Um vídeo publicado nas redes sociais por Lucas Ferreira Mattos, médico com mais de 1,5 milhão de seguidores, gerou uma decisão inédita na Justiça Federal de Minas Gerais. Na gravação, ele afirmava que a mamografia poderia causar câncer de mama, alegando que o exame exporia as pacientes a níveis elevados de radiação. A fala viralizou rapidamente, acumulando dezenas de milhares de visualizações em diferentes plataformas, e acendeu o alerta entre profissionais de saúde e órgãos públicos.
A repercussão levou à abertura de uma ação civil pública, ajuizada em março pela Advocacia-Geral da União (AGU) em conjunto com o Ministério da Saúde e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. O objetivo era impedir a circulação de desinformação que pudesse prejudicar mulheres e influenciar negativamente o acesso ao diagnóstico precoce do câncer de mama.
Decisão da Justiça
A decisão liminar determinou que o médico removesse todas as publicações relacionadas ao tema e ficasse proibido de produzir novos conteúdos que associassem o exame a qualquer risco de desenvolvimento da doença.
Segundo o juiz responsável, as alegações apresentadas por Lucas não têm respaldo científico e podem induzir mulheres a abandonar o rastreamento, mesmo quando indicado pelo profissional de saúde.
No vídeo, o médico dizia que “uma mamografia gera uma radiação para mama equivalente a 200 raios-x, isso aumenta a incidência de câncer de mama por excesso de mamografia”. A Justiça avaliou que esse tipo de afirmação contraria pesquisas consolidadas e tem potencial de causar danos concretos ao influenciar decisões de saúde.
A ação foi conduzida pela Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia, unidade da AGU que atua em casos de desinformação com impacto coletivo. Em nota, a procuradora-geral da União, Clarice Calixto, comentou a decisão afirmando que “estamos celebrando muito esta vitória da nossa AGU, porque é um marco na defesa da vida das mulheres. A advocacia pública acredita que é nosso dever proteger a saúde, enfrentando a desinformação sobre o câncer de mama”.
Por que a mamografia é essencial no rastreamento do câncer?
A mamografia é um dos principais exames para detectar precocemente o câncer de mama, permitindo identificar alterações antes mesmo dos sintomas surgirem. Quando o tumor é descoberto no início, as chances de tratamento eficaz aumentam significativamente.
O Ministério da Saúde recomenda que mulheres entre 50 e 74 anos façam o exame a cada dois anos como forma de rastreamento. Em casos de sinais ou sintomas suspeitos, a mamografia pode ser indicada para qualquer idade. Entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Mastologia, também orientam que o exame seja considerado a partir dos 40 anos, em decisão compartilhada entre paciente e profissional.
No Sistema Único de Saúde, o rastreamento pode ser solicitado mediante avaliação individual, especialmente quando existem fatores de risco ou histórico familiar.

O caso reforça um desafio que vem ganhando espaço nos últimos anos: a rápida disseminação de conteúdos sem comprovação científica nas redes sociais. No contexto da saúde, esse tipo de informação pode levar pacientes a abandonar exames essenciais, adiar diagnósticos e comprometer tratamentos.
A iniciativa da AGU faz parte do projeto Saúde com Ciência, que busca combater a desinformação e fortalecer a comunicação baseada em evidências. A orientação central é que dúvidas relacionadas à saúde sejam sempre discutidas com profissionais de confiança e que decisões sobre exames ou tratamentos nunca se baseiem apenas em conteúdos publicados on-line.
Resumo:
A Justiça condenou o médico Lucas Ferreira Mattos por divulgar informações falsas sobre mamografia. A decisão determina a remoção do conteúdo e impede novas publicações do tipo. A mamografia continua sendo um exame seguro e essencial para o diagnóstico precoce do câncer de mama, e órgãos públicos reforçam a importância de combater a desinformação para proteger a saúde das mulheres.
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