora da refeição ou exigir apenas um tipo específico de preparo. Para muitas famílias, essa mudança gera insegurança e medo de que algo esteja errado. Mas, de acordo com a nutricionista materno-infantil Renata Riciati, esse comportamento é muito mais comum – e muito menos alarmante – do que parece.
Renata lembra que esse cenário costuma surgir entre 18 meses e 3 anos, fase que ela chama de “mini-adolescência”. É o momento em que o bebê começa a se perceber como indivíduo e aumenta a necessidade de independência, algo que se reflete tanto no comportamento quanto na alimentação.
Por que a criança reduz o apetite nessa fase
Com a desaceleração natural do crescimento após o primeiro ano de vida, a fome também diminui. Renata explica que isso é esperado e não indica, por si só, um problema. “É um momento em que a criança deixa de ser bebê e começa a afirmar sua independência a qualquer custo. Isso aparece no comportamento, na rotina e na alimentação”, diz.
Ao mesmo tempo, a criança passa a perceber mais estímulos ao redor, cores, sons, texturas, o que torna a hora da refeição um desafio de atenção. A seletividade aparece como parte desse processo, junto da busca por controle sobre o próprio corpo e rotina.
Quando os adultos pioram a recusa sem perceber
Renata destaca que muitos comportamentos comuns entre os adultos, mesmo com boa intenção, podem reforçar o problema. Comentários negativos, promessas, chantagens, desespero à mesa e comparações com outras crianças criam tensão e transformam a refeição em um momento de disputa.
“Nossos filhos prestam muito mais atenção ao que falamos do que imaginamos. Repetir frases como ‘ele não come nada’ ou ‘não sei mais o que fazer’ acaba reforçando exatamente o que queremos evitar”, afirma a nutricionista.
Outro equívoco frequente é avaliar o prato da criança com base no de outras da mesma idade. “Cada criança tem uma necessidade energética diferente. Depois de um ano, o crescimento fica mais estável e é natural que a fome diminua. Se as curvas de crescimento estão normais, não há motivo para pânico”, ensina Renata.

Forçar a comer ou substituir refeições por ultraprocessados também prolonga o problema. “É muito melhor que ela coma uma pequena quantidade de comida saudável do que muito de algo sem valor nutricional. Se cairmos na tentação das guloseimas, depois é muito difícil retomar o controle”, alerta.
Renata reforça que, na maioria das vezes, essa fase passa sozinha – e que os adultos podem atravessá-la com mais leveza. “Eu sempre digo: acalme-se. Ele vai sentir fome e vai voltar a comer. Prometo”.
Dicas práticas para quando a criança “para de comer”
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Mantenha a calma e evite entrar na disputa.
A afirmação de autonomia é normal nessa idade e não deve virar batalha à mesa. -
Continue oferecendo variedade.
Alterne texturas, temperaturas e formas de apresentação, mas sem pressão. -
Inclua a criança no processo.
Participar da montagem do prato ou mexer a receita aumenta a aceitação. -
Retire o prato sem críticas.
Evite frases negativas e não transforme a recusa em drama. -
Não force comer nem ofereça recompensas.
Pressão cria aversão e prêmios formam uma relação distorcida com a comida. -
Não compare com outras crianças.
Ritmos de crescimento e apetite variam muito. -
Busque avaliação profissional se houver queda na curva de crescimento.
Se o desenvolvimento estiver dentro do esperado, trata-se apenas de uma fase.
Resumo:
A recusa alimentar entre 18 meses e 3 anos costuma ser uma fase normal do desenvolvimento, marcada pela busca de autonomia e pela redução natural do apetite. Segundo a nutricionista Renata Riciati, atitudes como pressão, comparações e recompensas tendem a piorar o quadro. Com calma, variedade e respeito ao tempo da criança, a fase passa e a alimentação se reorganiza naturalmente.
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Lígia Menezes
Lígia Menezes (@ligiagmenezes) é jornalista, pós-graduada em marketing digital e SEO, casada e mãe de um menininho de 3 anos. Autora de livros infantis, adora viajar e comer. Em AnaMaria atua como editora e gestora. Escreve sobre maternidade, família, comportamento e tudo o que for relacionado!








